Costumam dizer que o Campeonato Brasileiro de futebol é uma das competições mais difíceis do mundo.
Como costumam dizer, o Campeonato Brasileiro de futebol é uma das competições mais difíceis do mundo. Ao contrário das ligas europeias, nas quais apenas dois ou três times de fato disputam a vitória, em território nacional sempre há pelo menos cinco candidatos viáveis, além de duas ou três possíveis zebras. Além disso, o Brasil é um país enorme, que exige longos deslocamentos, o que reduz o tempo de treinamento e recuperação dos atletas, um fator que é ainda piorado pelo excesso de jogos que os principais times devem cumprir.
Por isso, quando é hora da bola rolar, os clubes não sobem ao gramado. Eles entram em uma selva.
E em 2022 não será diferente. Com apenas algumas rodadas disputadas, já é possível perceber que essa edição do Brasileirão será uma das mais competitivas dos últimos anos. Os times favoritos terão muito trabalho para superar os menos badalados, mas, ainda assim, bem arrumados. E, mais importante, sedentos para provar o seu valor. Apesar de Flamengo, Atlético Mineiro e Palmeiras aparecerem como as grandes apostas no Brasileirão Série A nas principais casas de apostas, ao final da quinta rodada, nenhum deles estavam entre os primeiros colocados. No G4 figuravam Corinthians, Santos, Avaí e América de Minas.
Evidentemente em um recorte tão pequeno pode haver distorções e, ao longo da temporada, os favoritos reajam. Mas vale lembrar que em 2017 o Corinthians não era favorito, assumiu a ponta cedo e, enquanto todos diziam que iria cair, ele permaneceu na frente e conquistou o título. Em um campeonato longo, um time que embala é difícil de ser alcançado.
Nosso representante regional, o Cuiabá, tem frequentado o meio da tabela e é cedo para dizer se irá brigar em cima, tentando mais uma vaga para um torneio continental, ou embaixo, contentando-se em permanecer na elite do futebol. Curiosamente, os melhores resultados no início da competição foram como visitante. A Arena Pantanal não tem sido uma vantagem como deveria.
Entre as armadilhas que a selva do Brasileirão apresenta, as arenas estão entre as mais perigosas. Há uma grande disparidade entre os diversos campos de jogo. Alguns gramados são de ótima qualidade e dimensões generosas, enquanto outros sofrem com buracos e grama mal conservada. Dois estádios – a Arena na Baixada e o Allianz Parque – utilizam grama sintética, que é completamente diferente da natural em termos de velocidade e quique da bola. A iluminação também difere enormemente entre os estádios, e em alguns mais acanhados, com antigas torres de iluminação, isso pode ser um desafio extra em jogos noturnos.
Há também um debate sobre a venda de mandos de campo. Em princípio, os clubes deveriam sempre mandar seus jogos em suas sedes, contra os 19 adversários. Mas, por vezes, a isonomia é quebrada, seja por necessidade ou por interesse financeiro. É perfeitamente aceitável transferir partidas de copas para campos distantes – as próprias Arena de Manaus e Arena Pantanal recebem esses duelos eventualmente. Mas quando um time pequeno transfere seu jogo contra o grande favorito para um estádio maior (e geralmente melhor), cria-se um desequilíbrio na competição, já que os adversários do postulante ao título jogam sob circunstâncias mais desvantajosas.
E a selva do Brasileirão tem os seus perigos. Especialmente para os técnicos. Pela cultura de resultados que predomina no país, um clube que esteja em dificuldades sofre uma enorme pressão da torcida, tal como um abraço de uma sucuri adulta. Para escaparem ilesos, os dirigentes costumam sacrificar o treinador que, após fugir da sucuri, busca abrigo em outra equipe onde um jacaré estará sempre à espreita.
Mas o ponto onde a comparação com a selva faz mais sentido é, sem dúvida, na resiliência. Ninguém atravessa a floresta, ou ganha o Brasileirão, sem resistir a inúmeros desafios. Qualquer um que já se aventurou no mato sabe que por lá não se anda em linha reta – há que se buscar o melhor caminho em meio aos obstáculos. E o mais importante: é uma jornada que se faz em grupo. Se cada um for para um lado, ninguém chegará a lugar algum.