A pandemia influenciou o preço do açaí no Brasil, afirma Conab

Conab aponta queda do valor pago ao produtor enquanto empresários relatam aumento de até 75%

A pandemia de coronavírus provocou impactos na oferta e no preço do açaí no país. É o que aponta levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). A safra do fruto nativo da região Norte é distinta na Amazônia Ocidental e Oriental e nos estados onde a colheita coincidiu com a chegada do novo coronavírus a oferta foi menor com isso o preço de revenda foi maior.

A responsável pelo estudo na Conab, Florence Serra explica que o preço pago ao produtor se manteve estável tendo inclusive queda em em alguns estados, como foi o caso do Amapá, mas os técnicos da Conab que estão em campo registram que a pandemia prejudicou a coleta do fruto, produzido majoritariamente em árvores nativas. “Houve relato de dificuldade de acesso ao açaí tanto por parte do produtor quanto por parte do consumidor. Eles tiveram realmente dificuldade para coletar, para formar produção para venda, mas ao mesmo tempo essa venda não estava sendo demandada o que gerou a queda dos preços”, explicou a analista de mercado da Conab.

Foto: Ronaldo Rosa/Embrapa

A redução da demanda local é atribuída ao fechamento do comércio diante da chegada da pandemia. O estudo da Conab chama atenção para o cenário em Rondônia que foi afetado em toda cadeia produtiva desde o preparo dos acessos para a colheita até a comercialização do produto.

Diante da queda da oferta, o produtor de açaí plantado que teve oportunidade aumentou o preço de revenda e fez bons negócios. Em Rondônia, os responsáveis pela indústria Dallan Açaí, localizada no município de Buritis, anteciparam o início da colheita da safra na área plantada de 90 hectares, incrementam o portfólio de produtos e fizeram um reajuste no preço da revenda no pico da pandemia. O novo comportamento da sociedade foi observado para entender o que faria sucesso nesse contexto, conforme explica Pedro Mateus Santiago, gestor da empresa. “O nosso creme teve uma alta porque além de ser novo no mercado, durante a pandemia o pessoal parou de consumir açaí na tijela nos estabelecimentos, então o pessoal começou comprar pra fazer em casa e o creme sendo uma alternativa quase pronta foi uma boa saída”, explicou.

O quilo do açaí era comercializado a R$ 7 antes da pandemia e depois foi reajustado para R$ 8,50. A empresa atribui a alta do preço à elevação do custo de produção na indústria e na lavoura. Pedro Mateus explica que muitos dos itens utilizados no plantio são cotados em dólar e sofreram aumento nos últimos meses, o que causou impacto no preço final. O principal mercado consumidor da empresa fica dentro do próprio estado de Rondônia especialmente nos municípios entre Ariquemes e Vilhena, mas segundo o fundador da empresa, Pedro Dallan, 92 toneladas de açaí foram vendidos para estados do sudeste e nordeste só este ano.

Foto: Fábio Sian Martins/Embrapa

Na outra ponta
O empresário Raphael Soares é dono das três lojas da rede Casca Açaí em Brasília. Há três meses expandiu o negócio e abriu um centro de distribuição para receber, armazenar, fazer o pré-preparo e a distribuição das 4 toneladas de polpa congelada que recebe a cada dez dias do estado do Pará. Ele explica que o aumento no preço do fruto foi de até 75% do início da pandemia pra cá, mas o valor não foi repassado aos clientes. Raphael espera que o preço voltará a cair. “Como o volume de venda foi muito grande eu segurei. Mas tudo aumentou, derivados de leite, granola, castanhas, tudo. O único fornecedor que eu tenho que não aumentou o preço foi o de mel.”

No entanto, alguns empresários repassaram o reajuste e espantaram os clientes das lojas. A brasiliense Gabriela Lima Tunes, de 22 anos, consome açaí em dias alternados seguindo uma restrita dieta alimentar. Ao perceber o aumento do preço da tijela de açaí no local onde costumava consumir, passou a comprar a polpa congelada em supermercados e preparar em casa. “Por causa da correria do dia a dia eu sempre pedi de loja, mas foi uma coisa que começou encarecer no meu bolso. De um tempo pra cá começou a ficar inviável. Um açaí que eu pagava R$ 20 passou a custar R$ 30, então teve um aumento feio. Mas eu não podia tirar ele da minha dieta, então comecei fazer em casa”, contou.

Valor Nutricional

Consumido em várias partes do mundo, o açaí é nutritivo, ajuda a combater o colesterol, o envelhecimento precoce e até mesmo a prevenir doenças, como explica a mestre em Nutrição Humana pela Universidade de Brasília Carolina Vogado. “É rico em gorduras de boa qualidade, como por exemplo ômega 9, que tem potencial antiinflamatório. Tem cálcio, manganês, ferro, cobre e magnésio. A gente vê que é uma fruta com excelente perfil nutricional que pode ser melhorado ou piorado, depende do que a gente combinar com o consumo desse fruto. O que não se recomenda é que seja consumido com açúcar em excesso, leite condensado, diferente de como é consumido na região norte.” 

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