Foto de Vatican News editada por Roberto Almeida
Por Olimpio Guarany
Há textos que nos atravessam como um sopro divino. Palavras que não apenas informam, mas transformam. Foi assim que me senti ao ler o testamento do Papa Francisco — um documento breve, mas impregnado de uma espiritualidade que não se explica, apenas se sente.
Nele, Jorge Mario Bergoglio se despede com a serenidade de quem caminhou com fidelidade, amor e entrega absoluta ao Evangelho. E o faz como viveu: com simplicidade radical, com humildade desarmante, com o coração inteiramente entregue à missão de ser pastor — não de títulos, mas de almas.
Ao pedir que seu túmulo seja no chão, sem ornamentos, com uma única palavra a identificá-lo — Franciscus — o Papa nos dá sua última homilia silenciosa. Uma homilia sobre despojamento, sobre o essencial, sobre o que realmente permanece. Esse gesto não é só um pedido funerário: é uma síntese de sua vida. É o eco do “pobre de Assis” em pleno século XXI.
Francisco quer repousar aos pés da Mãe, naquela mesma basílica onde tantas vezes confiou suas dores, esperanças e orações. Seu testamento é mais que uma disposição prática: é uma declaração de fé, de confiança absoluta em Maria e no Deus da vida. É o gesto final de um homem que fez da ternura e da misericórdia os pilares de seu pontificado.
Ao ler esse texto, fui tomado por uma emoção difícil de traduzir. Porque vejo nele um reflexo do que há de mais sublime na vocação cristã: servir, amar, entregar-se. Francisco é um homem diferenciado. Um farol de compaixão em tempos de tantas sombras. Um pastor de verdade, que soube tocar o mundo com a força da mansidão.
Este testamento não encerra uma vida — inaugura um legado. E, com profunda admiração e reverência, uno-me em prece ao Papa Francisco, agradecendo por cada gesto, por cada palavra, por cada silêncio que nos ensinou tanto.
Franciscus.
Assim, apenas assim ele quer ser lembrado.
E assim será: eterno no coração dos que encontraram nele o rosto mais humano de Deus.

Sobre o autor
Olimpio Guarany é jornalista, documentarista, economista e professor universitário. Realizou a expedição histórica, navegando o rio Amazonas, desde a foz até o rio Napo (Peru) por onde atingiu o sopé da cordilheira dos Andes e depois subiu a Quito, Equador (2020-2022), refazendo a saga de Pedro Teixeira, o conquistador da Amazônia (1637-1639).
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