O Amapá entra na era do petróleo — e do protagonismo

O petróleo não pode ser visto como um fim, mas como um meio. O grande desafio será garantir que os recursos oriundos dessa nova fronteira energética se convertam em legado duradouro: educação, ciência, infraestrutura, inovação e oportunidades.

Sonda de perfuração NS-42. Foto: Divulgação/Foresea

Por Olímpio Guarany*

A liberação para a Petrobras iniciar as pesquisas na costa do Amapá é mais que uma vitória técnica: é um passo decisivo para transformar o potencial natural do estado em desenvolvimento humano, com liderança firme e responsabilidade ambiental.

A vez do Amapá

Durante décadas, o Amapá assistiu de longe ao ciclo de desenvolvimento que moldou outras regiões do país. Com o PIB entre os menores do Brasil, o estado convive com uma contradição gritante: tem 97% de cobertura florestal preservada, mas ainda luta para garantir infraestrutura e oportunidades para sua população.

A exploração de petróleo na Margem Equatorial não é, portanto, uma aventura. É uma estratégia de soberania e inclusão econômica — desde que conduzida com responsabilidade, transparência e planejamento.

Antes da Petrobras, duas empresas estrangeiras tentaram explorar a mesma área e fracassaram, sem comprovar capacidade técnica e ambiental. A diferença agora é que a estatal brasileira chega com um histórico de excelência e uma das maiores simulações de vazamento já realizadas no país, aprovadas pelo próprio Ibama.

O rigor do licenciamento e o preparo técnico da Petrobras asseguram que a operação aconteça com os mais altos padrões de segurança ambiental.

O papel de Clécio Luís: liderança com propósito

O governador Clécio Luís tem motivos de sobra para celebrar. Desde o início, ele foi o batonier dessa pauta — articulando com o governo federal, o Ibama e a direção da Petrobras para que o Amapá fosse ouvido e respeitado.

Clécio compreendeu algo fundamental: defender o desenvolvimento sustentável não é negar o progresso, é integrá-lo à realidade amazônica. Seu discurso é claro e pragmático: “O Amapá precisa transformar seu patrimônio natural em desenvolvimento humano”.

O governador já anunciou a criação de um Fundo Soberano, que garantirá a aplicação responsável dos futuros recursos da exploração — destinando parte para pesquisa científica, meio ambiente, povos indígenas, educação e inovação.

Essa visão estratégica coloca o Amapá na vanguarda de uma nova economia amazônica — aquela que cresce sem abrir mão da floresta, mas também não condena seu povo à pobreza.

Desenvolvimento com responsabilidade

O início das perfurações exploratórias representa o primeiro passo de uma longa jornada. Ainda não se fala em produção de petróleo, mas em pesquisa técnica — um processo que dura cerca de cinco meses e envolve logística complexa, geração de empregos, movimentação portuária e contratação de serviços locais.

Essa fase já cria impactos econômicos diretos:

  • empregos temporários e qualificação técnica;
  • demanda por transporte, hospedagem, alimentação e serviços de apoio;
  • melhorias logísticas e portuárias, preparando o estado para novos investimentos.

O Amapá, enfim, começa a ser inserido no mapa das grandes operações energéticas do Brasil, com potencial de atrair empresas, universidades e centros de pesquisa interessados em energia e sustentabilidade.

Foz do Amazonas. Foto: Marcus Cunha/ICMBio

O desafio: transformar recurso em legado

O petróleo não pode ser visto como um fim, mas como um meio. O grande desafio será garantir que os recursos oriundos dessa nova fronteira energética se convertam em legado duradouro: educação, ciência, infraestrutura, inovação e oportunidades.

Com transparência e governança, o Amapá pode evitar os erros de outras regiões produtoras.
Com planejamento, pode investir na bioeconomia, no turismo sustentável e nas energias renováveis, transformando a renda do petróleo em ponte para o futuro.

E com consciência ambiental, pode mostrar ao mundo que é possível produzir energia sem agredir a Amazônia.

Um novo ciclo de esperança

Há quem tema o petróleo. Há quem o veja apenas como ameaça. Mas para o Amapá — onde o desafio é conciliar natureza e dignidade — o petróleo pode ser o instrumento da virada histórica.

Se bem conduzido, o projeto da Petrobras poderá ser lembrado como o momento em que o Amapá deixou de ser apenas um território preservado e passou a ser um estado protagonista, dono do próprio destino.

O Amapá tem o direito — e agora a chance — de crescer com responsabilidade, gerar riqueza sem destruir o que o faz único e mostrar ao Brasil que a Amazônia também pode ser sinônimo de prosperidade.

Sobre o autor

Olimpio Guarany é jornalista, documentarista e professor universitário. Realizou expedição histórica, navegando o rio Amazonas, desde a foz até o rio Napo (Peru), por onde atingiu o sopé da cordilheira dos Andes (Equador) no período 2020-2022 refazendo a saga de Pedro Teixeira, o conquistador da Amazônia (1637-1639). Atualmente é apresentador do programa Amazônia em Pauta no canal Amazon Sat.

*O conteúdo é responsabilidade do colunista

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