Por Olimpio Guarany
Com vasta extensão de floresta tropical e rica biodiversidade, a Amazônia apresenta um cenário propício para o desenvolvimento da bioeconomia do pescado. Este setor representa uma oportunidade única dentro do sistema agroalimentar não apenas para promover a produção de alimentos, mas também para alcançar os objetivos estabelecidos pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU até 2030, especialmente os relacionados à fome zero e agricultura sustentável (ODS 2), boa saúde e bem-estar (ODS 3), bem como conservação e uso sustentável dos recursos marinhos (ODS 14).
O pescado é responsável por abastecer algo em torno de 17% do total de proteína animal para 4,3 bilhões de indivíduos no planeta (*). No entanto, diante das limitações impostas pelo esgotamento de recursos e mudanças climáticas, é crucial se buscar alternativas sustentáveis para o abastecimento alimentar.
Os 17 ODS da ONU abrangem uma série de temáticas interligadas, desde erradicação da pobreza até proteção dos ecossistemas marinhos e terrestres. É fundamental que os estados da Amazônia, destaco aqui o Amapá, implementem políticas públicas que estejam alinhadas com suas vocações econômicas na busca pelo desenvolvimento sustentável até 2030.
O Amapá desponta com enorme potencial na exploração do pescado. Sua geografia privilegiada, com uma extensa rede de rios, lagos, igarapés e uma costa oceânica e flúvio-marítima de 598 km, oferece condições ideais para o crescimento desse setor. No entanto, apesar dessas vantagens naturais, o Amapá ainda não capitalizou plenamente esses recursos.
Um dos desafios significativos é a gestão dos resíduos gerados pela atividade pesqueira. Cerca de 60% dos resíduos são descartados(**), representando não apenas uma perda econômica, mas também um risco à saúde pública. A implementação de estratégias eficazes de bioeconomia poderia transformar esses resíduos em recursos valiosos, gerando renda, empregos e melhorando a qualidade de vida das comunidades locais.
Nesse contexto é imperativo que o Amapá direcione esforços para integrar o pescado na economia circular da bioeconomia. Isso envolve não apenas o desenvolvimento da produção pesqueira, mas também a criação de cadeias de valor que considerem todo o potencial dos recursos disponíveis. Estratégias como o aproveitamento dos resíduos como pele, escamas, carcaças, vísceras, cabeças; proteínas e óleos que podem não apenas reduzir desperdícios, mas também promover um ciclo mais sustentável e lucrativo para o setor.
Com a utilização de diversas tecnologias, por exemplo, esses resíduos podem ser destinados também para a produção para consumo humano, ração para animais, fertilizantes, produtos químicos, produção de embalagens, entre outros. A utilização de resíduos comestíveis, além de diminuir custos e aumentar a eficiência de produção, minimiza os problemas de poluição ambiental oriundos da falta de destino adequado
Além disso é fundamental investir em pesquisa e inovação tecnológica voltadas para a bioeconomia do pescado. Isso inclui o desenvolvimento de técnicas de processamento mais eficientes, sistemas de monitoramento ambiental e práticas de pesca sustentáveis que preservem os ecossistemas aquáticos da região.
Entendo que o Amapá pode se tornar um líder na bioeconomia do pescado na Amazônia, se explorar de forma sustentável seus recursos aquáticos e promover uma abordagem holística que integre aspectos econômicos, ambientais e sociais. Isso pode impulsionar não apenas seu crescimento econômico, mas também contribuir significativamente para a consecução dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável estabelecidos pela comunidade global.
(*) (TAHERGOABI et al., 2013) (**)(CHALAMAIAH et al.,2012)
Sobre o autor
Olimpio Guarany é jornalista, economista, documentarista e professor universitário. Atravessou a Amazônia de leste a oeste, refazendo os caminhos de Pedro Teixeira, o conquistador da Amazônia (1637-1639), navegando o rio Amazonas e alguns afluentes, desde a foz do grande rio até o Napo (Perú) no sopé da cordilheira dos Andes e chegar até Quito-Equador (2020-2022), onde chegou o explorador português.
O conteúdo é de responsabilidade do colunista