Xapuri, no interior do Acre, enfrenta segunda maior seca da história

Nível do Rio Acre chegou a 1,44 metro no dia 4 de julho e preocupa as autoridades. Marca está a 26 centímetros do pior nível já registrado.

Após passar por enchentes e ultrapassar 17 metros em fevereiro deste ano, o Rio Acre chegou à segunda maior seca da história no município de Xapuri, no interior do Acre. No dia 4 de julho, o nível estava em 1,44 metro, segundo o Corpo de Bombeiros da cidade, que integra o apoio à Defesa Civil estadual na região.

Com a marca, o nível está a 26 centímetros do pior índice já registrado, quando o Rio Acre chegou a 1,18 metro em 31 de julho de 2018. No dia 1 de julho, o município já havia alcançado a segunda menor marca, com 1,49 metro, nível superado nesta quarta.

O comandante dos bombeiros em Xapuri, capitão Ocimar Farias, ressalta que a tendência é de que os níveis sigam baixos, já que os volumes de chuva também são críticos e ainda restam vários meses de verão.

O coordenador da Defesa Civil Estadual, coronel Carlos Batista, ressaltou que a situação é preocupante não só no Rio Acre, mas em vários trechos.

O Acre decretou, no dia 11 de junho, emergência ambiental por causa da redução da quantidade de chuvas e riscos de incêndios florestais. O decreto de nº 11.492 foi publicado no Diário Oficial do Estado (DOE) e é válido para os 22 municípios acreanos.

“O Rio Acre vem atingindo cotas históricas mínimas, não só em Xapuri, mas ao longo de toda a sua extensão. Em Rio Branco, por exemplo, a cota de 1,81 metros é a menor registrada para o mês de junho, em 53 anos de medições. Essa situação extrema não se limita ao Rio Acre; o Rio Iaco, em Sena Madureira, também apresenta níveis historicamente baixos, com 94 cm hoje, abaixo de um metro nos últimos três dias, indicando cotas mínimas históricas para junho”, explicou.

Situação na capital

O acumulado de chuvas em Rio Branco durante todo mês de junho não passou de 21,1 milímetros. O número representa apenas 34% do total esperado, que era 62 milímetros. A informação foi divulgada pela Defesa Civil Municipal no dia 1° de julho.

Sem chuvas, o nível do Rio Acre na capital marcou 1,78 metro no dia 2 de julho. Ainda segundo o órgão municipal, choveu apenas três vezes na capital acreana durante junho: no dia 21, 26 e 30. O Rio Acre perdeu 85 centímetros de lâmina d’água durante o período.

A Defesa Civil de Rio Branco destacou também que a chuva mais significativa foi no dia 26, quando choveu 19,2 milímetros.

No dia 28 de junho, o prefeito Tião Bocalom assinou um decreto de emergência em razão do baixo nível do Rio Acre e da falta de chuvas na capital. O documento com as medidas, no entanto, ainda não foi publicado no Diário Oficial do Estado (DOE).

Segundo o gestor municipal, são atendidas 32 comunidades com abastecimento de água durante este período de seca. O abastecimento nessas comunidades rurais, que geralmente inicia em julho, teve início no dia 17 de junho.

Na ocasião, o coordenador da Defesa Civil municipal, tenente-coronel José Glácio, disse que a coordenadoria está atuando para atenuar os efeitos da seca antecipada. Há, pelo menos, 14 caminhões com capacidade de 6 mil a 18 mil litros de água abastecendo as 32 comunidades.

“A comunidade urbana tem o costume de usar a água de maneira indevida, lavando calçadas, lavando carros, abastecimentos de piscina, trocando a água sem necessidade, então nós temos que ter esse cuidado, porque a seca promete ser mais rigorosa do que o ano de 2016, que foi o ano que foi registrado a maior seca aqui de Rio Branco”, frisou.

Contingência

O governo do Acre montou um gabinete de crise para discutir e tomar as devidas medidas com redução dos índices de chuvas e dos cursos hídricos, bem como do risco de incêndios florestais. O decreto com a criação deste grupo foi publicado no dia 26 de junho, em edição do Diário Oficial do Estado (DOE), e fica em vigência até dia 31 de dezembro deste ano.

Emergência climática

O estado também decretou emergência, no dia 11 de junho, com validade até o fim deste ano. O decreto aponta para o baixo índice de chuvas para o período, aumento das temperaturas e queda nos percentuais de umidade relativa do ar, além do alerta para possível desabastecimento.

A situação alerta para uma possível seca antecipada, já que no ano passado, o decreto de emergência foi publicado em outubro.

O coordenador estadual da Defesa Civil, coronel Carlos Batista, disse que o Rio Acre, principal afluente do estado, estava com uma média de vazante de 5 centímetros por dia, e que há chances de ocorrer chuvas. No entanto, são rápidas e passageiras, o que pode contribuir para que cotas mais baixas sejam registradas também neste mês de julho.

Rio Acre marcou 1.40 metro em 2023 em Rio Branco. Foto: Ana Paula Xavier/Arquivo Rede Amazônica Acre

Ainda segundo Batista, um plano estadual de contingenciamento foi elaborado para este período de seca. “Toda a estrutura da Defesa Civil Estadual, todo o sistema estadual do órgão está de prontidão. Já temos o nosso plano de contingência elaborado, anexo a esse plano, o plano das 22 coordenadorias municipais de Defesa Civil para o enfrentamento dessas ações”, concluiu.

Seca antecipada

Pouco mais de dois meses após o Rio Acre, em Rio Branco (AC), alcançar a segunda maior cota histórica e atingir mais de 70 mil pessoas com uma enchente devastadora, o manancial começou a ficar abaixo dos 4 metros.

A situação alerta para a possibilidade de um período de seca que, segundo especialistas, pode se antecipar e se tornar cada vez mais frequente em um menor espaço de tempo.

É preciso entender ainda que as chuvas na região precisam estar dentro da normalidade para o rio poder correr normalmente, o que não está sendo o caso do Rio Acre.

O ano em que o manancial apresentou a menor marca histórica foi em setembro de 2022, quando marcou 1,25 metro. Naquele ano, o rio já estava abaixo dos quatro metros no mês de maio.

O mesmo quadro foi observado em 2016, ano com a segunda pior seca. Em 17 de setembro, o rio atingiu a menor cota histórica da época: 1,30 metro.

*Por Victor Lebre, da Rede Amazônica AC

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