“Verão amazônico”: entenda as origens do fenômeno e suas consequências

Diferentemente de outras regiões brasileiras, a percepção das estações climáticas na Amazônia é peculiar.

Se você mora na Amazônia brasileira, já sabe que um período do ano é tão quente que a sensação é “escaldante”. Itens como protetor solar, guarda-chuva e uma garrafa com água são fundamentais nessa época.

Primavera, verão, outono e inverno? Diferentemente de outras regiões brasileiras, a percepção das estações climáticas na Amazônia é peculiar. Por exemplo, apesar de ser considerado inverno em todo o hemisfério sul entre junho e setembro, a região amazônica vive o período mais quente do ano, conhecido como “verão amazônico”.

Mas afinal, o termo “verão amazônico” está correto? 

Praia da Ponta Negra, em Manaus. Foto: Elton Viana/Arquivo Semcom Manaus

Apesar de comumente utilizado por especialistas para facilitar a compreensão, o termo “verão amazônico” está mais para uma convenção cultural e social, do que para um termo científico. É caracterizado pelas altas temperaturas e chuvas abaixo da média entre os períodos de julho a novembro na região amazônica.

Do Centro de Ciências Naturais e Tecnologia da Universidade do Estado do Pará (Uepa), a professora e meteorologista Eliane Coutinho explica o conceito:

“Na região Amazônica, na realidade, não temos inverno ou verão, temos estação chuvosa e estação menos chuvosa, ou ainda, estação seca, pois verão e inverno amazônicos são denotações culturais, relacionadas às chuvas: quando chove muito, considera-se inverno amazônico e quando chove pouco ou não chove, considera-se verão amazônico”.

Ela acrescenta que, por não haver uma grande variação de temperatura média mensal ao longo do ano, não existe, na prática, a estação inverno, pois seria necessário uma temperatura média de pelo menos 18°C, o que não ocorre. “Então, nosso verão amazônico é considerado o período com menores índices pluviométricos”, completa.

Causas 

A explicação para o verão amazônico em pleno inverno no hemisfério sul, se dá devido ao sistema meteorológico conhecido como Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), como justifica o professor no Programa de Pós-Graduação em Gestão de Risco e Desastre na Amazônia da Universidade Federal do Pará (UFPA), Giordani Conceição Sodré:

“Esse sistema (ZCIT), trata-se de um cinturão de nuvens que ocorre em volta do planeta e que se desloca seguindo o movimento aparente do sol, o qual aquece as águas dos oceanos. […] Ao ponto que com a chegada do inverno do hemisfério sul e o resfriamento gradual dos oceanos, a ZCIT migra para o hemisfério norte e então, as chuvas sobre a Amazônia reduzem, por vezes até cessam. Desta forma, a baixa quantidade de chuvas ou ausência dela provoca o aumento da temperatura do ar local”, relata o professor.

Influência de outros fatores

Para além de mudanças climáticas provocadas por inúmeras causas, o fenômeno meteorológico El Niño foi anunciado em 2023 e acarreta em grandes impactos no Brasil e no mundo, principalmente em regiões próximas à Linha do Equador.

O fenômeno é um padrão climático que se origina no Oceano Pacífico e é caracterizado pelo aquecimento anormal das águas deste oceano em sua porção equatorial. O último registro do fenômeno foi em 2015.

“Esse fenômeno é natural, não é causado por ações antrópicas, ele altera o regime de chuvas em várias partes do globo terrestre, porém afeta mais a região Amazônica, pois desloca as chuvas para outras regiões, causando um calor além do normal”, informa a meteorologista Eliane.

A soma desse fenômeno – que apesar de ser natural provoca altas temperaturas na região -, com o verão amazônico, pode ocasionar em um período ainda mais quente.

“Na atual situação, o El Niño pode agravar os problemas recorrentes do período menos chuvoso da Amazônia, como maior concentração de poluentes atmosféricos, intensificação das queimadas, dentre outros fatores”, expõe Giordani Sodré.

Consequências na prática

Sodré aponta que existem consequências positivas e negativas. No aspecto positivo, destaca-se a movimentação da economia em cidades mais turísticas, o aumento da ida à balneários, flutuantes e a geração de empregos e arrecadação.

Por outro lado, há um maior risco de surgimento de doenças respiratórias e de pele, devido ao aumento da poluição atmosférica e a emissão de material particulado, seja por veículos, indústrias, ou queimadas.

De acordo com a assessoria do Corpo de Bombeiros Militar do Amazonas (CBMAM), é nesse período que aumentam os riscos de acidentes domésticos. Para o comandante-geral, Orleilso Ximenes Muniz, muitos acidentes podem ser evitados no dia a dia com mudanças simples.

Confira algumas dicas:

1. Evitar deixar aparelhos como ventiladores, secadores de cabelo, carregadores, entre outros, conectados à tomada sem uso;

2. Evitar utilizar extensões e conectores de tomadas de energia elétrica, os conhecidos ‘benjamins’ ou ‘T’;

3. Observar se há na residência ligações clandestinas de energia elétrica, que podem ocasionar curto-circuito e incêndios;

4. Descartar corretamente a bagana de cigarro, evitando áreas de vegetação, que ficam mais secas neste período;

5. Não queimar lixo em área de vegetação ou no quintal de casa. 

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