Pesquisadores mediram os fluxos de metano e dióxido de carbono em 23 pontos dos reservatórios da usina
A implantação da usina hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, aumentou em até três vezes as emissões de gases de efeito estufa (GEE) na região amazônica, de acordo com o estudo coordenado pelo Instituto de Geociências (IGc) da USP, em parceria com a Universidade de Linköping, na Suécia, a Universidade de Washigton, nos Estados Unidos e a Universidade Federal do Pará (UFPA).
Os pesquisadores mediram os fluxos de metano (CH4) e dióxido de carbono (CO2) em 23 pontos dos reservatórios da usina e no curso do rio Xingu. As amostras foram coletadas durante as estações seca e cheia no primeiro e segundo ano após a inundação dos reservatórios (2016 e 2017) e comparadas com as emissões de gases de efeito estufa antes da construção e implantação da usina (2012 e 2014).
O aumento das emissões dos gases do efeito estufa, em especial o metano, é causado pela decomposição de matéria orgânica em áreas inundadas. Estudos anteriores mostraram que a desaceleração da água do rio, que ocorre em todos os tipos de reservatórios, induz à sedimentação de partículas que aumentam a quantidade de matéria orgânica disponível para degradação e alta ebulição. No estudo, os cientistas observaram que áreas rasas de inundação chegam a representar até 45% da liberação total de gases do sistema.
“O trabalho contribui para a obtenção de estimativas precisas das emissões de gases de efeito estufa pela matriz elétrica brasileira, que tem grandes usinas hidrelétricas como principal recurso energético”, afirma André Oliveira Sawakuchi, professor do Instituto de Geociências (IGc) da USP e orientador de Bertassoli. “Estimativas precisas e transparentes das emissões de gases de efeito estufa devem estar disponíveis à sociedade que utiliza a energia hidrelétrica”, diz.
O complexo de Belo Monte no rio Xingu é a maior usina hidrelétrica da Amazônia. Foi instalado ao longo de um sistema de múltiplos canais rochosos, conhecidos como Volta Grande do Xingu. Tem uma das maiores capacidades de geração de eletricidade do mundo e foi construída usando a tecnologia chamada fio d’água (da sigla ROR – Run Of the River, em inglês), que se baseia no fluxo natural do rio e requer reservatórios menores do que projetos baseados em armazenamento, como a Itaipu Binacional. Por esse motivo, é considerada uma alternativa mais sustentável.