União tem 30 dias para estabelecer plano de ações contra garimpo ilegal na Terra Yanomami

Multa é de R$ 1 milhão, caso o pedido da Justiça não seja cumprido. Na audiência de conciliação, a União se comprometeu a apresentar um novo cronograma de ações.

A Justiça Federal determinou que a União apresente em até 30 dias um novo plano de ações contra o garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami. A multa é de R$ 1 milhão, caso o pedido não seja cumprido. A decisão, divulgada nesta segunda-feira (29), ocorre a pedido do Ministério Público Federal (MPF).

A medida foi tomada diante da “inércia do Estado brasileiro em elaborar um planejamento efetivo para a instalação de bases de proteção e retirada dos invasores”, segundo o órgão. A decisão é resultado de audiência de conciliação realizada conjuntamente pelas 1ª e 2ª Varas Federais de Roraima, no último dia 24 deste mês.

A requisição do MPF partiu da constatação de que as operações governamentais realizadas no território Yanomami, no início do ano passado, não foram suficientes para evitar a reocupação de áreas pelo garimpo.

O território está em emergência sanitária desde janeiro de 2023, quando o governo federal iniciou ações de atendimento de saúde aos Yanomami e de desintrusão dos invasores.

Além disso, segundo o MPF, a União vinha reiteradamente descumprindo os compromissos em apresentar um plano de instalação da base de proteção para efetivar o bloqueio do rio Uraricoera – principal ponto de entrada de garimpeiros no território.

A instalação de bases de proteção e a retirada de invasores do território foram determinadas pela Justiça Federal em ações civis pública movidas pelo Ministério Público nos anos de 2017 e 2020.

“Se o Estado brasileiro tivesse cumprido as decisões judiciais proferidas nessas ações, o território Yanomami estaria devidamente protegido e não estaríamos assistindo à tragédia humanitária e ambiental instalada entre as comunidades indígenas”, 

afirmou o procurador da República responsável pelo caso, Alisson Marugal.

Na audiência de conciliação, a União se comprometeu a apresentar um novo cronograma de ações envolvendo a retirada de garimpeiros, a instalação da base de proteção etnoambiental Pakilapi e a implementação de políticas públicas permanentes no território Yanomami em até 30 dias.

Participaram da audiência os Ministérios da Justiça e Segurança Pública, da Defesa, dos Povos Indígenas, da Saúde e do Meio Ambiente. Também estavam presentes representantes da Polícia Federal, da Força Nacional de Segurança Pública, do Estado de Roraima, da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

A União ainda pode recorrer da decisão judicial referente à multa de R$ 1 milhão.

Foto: Alexandro Pereira/Rede Amazônica

Ações do MPF

Em 2017, o MPF ajuizou ação civil pública para que os órgãos federais implementassem bases de proteção etnoambiental (Bape) no território yanomami, visando impedir a entrada de invasores e proteger as comunidades indígenas. As bases são postos de fiscalização da Funai instalados em pontos estratégicos da terra indígena com a função de monitorar regiões mais vulneráveis à invasão de garimpeiros.

Após cinco anos da sentença favorável ao pedido do MPF, União e Funai não implementaram a base do rio Uraricoera, o que permitiu a entrada desenfreada de garimpeiros ilegais na região, uma das mais afetadas pela mineração ilegal.

Em março de 2022, a pedido do MPF, a Justiça Federal aplicou multa de R$ 10 mil por dia de atraso no cumprimento da sentença – hoje, o valor devido pela União supera R$ 2 milhões.

Em abril de 2020, diante da intensificação da atividade garimpeira, o MPF ajuizou nova ação civil pública, para que os órgãos do governo federal apresentassem um plano emergencial de medidas de combate aos ilícitos ambientais e para garantir a retirada dos invasores da Terra Indígena Yanomami.

A ação foi proposta após uma série de tentativas de diálogo e recomendações, que não surtiram efeito e levaram o órgão a acionar o Judiciário diante do avanço do garimpo ilegal e da disseminação da Covid-19 entre os povos indígenas.

Um ano de emergência em saúde

Em janeiro de 2023, o governo Lula (PT), recém-empossado, expôs a situação no território, decretou emergência de saúde pública e deflagrou uma série de operações para garantir assistência aos indígenas e conter o garimpo ilegal.

Na avaliação do Ministério Público Federal e de lideranças indígenas, a União conseguiu dar uma resposta de emergência, mas não avançou o suficiente, e o cenário devastador segue o mesmo um ano depois. Ainda há fome, malária, centenas de mortes e devastação com o garimpo.

Em janeiro deste ano uma comitiva do governo federal esteve em Roraima e anunciou “ações permanentes” no território. Dias depois, a Polícia Federal retomou as operações na terra indígena.

O território é alvo há décadas do garimpo ilegal, mas a invasão se intensificou nos últimos anos. A atividade impacta diretamente o modo de vida dos povos originários. A invasão destrói o meio ambiente, causa violência, conflitos armados e poluição dos rios devido ao uso do mercúrio.

Publicidade
Publicidade

Relacionadas:

Mais acessadas:

1° do Norte: autor amapaense Gian Danton recebe principal título dos quadrinhos no país

Com mais de 30 anos de carreira, Gian Danton consolida posição de Mestre do Quadrinho Nacional entre os principais nomes do país. Título é considerado o mais importante do Prêmio Angelo Agostini.

Leia também

Publicidade