Com mais de 4 mil moradores afetados pela seca dos rios Acre e Iaco, a cidade de Assis Brasil, que faz fronteira com o Peru decretou situação de emergência no dia 19 de agosto. O decreto foi publicado no Diário Oficial do Estado (DOE). Em um vídeo, o coordenador da Defesa Civil do município, Jonata Albuquerque, mostra que passou a ser possível atravessar o manancial a pé.
“Está é a condição do Rio Acre, estou andando dentro dele, mal está cobrindo o tornozelo. Há partes muito secas que cobrem basicamente o pé, formando toda parte do nosso rio. Está intrafegável de Assis Brasil para as cabeceiras, a gente navegar nele”, detalha.
Segundo a Defesa Civil Municipal, o Rio Acre banha a zona urbana da cidade e o Rio Iaco a zona rural, na outra extremidade. Albuquerque, explicou que não há dados oficiais da medição dos mananciais por conta de problemas de leitura.
“As medidas que temos não são reais porque medem na região da ponte, que é baseada em uma distância desde a enchente. No entanto, hoje o rio vem passando pelo assoreamento, o leito dele está aterrado, então, automaticamente, essa linha métrica fica comprometida”, destacou.
Outro vídeo feito pelo coordenador na Ponte da Integração, que liga o lado brasileiro ao peruano, revelam um cenário preocupante com o manancial praticamente seco. “Basicamente sem condições de trafegabilidade, não tem água para trafegar, totalmente seco. A parte mais funda não dá um metro de largura”, diz o sargento no vídeo.
No início do ano, o Rio Acre em Assis Brasil chegou a 13,36 metros e a enchente afetou mais de 3,5 mil entre moradores da zona urbana e rural. A cidade, inclusive, chegou a ficar isolada por terra por conta do fechamento da Ponte Metálica José Augusto, que liga Brasiléia e Epitaciolândia e dá acesso à Assis Brasil pela BR-364.
“Foi a segunda maior enchente de Assis Brasil [este ano], perdendo apenas para a enchente de 2012. As mesmas pessoas que sofreram com a cheia agora estão sofrendo com a seca. Além dos ribeirinhos, a seca afeta também os produtores rurais”, lamentou.
Mais de 4 mil afetados
Ainda segundo o coordenador, a seca afeta moradores da zona urbana e indígenas e ribeirinhos na área rural, mas o cenário pior é na zona rural que é banhada pelo Rio Iaco. Ele destacou que está quase impossível navegar até algumas aldeias mais distantes.
“O pessoal do ICMBio até paralisaram alguns serviços que fazem periodicamente porque não tem como navegar mais”, disse.
Albuquerque contou que as equipes elaboram o plano de ação de trabalho para poder pedir verbas para o governo federal, comprar cestas básicas e distribuir na zona rural. O planejamento inclui ainda a distribuição de água potável em carros-pipas.
“Hoje estamos com a metade da nossa população afetada. Temos 8,1 mil pessoas em Assis Brasil, porém, hoje atendemos mais de 10 mil pessoas porque boa parte dos moradores do Rio Iaco, que ficam geograficamente em Sena Madureira, são atendidos por nós”, frisou.
Com as dificuldades na navegação, o sargento afirmou também que ribeirinhos e indígenas estão sem conseguir sair de suas comunidades e ir até a área urbana sacar benefícios e fazer compras.
“Não têm como se locomover porque o rio não permite isso. O segundo problema é que as plantações, como mandioca, banana, entre outras, são prejudicadas com a seca. O poder público entra nessa parte”, concluiu.
Emergência no Acre
No último dia 16, o Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR) reconheceu situação de emergência em todos os 22 municípios do Acre por conta da seca severa. Além de Rio Branco , que já estava nesta condição desde 24 de julho, a pasta publicou uma portaria anunciando outras 21 cidades.
A decisão foi publicada no Diário Oficial da União (DOU) e assinada pelo secretário nacional de Defesa Civil, Wolnei Wolff Barreiros.
De acordo com o governo federal, o reconhecimento permite que sejam solicitados recursos para ações de defesa civil, como compra de cestas básicas, água mineral, entre outros.
Toda a Bacia do Rio Acre está em situação de alerta máximo para seca, agravado em razão da falta de chuvas na região. Esta situação generalizada perdura há pelo menos um mês.
O governo do estado decretou, no dia 11 de junho, situação de emergência por conta da seca e emergência ambiental por causa da redução da quantidade de chuvas e riscos de incêndios florestais.
Duas semanas depois, foi montado um gabinete de crise para discutir e tomar as devidas medidas com redução dos índices de chuvas e dos cursos hídricos, bem como do risco de incêndios florestais. O decreto com a criação deste grupo foi publicado no dia 26 de junho, em edição do Diário Oficial do Estado (DOE), e fica em vigência até dia 31 de dezembro deste ano.
No ano passado, o decreto de emergência foi publicado em outubro. O coordenador estadual da Defesa Civil, coronel Carlos Batista, disse que o plano estadual de contingenciamento já foi elaborado.
*Por Aline Nascimento, da Rede Amazônica AC