Seca severa na Amazônia gera consequências para fauna da região

A previsão é que a estiagem e a seca se estendam até o mês de janeiro.
Mudanças climáticas, El niño, verão amazônico e estiagem dos rios da maior bacia hidrográfica do planeta: essa combinação de fatores tem ocasionado em uma das secas mais extremas das últimas décadas na AmazôniaA previsão é que a estiagem, que deveria ser substituída pelo início das chuvas na região, estenda-se até o mês de janeiro de 2024.

Para além dos impactos sociais – a seca já afetou mais de 100 mil pessoas, em especial ribeirinhos e indígenas e pode chegar até 500 mil impactados – outro fenômeno tem preocupado especialistas da área ambiental: a morte de milhares de peixes nas margens do rio e de um importante símbolo amazônico: o boto cor-de-rosa.
Foto: Miguel Monteiro/Instituto Mamirauá

Em pouco mais de uma semana, 125 botos foram encontrados mortos no Lago Tefé, no Amazonas. (até 3 de outubro)  Além dos botos-cor-de-rosa, a contagem também inclui os tucuxis, que são uma outra espécie de golfinho de água doce. Os dados são do Grupo de Pesquisa em Mamíferos Aquáticos Amazônicos do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá.

Leia também: Entenda a diferença de comportamento entre os botos da Amazônia e se eles são mesmo “implicantes”

Ao Portal Amazônia, o mestre em Ecologia e Conservação e pesquisador associado do grupo, André Coelho, comenta alguns dos possíveis motivos:

 “A gente acredita que o que tá acontecendo é por conta do nível do rio que baixou consideravelmente e também por alguma modificação hidrológica no curso do rio que a gente acredita que pode estar causando o ‘encalhe’ desses bichos. Além disso, a temperatura da água está muito alta, além da temperatura ambiente”.

De acordo com os pesquisadores do Instituto Mamirauá, medições realizadas na água do Lago Tefé revelaram que a temperatura chegou a 40°C em uma profundidade de três metros. Até então, a temperatura média histórica mais alta era de 32°C.

O caso viralizou nas redes sociais nos últimos dias. O fotógrafo Chico Batata, que registra também a enorme quantidade de fumaça que tem assolado a capital amazonense nas últimas semanas em decorrência das intensas queimadas no interior do Estado, postou em seu perfil no Instagram um vídeo que mostra centenas de peixes mortos,

“O retrato da gravidade de dois fenômenos, um natural, a estiagem, e o outro provocado pelo homem, o aquecimento global. Juntos causaram essa cena triste aqui na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Lago do Piranha. Milhares de peixes e até botos mortos. Muito triste!”, relatou.

O cantor Jander Manauara também postou um vídeo que mostra um  boto morto encalhado nas margens do Rio Tefé.

Consequências 

“Ainda estamos investigando, estamos fazendo necropsia, mas não encontramos nada significativamente anormal que dê para sustentar outra hipótese do que pode estar acontecendo com eles. O mais provável são as altas temperaturas e seca antecipada”,

acrescentou André Coelho. 

O pesquisador conta que nunca tinha visto um fenômeno dessa proporção. “A alta mortalidade dos bichos que vivem no Lago Tefé é uma coisa que nunca aconteceu aqui na região, nunca tínhamos visto isso nessa região em grande quantidade. Cada dia chegam mais animais”, esclarece.

Em nota à sociedade, o Instituto Mamirauá aponta que “vem realizando esforços para as causas do evento, bem como buscar salvar os animais que ainda se encontram no lago”. Leia a nota na íntegra:

Vale ressaltar que durante o mês de setembro, o Rio Negro teve uma vazante de mais de 30 centímetros durante 13 dias seguidos, segundo medição feita pelo Porto de Manaus. 

Conforme boletim de Monitoramento Hidrometeorológico da Amazônia Ocidental emitido pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM), os níveis registrados para o rio estão abaixo da faixa da normalidade para o período.

Cuidados com os animais vivos 

Ainda conforme o Instituto Mamirauá, para tentar diminuir os danos, é realizada uma ação emergencial para a retirada dos animais ainda vivos. Os trabalhos iniciaram no sábado e estão sendo feitos os seguintes procedimentos:

– Ações de monitoramento dos animais ainda vivos,
– Busca e recolhimento de carcaças,
– Coletas de amostras para análises de doenças e da água,
– Monitoramento das águas do lago, incluindo a temperatura da água e batimetria dos trechos críticos.

As ações são realizadas em parceria com a prefeitura de Tefé, o ICMBio e a Defesa Civil. A última contagem da população desses animais, feita anos atrás, indica que há em torno de 800 e 900 botos e 500 tucuxis na região.

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