Período de seca intensa acende alerta para incêndios florestais na Amazônia e Cerrado

Embora tenha sido registrada uma queda nos focos de incêndios nos dois biomas no primeiro semestre deste ano, o pico da estação seca – de julho a setembro – acende-se um alerta para o risco de incêndios.

Foto: Divulgação/Black Jaguar Foundation

Com o avanço do período seco, que se intensifica a partir de agosto, o risco de incêndios florestais aumenta de forma recorrente em várias regiões do Brasil, especialmente na Amazônia e Cerrado, biomas mais vulneráveis ao fogo.

Embora tenha sido registrada uma queda nos focos de incêndios nos dois biomas no primeiro semestre deste ano, o pico da estação seca – de julho a setembro – acende-se um alerta para o risco de incêndios, exigindo ações contínuas de prevenção e conscientização junto aos produtores rurais.

📲 Confira o canal do Portal Amazônia no WhatsApp

Segundo o Monitor do Fogo do MapBiomas, a Amazônia registrou uma queda de 61,7% nos focos de incêndio no primeiro semestre de 2025, em comparação ao mesmo período de 2024. Já o Cerrado, que teve um pico alarmante de 91% na área queimada em 2024 – o pior resultado registrado desde 2019 – também apresentou redução de 47% nos primeiros seis meses do ano, segundo dados do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA).

No Pará, estado mais afetado pelo fogo em 2024, com mais de 7,3 milhões de hectares queimados – representando 24% do total nacional –, houve uma redução de 37% nos focos de incêndio no primeiro semestre de 2025.

Prevenção de incêndios
Foto: Divulgação/Black Jaguar Foundation

Prevenção e combate ao fogo

No sul dos estados do Pará e Tocantins, região de transição entre os biomas Amazônia e Cerrado, a Black Jaguar Foundation (BJF) mantém um trabalho preventivo de referência, especialmente em zonas de restauração florestal. Todos os anos, em junho, antes da chegada do período crítico de seca, a ONG realiza um treinamento que envolve mais de 120 colaboradores, incluindo equipes operacionais, técnicas e administrativas, além dos coletores de sementes da iniciativa Ressemear.

Algumas edições anteriores do treinamento também envolveram brigadistas voluntários das 24 propriedades rurais parceiras ao longo do Corredor de Biodiversidade do Araguaia – área de atuação do instituto, às margens do rio Araguaia –, além de representantes das brigadas de incêndio e órgãos ambientais municipais. Em Caseara (TO), especialmente, a BJF contribuiu com a brigada de incêndio da cidade, inclusive com doação de equipamentos necessários para o trabalho.

O objetivo é preparar todo esse time para lidar com eventuais focos de incêndio, principalmente nas áreas em restauração sob responsabilidade da organização. O treinamento inclui uma etapa teórica, com orientações sobre o comportamento do fogo e formas seguras de atuação, e uma etapa prática, com o uso real dos equipamentos de combate, como abafadores, bombas costais, sopradores e caminhão-pipa. Para simular situações de emergência, parte da vegetação é incendiada sob controle, com acompanhamento da equipe técnica.

“Esse curso é fundamental para proteger todo o investimento feito nas áreas em restauração. São anos de trabalho intenso, recursos financeiros, esforço coletivo e naturais, como a água e o solo, que podem ser perdidos em questão de horas se um incêndio não for contido a tempo”, afirma Gleison Luz, técnico de segurança do trabalho da Black Jaguar. “Sem contar o impacto na fauna e na vegetação nativa, que muitas vezes não consegue escapar das chamas.”

A região de Santana do Araguaia impõe, segundo Luz, desafios logísticos importantes: as áreas em restauração ficam, em média, de 20 a 60 quilômetros de distância da sede da organização, no centro do município. A disponibilidade de água também é um fator crítico para o combate ao fogo. Para se antecipar a essas dificuldades, durante o período mais crítico de seca, além de transportar equipamentos de combate a incêndios para as áreas onde são realizadas as atividades de plantio e manutenção da restauração, a ONG mantém um caminhão-pipa arrendado no viveiro florestal e prepara toda a equipe para agir com rapidez e eficiência.

Os incêndios na região, especialmente nesta época do ano, geralmente têm origem em ações humanas negligentes, segundo o técnico. Entre as principais causas estão a queima de lixo, o descarte de bitucas de cigarro às margens de rodovias e estradas rurais, a presença de materiais como o vidro, que podem potencializar o calor solar, e até a realização inadequada de queima controlada em lavouras. Esses fatores, aliados às condições naturais do período de estiagem, como ventos intensos e baixa umidade, favorecem a propagação rápida do fogo.

Prevenção de incêndios
Foto: Divulgação/Black Jaguar Foundation

Ação rápida evitou danos maiores

No início do verão de 2024, o treinamento foi posto à prova durante o combate a um incêndio que começou numa propriedade vizinha a uma das áreas de restauração conduzidas pela Black Jaguar. As chamas avançaram rapidamente em razão da presença de pastagem seca, típica de áreas agropecuárias, e, em pouco tempo, atingiram mais de um hectare de vegetação já bem estabelecida na área restaurada.

A resposta foi imediata. Equipes da BJF chegaram ao local com o caminhão-pipa e atuaram em conjunto com trabalhadores das propriedades vizinhas, que já aguardavam o momento seguro para iniciar o combate direto às chamas, utilizando os equipamentos adequados. Graças à ação coordenada e ao preparo prévio, foi possível conter o fogo antes que atingisse o outro lado da nascente, onde também há plantios conduzidos pela organização.

Apesar dos danos, a área afetada demonstrou alta capacidade de regeneração. A equipe técnica do instituto realizou manutenção nos dias seguintes, com roçada e cuidados específicos para evitar o crescimento de gramíneas invasoras. A rebrota – nome dado ao novo crescimento de plantas após corte, queima ou estresse ambiental – foi considerada muito positiva nos meses seguintes.

“Com as mudanças climáticas e estiagens mais severas, a prevenção precisa ser, mais do que nunca, uma prioridade, e o combate, quando necessário, rápido e eficaz”, reforça Luz.

Sobre a Black Jaguar

A Black Jaguar Foundation atua na recuperação da vegetação nativa nos biomas Amazônia e Cerrado, em parceria com propriedades privadas situadas ao longo do rio Araguaia – atualmente com ações nos estados do Pará e Tocantins. A meta é restaurar mais de 1 milhão de hectares ao longo de 2.600 quilômetros para recuperação do Corredor de Biodiversidade do Araguaia, conectando os dois biomas e fortalecendo os serviços ecossistêmicos da região.

*Com informações da Black Jaguar Foundation

Publicidade
Publicidade

Relacionadas:

Mais acessadas:

Comissão de Direitos Humanos aprova criação da Política Nacional de Segurança dos Povos Indígenas

A proposta reafirma competências de vários órgãos de Estado relacionadas ao combate à violência contra os povos indígenas.

Leia também

Publicidade