Rio Acre neste sábado (21) marca 1,23 metro, menor nível em 53 anos. Foto: Andryo Amaral/Rede Amazônica Acre
Com 1,23 metro alcançado neste sábado (21), o Rio Acre chegou a menor marca registrada nos últimos 53 anos estabelecendo a seca de 2024 como a maior da história do estado. O manancial baixou dois centímetros desde a sexta (20).
Na sexta, o rio atingiu 1,25 metro pela segunda vez na história e igualou à menor cota já registrada anteriormente, de 1,25 metro em outubro de 2022. A medição, divulgada pela Defesa Civil municipal, ocorreu em menos de dois anos e diante de um cenário crítico de poluição do ar, apontado como ‘perigoso’ pelas plataformas de monitoramento desde o dia 2 de setembro.
As menores cotas já registradas são:
1,30 metro – 17 de setembro de 2016
1,29 metro – 11 de setembro de 2022
1,27 metro – 28 de setembro de 2022
1,26 metro – 29 de setembro de 2022
1,25 metro – 2 de outubro de 2022
1,25 metro – 20 de setembro de 2024
Essa nova baixa do nível já era prevista pela Defesa Civil Municipal, que faz medições diárias desde 1971. Até esta sexta, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema) registrou 62,40 milímetros de chuva.
A última chuva significativa registrada pela Defesa Civil Municipal foi dia 6 de setembro, quando choveu pouco mais de 10 milímetros.
O manancial em Rio Branco se encontra abaixo de 4 metros há mais de três meses, e está abaixo de 2 metros há exatos 97 dias.
Abastecimento
A seca severa atinge açudes, poços artesianos e igarapés. Pelo menos 37 comunidades de Rio Branco estão dependendo de abastecimento de água da Defesa Civil Municipal. Maria José Araújo, que mora há 14 anos no Ramal do Romão, disse que é a primeira vez que a região ficou sem água.
Uma equipe da Rede Amazônica Acre esteve na comunidade e conversou com os moradores. Com a estiagem severa, o açude que Maria José tirava água para tomar banho e lavar roupa está praticamente seco.
A única esperança da moradora é a chuva. “[Precisamos de várias] chuvas, do jeito que está aí”, lamentou.
Equipes da Defesa Civil de Rio Branco estão abastecendo as comunidades com caminhões-pipa em uma operação. Por dia, são 300 mil litros de água para cerca de 35 mil pessoas.
“Esse ano a gente começou um mês antes, dia 16 de junho, a atender elas [as comunidades]. E superou, o nível do Rio Acre está muito baixo. Então, nos estamos necessitando muito ajudar essa população dentro de Rio Branco”, disse o coordenador da Operação Estiagem, Marcos Sampaio.
Seca
O governo do Acre decretou emergência por conta da seca em 11 de junho, com validade até 31 de dezembro deste ano. Já a capital publicou o decreto em 28 de junho, com situação reconhecida pelo governo federal quase um mês depois, em 24 de julho.
Agora, em um cenário de seca que começou antes do esperado, no final de maio, a avaliação do órgão era de que seria possível ultrapassar a marca histórica de 2022, o que acabou se comprovando neste sábado. Segundo a Defesa Civil estadual, já há um plano de contingência para a situação, que abrange abastecimento na zona rural.
“Todos nós somos afetados pela seca extrema e suas várias consequências. Há impacto na produção, na agricultura, na pecuária, no abastecimento de água potável, incêndios florestais que emanam gases que afetam a saúde de todos nós”, explica o coordenador do órgão, coronel Carlos Batista.
Para evitar uma crise no abastecimento da capital, o Serviço de Água e Esgoto de Rio Branco (Saerb), construiu uma barragem próxima da captação das bombas da Estação de Tratamento de Água (ETA) II.
A barragem possui cerca de 30 metros de extensão. Se o rio continuar baixando, a ideia é aumentar esse aterro até próximo da outra margem. Atualmente, a capacidade de captação da água nas duas ETAs de Rio Branco está em 96%. Por enquanto, não há risco de racionamento.
O diretor-presidente do Saerb, Enoque Pereira, informou que já conversou com órgãos públicos sobre essa situação. O gestor alerta que todos os anos o problema fica mais grave e enquanto não for feito um serviço definitivo o problema vai ocorrer.
“Todo ano é pior do que o outro. Esse ano tá sendo o segundo pior em 54 anos. Então, a gente já sabe da gravidade do rio. Isso ocorreu em 2022 e agora em 2024. Os extremos estão muito próximos. Todo ano essa dificuldade vai se agravando. Então, a gente já estava com uma ideia de que isso ia acontecer. A gente se precaveu. Conversamos há dois meses com diversos órgãos pra discutir sobre isso. Eu não posso deixar a cidade sem água por conta de uma legislação”, explicou.
Os prejuízos incluem ainda:
- Bacia em situação de seca: Toda a bacia do Rio Acre em situação de alerta máximo para seca, agravada em razão da falta de chuvas na região, situação que já perdura há dois meses;
- População impactada: Mais de 387 mil pessoas são afetadas nas zonas urbana e rural de Rio Branco;
- Prejuízos: como resultado da seca, produtores perderam plantações e houve queda nas vendas. O baixo nível do manancial também afeta o transporte das mercadorias.
Neste ano, o cenário ocorreu antes do previsto, já que no dia 3 de setembro o manancial alcançou 1,30 metro e ficou em oscilação. O maior nível do mês foi de 1,32 metro, sendo que a oscilação ocorreu após fortes chuvas que caíram na região.
Em 2016, o Rio Acre atingiu 1,30 metro pela primeira vez. Esta marca foi, na época, considerada a pior da história da capital acreana. O Departamento de Pavimentação e Saneamento do Acre (Depasa) chegou a gastar mais de R$ 2 milhões em equipamentos e insumos para manter o abastecimento na cidade na época.
Depois de chegar até a marca, o rio voltou a subir, mas foram necessários mais nove dias até que voltasse a ficar acima dos dois metros.
Extremos climáticos
Especialistas ouvidos pelo Grupo Rede Amazônica já apontavam para a possibilidade de seca antecipada antes da publicação do decreto de emergência, quando o Rio Acre marcou 2,52 metros no dia 30 de maio, a menor marca para o mês. Desde o início de junho até este sábado, o nível do rio baixou 61 centímetros.
A situação contrasta com a vivenciada no início do ano, entre fevereiro e março, quando o manancial transbordou, e o total de chuvas chegou a 438 milímetros. Naquele momento, Rio Branco passou pela segunda maior enchente de sua história e fez com que mais de 11 mil pessoas deixassem suas casas.
Toda a Bacia do Rio Acre está em situação de alerta máximo para seca desde o dia 20 de junho, agravada em razão da falta de chuvas na região. Esta situação generalizada perdura há três meses.
Foi montado um gabinete de crise para discutir e tomar as devidas medidas com redução dos índices de chuvas e dos cursos hídricos, bem como do risco de incêndios florestais. O decreto com a criação deste grupo foi publicado no dia 26 de junho, em edição do Diário Oficial do Estado (DOE), e fica em vigência até dia 31 de dezembro deste ano.
No ano passado, o decreto de emergência foi publicado em outubro. O coordenador estadual da Defesa Civil, coronel Carlos Batista, disse que o plano estadual de contingenciamento já foi elaborado.
*Por Aline Nascimento, com a colaboração de Eldérico Silva, da Rede Amazônica AC