Em 2016 o fenômeno El Niño causou grandes prejuízos a toda região da Amazônia Internacional. Segundos dados do Centro Nacional de Informações Ambientais (em inglês, NOAA) o fenômeno de 2015 e 2016 foi considerado um dos mais fortes já registrados, com o aumento de 2,3ºC na superfície do oceano pacífico. O fenômeno está associado a região a diminuição da quantidade de nuvens na região, aumento da temperatura, aumento das queimadas e eventos climáticos intensos.
A Bolívia, por exemplo, foi um dos país da Amazônia mais afetado pelo El Niño. Em janeiro deste ano enchentes e chuvas de granizo, causadas pelo fenômeno climático, afetaram 20.600 famílias em 78 municípios da Bolívia com 14 pessoas mortas. O fenômeno causou diversas inundações no país que afetaram inclusive o transporte de alimentos pelo país. Entretanto, em dezembro desse ano, o Governo do país decretou estado de emergência nacional, devido a falta de água potável nas principais cidades do país. Segundo especialistas o El Niño foi um dos responsáveis pela diminuição do fluxo de água na região.
Outras regiões da Amazônia sofreram com o evento climático. Em janeiro o Estado do Acre sofreu com a diminuição das chuvas causadas pelo El Niño. O rio Acre apresentou o menor nível dos últimos 12 anos, com 3,57 metros. Segundo informações da diretora técnica do Instituto de Mudanças Climáticas (IMC), Vera Reis, o Acre esteve sob a pressão do evento climático. “O Acre esteve sob o efeito do El Niño, principalmente na porção oeste e sul da Amazônia Legal, onde está o estado”.
Segundo o Superintendente do Serviço Geológico do Brasil em Manaus, Marco Antônio Oliveira, o El Niño causou uma diminuição no nível da chuvas no período de cheia, e isso gerou uma estiagem mais severa em toda a região Amazônica. “O evento foi responsável por chuvas abaixo do esperado durante a cheia, e geraram secas mais severas em toda a região”, afirmou o superintendente.
Ainda em janeiro os municípios de Presidente Figueiredo, São Gabriel da Cachoeira, Santa Isabel do Rio Negro e Barcelos apontaram prejuízos na lavoura e pecuária devido a pouca ocorrência de chuvas. Para o setor primário, as chuvas são as principais fontes naturais para o cultivo de alimentos e pasto para o gado.
No dia 29 de setembro deste ano o Rio Acre atingiu a menor cota registrada nos últimos 45 anos. De acordo com o monitoramento realizado pela Defesa Civil, o manancial apresentou a marca de 1,49 metro em Rio Branco. O Governo do Estado teve que utilizar bombas para captar a água nas áreas mais profundas do rio.
Nuvem de fumaça das queimadas no norte do Mato Grosso vista do espaço. Foto: Reprodução/Nasa
QueimadasAlém da diminuição do nível dos rios, o El Niño também foi responsável pelas queimadas na região. Segundos dados de julho de 2016 feitas pelo Projeto Goddard, da Agência Espacial Americana (NASA), especialista na análise de dados climáticas e de queimadas, os efeitos duradouros de fenômeno projetavam uma temporada de fogo intenso na Amazônia durante todo o ano. Para 2016, as condições provocadas pelo fenômeno seriam mais intensas do que nos eventos que ocorreram em 2005 e 2010.
Em entrevista feita ao Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), o coordenador do Programa de Monitoramento de Queimadas e Incêndios Florestais do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Alberto Setzer, corrobora com a análise do Projeto Goddard. “Quando você tem um clima mais seco, as pessoas se aproveitam da situação e usam o fogo com mais frequência, aumentando as chances de propagação”, explica Setzer.
As consequências foram claras. Em toda a Amazônia foram registrados de janeiro a dezembro desse ano mais de 800 mil focos de incêndios, segundo dados do Inpe. O Estado do Mato Grosso liderou em 2016 o ranking de queimadas e incêndios florestais em 2016. Os satélites monitorados pelo Inpe registraram no Estado, desde janeiro, 3.602 focos de incêndio, ou seja, 31% a mais que o mesmo período de 2015.