Lagos Sentinelas da Amazônia: projeto investe no monitoramento e diagnóstico socioambiental

Iniciativa une ciência e saber tradicional para enfrentar os impactos das mudanças climáticas em lagos da Amazônia Central.

Foto: Bianca Darski

Uma reunião realizada na sede do Instituto Mamirauá, em Tefé (AM), no dia 21 de maio, marcou a abertura local do projeto ‘Lagos Sentinelas da Amazônia: Centro Transdisciplinar para Compreensão das Dinâmicas Socioambientais e das Águas Amazônicas sob Mudanças Climáticas’. A iniciativa reúne pesquisadores, gestores públicos e comunidades ribeirinhas com o objetivo de compreender e monitorar, de forma colaborativa, os impactos das mudanças climáticas nos lagos da Amazônia Central e possíveis soluções, especialmente para comunidades que vivem no entorno.

Leia também: Rio, lago ou lagoa? Saiba as diferenças e como a Amazônia desafia essas definições

Coordenado pelo pesquisador do Instituto Mamirauá, Ayan Fleischmann, o projeto é financiado pela chamada CNPq/MCTI/FNDCT nº 19/2024 – Pró-Amazônia e conta com a participação de 15 instituições nacionais e internacionais.

A iniciativa nasce diante de um cenário alarmante: secas históricas, como a de 2023, com temperaturas no Lago Tefé superiores a 40°C, e a morte de mais de 300 botos nos lagos Tefé e Coari, além de inúmeros impactos às populações ribeirinhas cujo modo de vida depende de lagos saudáveis. Tais eventos expõem a vulnerabilidade dos ecossistemas aquáticos amazônicos frente às mudanças climáticas.

“O projeto propõe um novo modelo de pesquisa baseado na cooperação entre cientistas e comunidades ribeirinhas, respeitando o conhecimento tradicional e unindo esforços para gerar dados confiáveis sobre os desafios que enfrentamos”, afirma Ayan Fleischmann, líder do Grupo de Pesquisa em Geociências e Dinâmicas Ambientais do Instituto Mamirauá e coordenador geral do projeto Lagos Sentinelas da Amazônia. “Queremos que os lagos se tornem verdadeiros sentinelas da Amazônia, capazes de indicar mudanças ambientais e sociais em tempo real. Para isso, precisamos da ciência aliada ao saber local”, reforça.

📲 Confira o canal do Portal Amazônia no WhatsApp

A reunião contou ainda com a participação ativa de diversas instituições locais, reforçando o caráter intersetorial e colaborativo da iniciativa. Estiveram presentes representantes da Defesa Civil de Tefé, das secretarias municipais de Meio Ambiente e Conservação (Semmac), Saúde (Semsa), Produção, Abastecimento e Pesca de Alvarães, e da Secretaria de Inovação, Tecnologia, Ciência e Desenvolvimento Econômico (Sedecti), além de integrantes da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), do Instituto Federal do Amazonas (Ifam), da Fametro Unidade Tefé, da Colônia de Pescadores Z4 e da Associação de Produtores Agroextrativistas da Flona de Tefé e Entorno (APAFE). A diversidade de atores presentes evidencia o compromisso coletivo com a preservação dos recursos hídricos e com o fortalecimento das ações locais frente aos desafios impostos pelas mudanças climáticas.

O envolvimento direto das comunidades é um dos pilares da iniciativa. Adrimar dos Santos Vidal, presidente da Associação de Produtores Agroextrativistas da Floresta Nacional de Tefé e Entorno (APAFE), destacou a relevância prática do projeto para os moradores da região.

“Esse projeto eu acredito que vem buscar melhorias pras comunidades nas questões das mudanças climáticas que vêm acontecendo nesses dois anos aqui na Floresta Nacional de Tefé, na região do lago, que as pessoas utilizam pra vir pra cidade, pra vender sua produção e também comprar seus alimentos pra levar pra comunidade. (…) Às vezes, nem a associação, nem as comunidades têm esse conhecimento de como está a água que elas usam, se está bem tratada ou não”, afirmou. Adrimar também ressaltou a expectativa de que a associação possa contribuir acompanhando os pesquisadores em campo, promovendo melhorias reais para as comunidades e para as futuras gerações.

Monitoramento em cinco lagos estratégicos da Amazônia

Será realizado o diagnóstico socioambiental e o monitoramento das águas de cinco lagos de alta relevância socioeconômica ao longo do Rio Solimões-Amazonas. O monitoramento de cada lago conta com a supervisão de uma instituição local:

  • Lago Tefé (coordenado pela equipe do Instituto Mamirauá)
  • Lago Coari (coordenado pela equipe da UFAM – Coari)
  • Lago Janauacá (coordenado pela equipe do Inpa)
  • Lago de Serpa (coordenado pela equipe da UFAM – Itacoatiara)
  • Lago Grande de Monte Alegre (coordenado pela equipe da UFOPA)

Esses sistemas aquáticos foram escolhidos por representarem diferentes contextos ambientais e de pressões antrópicas ao longo de mais de 1.400 km da Bacia Amazônica. O projeto combina monitoramento remoto via satélite com coletas mensais in loco e oficinas participativas com as comunidades. As ações incluem avaliação da qualidade e da dinâmica das águas, diagnóstico do saneamento básico, identificação de impactos sociais e culturais das mudanças ambientais e cocriação de soluções para os desafios identificados.

Foto: Bianca Darski

Protocolo de monitoramento com engajamento comunitário

Um dos principais resultados esperados é a criação de um Protocolo de Monitoramento Ambiental com Engajamento Comunitário para Lagos Amazônicos. Esse protocolo será construído com base em metodologias participativas e visa a fortalecer a capacidade das comunidades locais em lidar com eventos extremos e mudanças no regime hidrológico.

Além da geração de dados inéditos sobre a qualidade e a dinâmica das águas, o projeto visa fortalecer as instituições científicas locais, promover intercâmbios com universidades estrangeiras e capacitar moradores das comunidades ribeirinhas.

Caio Florindo, professor da Universidade Estadual do Amazonas (UEA), campus Tefé, destacou o potencial de integração entre ciência local e o projeto. “Conversamos sobre as possíveis contribuições que a nossa instituição pode trazer a esse projeto. A universidade tem dois projetos envolvendo qualidade de água, em poços artesianos e no Lago de Tefé. Nossos bolsistas podem ajudar na coleta e análise de parâmetros de caracterização de água do lago e dos poços artesianos, e podemos até ver alguma relação entre essas fontes, porque, provavelmente, estamos embaixo do mesmo aquífero”, explicou. “Isso seria interessante, por isso é muito importante essa colaboração entre instituições de pesquisa em nível local.”

Participam da iniciativa instituições como o Inpa, Ufam, Ufopa, UnB, Instituto Tecnológico Vale, Serviço Geológico do Brasil, universidades internacionais como a University of California Santa Barbara, Bangor University e o Cary Institute, entre outros parceiros.

*O conteúdo foi originalmente publicado pelo Instituto Mamirauá

Publicidade
Publicidade

Relacionadas:

Mais acessadas:

Rondônia tem recorde de exportações, empregos e uma das melhores economias do Brasil

O que é produzido no estado de Rondônia está ganhando visibilidade e dando retorno com alta de exportações.

Leia também

Publicidade