Os ecótonos, também conhecidos como zonas de transição, são regiões únicas que surgem do encontro entre dois ou mais biomas distintos. Essas áreas são marcadas pela coexistência de características ambientais, ecológicas e climáticas de cada bioma, o que resulta em uma biodiversidade extremamente rica e até mesmo nativa somente naquela zona. No Brasil, os ecótonos desempenham um papel vital na conservação da biodiversidade e nos processos ecológicos em larga escala. Entre os biomas que abrigam ecótonos de grande relevância, destaca-se a Amazônia.
De acordo com o geógrafo Valdir Soares, o bioma é uma dimensão espacial de maior abrangência em um contexto de classificação da paisagem terrestre.
“O ecossistema é mais complexo do que se pode imaginar, por exemplo, tanto de um tronco de uma árvore, um microecossistema, como um fragmento florestal, como um ecossistema. Ou até, de maneira mais flexível, descrever aqui um bioma, também um ecossistema. Mas de qualquer maneira, o ecótono se refere à faixa de transição entre um ecossistema e outro, entre um bioma e outro, nesse sentido”, disse.
Ainda segundo o Soares, a fase de transição entre um bioma e outro é de grande biodiversidade, porque é nela que se encontram espécies típicas de um bioma, como também espécies que são comuns de outro bioma.
“Quando você viaja para Boa Vista durante o dia, é possível observar a transição de paisagem entre o Amazonas e Roraima. É nítido a diferença da predominância da paisagem de um bioma estritamente arbustivo – temos muitas florestas, né? – , transitando para um bioma típico de cerrado, savana, que é o que acontece em parte de Roraima”, exemplificou.
Assim, a região amazônica é abrangente, pois dentro desse bioma se identificam diferentes ecossistemas. A savana descrita pelo professor faz parte do bioma amazônico, assim como áreas de campinas, várzea e igapó, já que a qualidade das águas dos rios também acabam dando essa diferenciação entre mata que ocorre em terra firme e a mata de áreas de inundação.
“Falar da Amazônia é descrever também diferentes composições de ecossistemas. Agora, do ponto de vista macro, considerando a dimensão espacial dos biomas, onde a gente tem uma transição do que seria floresta cerrado em direção à floresta amazônica, da caatinga também em direção à floresta amazônica. Nós temos faixas de transição que são os ecótonos. A própria mata dos cocais que ocorre no Maranhão está inserida entre a floresta amazônica e a caatinga”, contou o geógrafo.
Ecótonos na Amazônia
A Amazônia é o maior bioma do Brasil cobrindo aproximadamente 49% do território nacional. Por isso, sua vastidão é intercalada por regiões de transição que conectam a floresta tropical a outros biomas, como o Cerrado, o Pantanal e a Caatinga. Esses ecótonos são fundamentais para a manutenção dos fluxos ecológicos e climáticos e abrigam uma diversidade biológica que combina espécies típicas de diferentes biomas.
1. Amazônia-Cerrado
O ecótono Amazônia-Cerrado é uma das transições mais significativas e extensas do Brasil. Essa região se estende por estados como Maranhão, Tocantins, Mato Grosso e Pará. Caracteriza-se por uma mistura de formações vegetais: áreas de floresta densa, campos abertos, cerrados e matas de galeria. Além da diversidade vegetal, o ecótono abriga uma fauna variada, incluindo espécies adaptadas a diferentes graus de umidade e temperatura.
2. Amazônia-Pantanal
A transição entre a Amazônia e o Pantanal ocorre principalmente na região sudoeste de Mato Grosso. Essa área apresenta uma rica combinação de ecossistemas aquáticos e terrestres, influenciada pelas dinâmicas sazonais de água do Pantanal e pela umidade da floresta amazônica. Espécies como o jacaré-do-pantanal e diversas aves migratórias podem ser encontradas nesse ecótono.
3. Amazônia-Caatinga
No norte do estado do Maranhão e em parte do Piauí, ocorre o ecótono entre a Amazônia e a Caatinga. Essa zona de transição é marcada pela combinação de espécies adaptadas à seca da Caatinga e à umidade da Amazônia. A vegetação apresenta desde árvores mais densas e altas até arbustos xerófitos.