O monitoramento e o manejo dos quelônios ao longo do rio de quase 60 quilômetros são feitos pelos próprios ribeirinhos, treinados pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Com o apoio do instituto, três fiscais acompanham a desova das tartarugas, que vai de agosto a outubro. Mesmo sem poder para prender os infratores ou confiscar os animais, sua presença nas áreas, dia e noite, contribui para inibir a ação dos criminosos ambientais. “Nosso trabalho é conscientizar, dialogar com eles e mostrar que é crime. Os infratores que não colaboram, soltando as tartarugas capturadas, são denunciados à polícia”, esclarece Cunha.
O manejo requer cuidados especiais devido à ação de predadores naturais, como peixes e jacarés. Após a eclosão dos ovos, os ribeirinhos recolhem os filhotes e durante os primeiros quinze dias de vida eles se desenvolvem em tanques apropriados. “O cheiro forte de ovo e a fragilidade ao nascerem os torna presa fácil. Precisamos esperar que eles cresçam para que o casco fique duro e se tornem mais rápidos para fugir dos predadores”, afirma Manoel.
O gestor da reserva, nomeado há pouco mais de dois meses, percorre diariamente os tabuleiros (praias fluviais) onde tradicionalmente as tartarugas desovam, demarcando as covas e afugentando os pescadores infratores. “Teve ano em que foram identificadas mais de 800 covas nos tabuleiros do Médio Juruá. Esse ano não passaram de 170 até agora”, avalia. Segundo ele, em uma das ocorrências foram constatadas 18 tartarugas capturadas ilegalmente para o abate clandestino. “Nessa época, além das redes de pesca, os quelônios são apanhados diretamente nos bancos de areia, impedindo a desova”.
A Resex do Médio Juruá tem uma área de cerca de 280 mil hectares e abriga 480 famílias. Organizados em 43 comunidades ribeirinhas, vivem principalmente da pesca manejada do pirarucu e da venda da farinha.