Polinização de palmeiras como o açaí vale mais de R$ 700 milhões por ano na floresta amazônica

Açaí é a espécie mais importante da região e seu cultivo corresponde a 92% do montante associado à polinização.

Há pouco tempo, especialistas acreditavam que as palmeiras eram polinizadas principalmente pelo vento. Descobertas recentes mostram, no entanto, que a polinização dessas plantas, que resulta na produção dos frutos, depende de insetos como abelhas e besouros. Segundo estudo da Universidade Federal do Pará (UFPA) e do Instituto Tecnológico Vale (ITV) publicado nesta quarta (14) na revista científica “Arthropod-Plant Interactions“, o valor monetário do serviço feito por polinizadores na produção dos frutos das palmeiras da região amazônica chega a R$ 706 milhões por ano.

O açaí se destaca como cultura que depende de polinizadores para produção de frutos. Segundo as análises, 92% do valor monetário do serviço de polinização deriva desta produção agrícola, que tem predominância no estado do Pará.

A estimativa do valor da polinização foi feita por meio de análise de dados do Censo Agropecuário de 2017, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A análise apontou que o valor de produção de treze espécies de palmeiras da Amazônia Legal é equivalente a R$1,17 bilhões por ano. Cerca de 85% desse valor equivale à produção de açaí.

92% do valor monetário da polinização de abelhas e besouros deriva do açaí; cultura tem predominância no estado do Pará. Foto: Izaque Pinheiro/Embrapa Imagens

Algumas espécies analisadas dependem mais e outras menos do serviço de polinização, mas 60% do valor de produção agrícola das palmeiras vem do trabalho de polinizadores. No processo, os insetos transportam grãos de pólen de uma flor para outra, garantindo a produção dos frutos pelas plantas e a sobrevivência de outros insetos que se alimentam nas flores. Cerca de 61% dos valores da polinização estão associados exclusivamente à produção de frutos de palmeiras advindos de áreas de florestas.

“As palmeiras são muito importantes para as comunidades tradicionais que, muitas vezes, são extrativistas, ou seja, entram na floresta e coletam frutos, fibras e amêndoas”, aponta Tereza Cristina Giannini, pesquisadora do ITV e uma das autoras do estudo. “Por isso, esses valores que levantamos provavelmente estão subvalorizados”,

observa.

O cálculo chama a atenção para o valor dos polinizadores e de sua preservação. “Eles têm uma importância econômica muito grande, e é mais fácil compreender esses serviços prestados principalmente por insetos para a produção de alimentos a partir de cifras monetárias”, diz Giannini. Entre os principais polinizadores das palmeiras amazônicas estão as abelhas e os besouros. Estes últimos, segundo os cientistas, merecem atenção. “As abelhas são campeãs na polinização, todo mundo sabe, mas os besouros são particularmente importantes para as palmeiras”, afirma William de Oliveira Sabino, pesquisador do ITV e coautor da pesquisa.

Os efeitos das mudanças climáticas sobre os polinizadores são um tema de preocupação para os cientistas. “Existe um ciclo de dependência entre as pessoas e a floresta que, por sua vez, depende de polinizadores para continuar existindo. Então, aquilo que afeta o habitat natural dos animais pode afetar, consequentemente, a produção agrícola”, explica Sabino. O pesquisador defende que é preciso pensar em soluções para preservar os processos de polinização na região Amazônica diante das mudanças ambientais. 

*O conteúdo foi originalmente publicado pela Agência Bori

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