Maior do mundo? Pesquisadores realizam expedição para medir extensão do Rio Amazonas

Jornada teve como motivação a descoberta de uma nascente no rio Mantaro, no Peru.

Uma expedição quer provar se o Rio Amazonas é o maior do mundo. A jornada vai começar em abril de 2024 e será registrada em um documentário. A expedição recebeu o nome de ‘Rio Amazonas: do gelo ao mar’ e foi motivada após descoberta de uma recém-nascente no Rio Mantaro, no Peru

Os organizadores da expedição acreditam que a descoberta é a oportunidade ideal para provar que o Rio Amazonas é maior que o Rio Nilo, no Egito, em extensão. Um estudo do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), realizado em 2008, apontou que o Amazonas é o maior rio do mundo com 6.992 km em extensão. Já o Nilo possui 6.852 km de extensão.

Na época, o instituto usou imagens de satélite e levantamentos de campo que comprovaram que o Amazonas possui 140 quilômetros a mais que o Nilo.

Expedição quer descobrir se o Rio Amazonas é o maior do mundo. Foto: Aventura Produções

A expedição

A expedição que ocorre em 2024 busca documentar não apenas a extensão do Rio Amazonas. O documentarista Yuri Sanada, um dos líderes do projeto, disse que o grupo também vai mostrar a biodiversidade encontrada.

“A missão, além de tentar provar que o Amazonas é o maior rio do mundo, é apresentar a diversidade do bioma durante toda a expedição. Iremos documentar isso e mostrar para o mundo. Queremos chamar a atenção internacional para as nossas riquezas, que precisam ser preservadas”, 

afirmou.

Yuri Sanada é documentarista e será o responsável pela produção durante a expedição. Foto: Aventura Produções

Documentário

O projeto resultará em um documentário e em um filme educacional de formato IMAX, que será exibido em museus espalhados em mais de 40 países. “Vamos apresentar para o mundo essa super produção. Estaremos usando equipamentos que possuem uma qualidade superior, ou seja, será algo nunca antes visto. Toda a produção documentária será exibida para mais de 40 países, nos museus afora”, disse.

A expedição tem previsão de durar aproximadamente seis meses. O nome, ‘Rio Amazonas: do gelo ao mar’, faz referência à nascente e à foz do Rio Amazonas. O rio nasce nas geleiras da Cordilheira dos Andes (Peru), e deságua no mar, do lado do Oceano Atlântico.

“Existe um debate mundial sobre qual é o maior rio do mundo em extensão. Será se é o Nilo ou o Amazonas? Até hoje é um mistério geográfico. Apesar de ser difícil medir um rio, nós iremos tentar”,

reiterou Yuri.

Yuri Sanada afirmou que a expedição vai ser dividida em três etapas:

1º etapa da expedição – caminhada em barcos de rafting partindo da nascente no Rio Mantaro até o Rio Ene, no Peru
2º etapa da expedição – os participantes percorrerão o Rio Ene até o final do Rio Amazonas
3º etapa da expedição – os participantes vão cavalgar, sob cavalos, desde a nascente descoberta no Rio Mantaro ao Nevado Mismi (Peru), para documentar a história da região e dos primeiros exploradores do Rio Amazonas.

A expedição durará cerca de seis meses e percorrerá aproximadamente sete mil quilômetros. Foto: Aventura Produções

Rota

De acordo com o documentarista, a expedição percorrerá aproximadamente 7 mil quilômetros de água. Partirá dos Andes, no Peru, até chegar ao Oceano Atlântico.

“Iremos partir da recém-nascente descoberta no Rio Mantaro, no Peru, passando pelo Rio Apurimac, que dá origem ao Rio Ene. Ao encontrar-se com o Rio Urubamba, passa a ser chamado de Rio Tambo, e adiante é chamado como Rio Ucayali. Ao chegar na região Sul da Colômbia, já podemos chamar pela primeira vez de Rio Amazonas”, detalhou Yuri.

Após chegar ao território brasileiro, a expedição passará pelo Rio Solimões até alcançar o Rio Negro, no Encontro das Águas, em Manaus. A jornada continua até o Oceano Atlântico, no Pará.

No Amazonas, a expedição passará por cidades como Tabatinga e Manaus. No Pará, vai passar por locais como Alter do Chão e Belém, capital do estado.

Recém-nascente

A recém-nascente no Rio Mantaro (Peru) foi descoberta em 2012, pelo explorador e neurocientista norte-americano James Rocky Contos, segundo o documntarista Yuri Sanada.

Na época, James estava navegando de caiaque do rio Mantaro até a foz do Amazonas, quando identificou a recém-nascente, ou seja, uma nova nascente. Desde a descoberta de James, muitos pesquisadores e especialistas apontaram que na nova nascente seria o “ponto zero” do Rio Amazonas.

Barcos hídridos

A expedição vai usar três barcos hídricos na jornada. As embarcações contam com pedais e painéis de energia solar instalados na parte superior. Os barcos foram batizados de “Guaracy”, nome inspirado no Deus Sol da cultura tupi-guarani. Segundo a crença indígena, Guaracy é o criador de todos os seres vivos.

Construída com biorresina e fibras naturais, a embarcação busca apresentar uma alternativa sustentável para as comunidades locais. Os modelos foram criados por professores e alunos da Faculdade de Tecnologia de São Paulo (Fatec).
Yuri afirmou que pretende doar os planos e instruções de construção dos veículos híbridos a moradores da região amazônica. “Hoje, as comunidades ribeirinhas e indígenas utilizam motores a gasolina, combustível de difícil acesso e cujo custo, nessa área, chega a ser o dobro em comparação ao restante do Brasil. Desta forma, vamos doar os planos e instruções para a comunidade. Vamos apresentar uma alternativa limpa e sustentável para esses moradores”, comentou.
O barco ‘Guaracy’ foi construído essencialmente para a expedição. Arte: Aventura Produções

Equipe

Segundo o documentarista, os nomes das pessoas que compõem a equipe ainda serão divulgados. Mas ele antecipou que pelo menos 50 pessoas participarão da expedição. “Teremos aproximadamente 12 pessoas nos rios, e mais umas 6 pessoas participando da expedição nos cavalos. Se somarmos todas as equipes, podemos ter cerca de 50 pessoas participando diretamente na expedição”, explicou Yuri.


O documentarista disse, ainda, que a expedição contará com a participação de alunos das universidades (Harvard, Fatec e PUC Rio), e que os organizadores pretendem convidar a Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e a Universidade Federal do Pará (UFPA) a ingressarem no projeto.

“Estamos conversando com a Universidade Federal do Amazonas e a Universidade Federal do Pará. A ideia é que a expedição atraia pessoas que possuem algum projeto de ciência. O documentário tem como foco deixar um legado para alunos, comunidade e pessoas que se interessam pela Amazônia”, detalhou.

Toda a expedição vai ser registrada em vídeo pela “Aventura Produções”, produtora que tem feito produções cinematográficas para TV e streaming sobre aventuras, ecoturismo, antropologia e ações ambientais, desde 1996.

Primeira expedição

Em 2007, foi realizada a primeira expedição sul-americana organizada para definir de forma precisa onde nasce o Rio Amazonas. A expedição começou no mês de maio, e voltou do Peru com uma estimativa que coloca o rio como o mais extenso do mundo, com cerca de 6.800 km de comprimento.

Após os estudos, coordenados pelo Instituto Geográfico Nacional do Peru (IGN) com participação do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), foi possível concluir que a nascente fica na região do nevado Mismi, uma montanha ao sul do Peru, e não no monte Huagra, mais ao norte daquele país, como os geógrafos pensavam na década de 1960.

*Por Hariel Fontenelle, do g1 Amazonas

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