Pesquisadores analisam impacto ambiental do fluxo de pessoas e veículos nas areias das praias de Salinópolis

Famoso pelas praias de água salgada, o município de Salinópolis é um dos principais destinos dos paraenses.

Famoso pelas praias de água salgada, o município de Salinópolis é um dos principais destinos dos paraenses neste período de festas de fim de ano. Nos últimos anos, o turismo na área cresceu de forma significativa, principalmente pela realização de grandes eventos e shows com a participação de artistas nacionais que atraem uma grande quantidade de pessoas às suas praias, rios e balneários. 

Impulsionados por esta realidade, os pesquisadores do Grupo de Estudos de Nematoda Aquáticos, do Laboratório de Pesquisa em Monitoramento Ambiental Marinho da Universidade Federal do Pará (UFPA), Thuareag Monteiro Trindade dos Santos e Virag Venekey, desenvolveram um estudo sobre os impactos causados pela grande quantidade de pessoas e veículos à fauna das praias de Salinas intitulado ‘Efeitos das atividades recreacionais sobre a fauna bentônica em praias arenosas amazônicas’.


O trabalho analisou três praias do município – Atalaia, Farol-Velho e Corvinas – nos meses de junho, julho, agosto e setembro de 2017. Cada uma apresentava um cenário diferente para a análise e comparação de dados. 

A praia das Corvinas foi considerada a praia de controle da pesquisa, por proibir a entrada de carros. Já a praia do Atalaia foi considerada a área mais impactada, pelo seu alto fluxo de pessoas e carros. E, por fim, a praia do Farol-Velho foi considerada a área intermediária. 

Em cada uma delas, os pesquisadores coletaram amostras da fauna bentônica – organismos associados à areia que atuam na ciclagem de nutrientes da cadeia alimentar e possuem valor comercial – e amostras da areia, a fim de analisar os parâmetros do sedimento e como elas se modificam ao longo dos meses.
Foto: Divulgação/Prefeitura de Salinópolis

Com as análises, foi possível observar uma drástica redução na quantidade e diversidade de organismos bentônicos durante o período de veraneio (julho) nas praias do Atalaia e Farol-Velho, principalmente nos primeiros 100 metros da praia, em que o fluxo de carros era maior, além do aumento da compactação do sedimento dessas praias, causado pelo maior fluxo de carros e pessoas. A praia das Corvinas, por outro lado, manteve-se constante ao longo dos meses.

“Esses resultados mostram que as atividades recreativas não gerenciadas e desordenadas causam um impacto direto na fauna da praia e nas características deste ambiente. O aumento da compactação da areia causa o aumento da erosão costeira e o aumento do fluxo de carros também diminuiu a quantidade de organismos que vivem nessa área, importantes para a base de cadeia alimentar dos ambientes marinhos, por exemplo. Esperamos que esses resultados sirvam de base para futuros estudos e planos de gerenciamento e manejo desses locais, para que os impactos ambientais nessas áreas sejam mínimos”, detalha Thuareag dos Santos, um dos autores do estudo.

Praia do Atalaia, em Salinópolis, sofre os impactos da produção de lixo com o grande fluxo de banhistas e turistas durante o verão. Foto: Rodolfo Oliveira/Agência Pará

O estudo faz parte da tese de doutorado de Thuareag Monteiro Trindade dos Santos, apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Ecologia Aquática e Pesca do Núcleo de Ecologia Aquática e Pesca da Amazônia, em 2020. Orientado pela professora Virág Venekey, do Instituto de Ciências Biológicas, e coorientado pelo professor Marcelo Petracco, do Instituto de Geociências, ambos da UFPA, o trabalho já resultou na publicação de três artigos científicos, sendo um deles publicado na Marine Pollution Bulletin; e outro, na Marine Environmental Research, revistas reconhecidas pela divulgação de estudos na área de impacto ambiental marinho. 

“O trabalho apresentou, pela primeira vez, os impactos diretos de carros e banhistas na fauna marinha bentônica em praias da região amazônica. Com ele, conseguimos mensurar que, a longo prazo, as principais praias de Salinópolis podem se transformar em uma praia deserta, por exemplo. Mas, principalmente, mostrou a importância do isolamento de algumas áreas da praia, em que a circulação dos carros e de pessoas seja restrita ou impedida, para evitar que a fauna seja permanentemente impactada, sem possibilidade de recuperação”, completa a professora Virag Venekey, coautora do estudo.

Confira a pesquisa completa, em inglês, aqui. 

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