Entender as variações de densidade da madeira e de altura de árvores de espécies dominantes na Amazônia brasileira, com a finalidade de gerar estimativas mais confiáveis de estoques de carbono. Este é o objetivo do projeto de pesquisa da doutora em Ecologia e Biologia Tropical, Juliana Schietti.
De acordo com Juliana, a motivação desta pesquisa iniciou no doutorado, quando ela estava estudando a floresta ao longo da BR-319, estrada que liga Manaus (AM) a Porto Velho (RO), e observou que havia mudanças na altura da floresta, mas que essas não eram resultado de mudanças nas espécies ao longo da área.
“Foi daí que comecei a investigar o porquê dessa mudança na altura da floresta. Isso poderia ser resultado de variações na altura de árvores das mesmas espécies que ocorrem ao longo da estrada. Além disso, um estudo do qual eu fiz parte estimou que a Amazônia possui 16 mil espécies de árvores, mas que apenas 1% dessas espécies corresponde à metade das árvores da Amazônia, e é nessas espécies que nós estamos focando para entender essas variações de altura”, disse.
Segundo Juliana, essas espécies dominantes têm uma grande importância para entender a bioquímica da floresta, como por exemplo, os estoques de carbono, e muitas delas têm utilidade para o homem. Portanto, conhecê-las ajudará a entender melhor como a floresta funciona e como isso vem afetar diretamente a sociedade, pelo manejo dessas espécies, por exemplo.
Entender as variações na altura e densidade da madeira das árvores é relevante para os cálculos de biomassa, quantidade que cada árvore armazena de madeira, matéria, carbono etc, e com isso, quantificar o valor da floresta em pé no mercado de carbono ou verificar em um desmatamento ou queimada, o quanto foi perdido de biomassa e o quanto de carbono poderá ser liberado para a atmosfera, podendo influenciar no clima da Amazônia, do Brasil e no clima global.
Novas possibilidades
Os impactos dessa pesquisa, de acordo com Juliana, serão indiretos para a sociedade, mas afetarão diretamente a comunidade científica, pois poderá alterar a maneira como os cálculos de estoques de biomassa e carbono são feitos. Atualmente os cálculos não consideram diferenças dentro de espécies e, de acordo com Schietti, se for encontrado variações entre árvores de espécies dominantes, então isso deverá ser considerado nos levantamentos de campo e nos cálculos de biomassa futuros.
“Quando o Brasil libera anualmente as estimativas de desmatamento, o passo seguinte é calcular quanto de biomassa florestal foi perdida e quanto de carbono poderá ser liberado para a atmosfera, contribuindo para o efeito estufa. Para ter estimativas confiáveis, é preciso conhecer as características do ambiente, das florestas e de suas espécies”, explicou a doutora.
O solo, a quantidade de água existente nele e o clima podem influenciar quais espécies estão presentes e as suas características, o que por fim afeta os estoques de biomassa e carbono da floresta. Portanto, é preciso entender isso tudo para se chegar a estimativas confiáveis. Além disso, os resultados dessa pesquisa poderão ser utilizados em manejo florestal também, porque poderá ser possível conhecer melhor as espécies e, com isso, ter bases ecológicas para os planos de manejo de recursos madeireiros, por exemplo.
O estudo é fomentado pelo Governo do Amazonas, por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), através do Programa de Apoio à Pesquisa – Universal Amazonas, em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e o Centro de Estudos Integrados da Biodiversidade Amazônica (CENBAM).
Para a pesquisadora, o incentivo da Fapeam vem colocar o Amazonas na liderança em pesquisas científicas na região, atendendo a demandas locais, que devem estar entre os principais objetivos. “Fazer pesquisas voltadas para o benefício da nossa região é possível por conta da Fapeam, que investe em projetos de temas diversos. Isso traz retornos consideráveis para a Amazônia, que pode contar com pesquisadores que trabalham com projetos voltados para a região. Continuar com esse processo é essencial para a Ciência, Tecnologia e Inovação do nosso Estado”, finalizou.