O objetivo é oferecer base científica para ajudar as técnicas de manejo apropriadas e políticas mais eficientes no controle de incêndios
A chamada “Temporada de fogo” na Amazônia está prevista para acontecer no próximo mês de agosto e preocupa os pesquisadores. A intensidade da temporada está prevista para acontecer devido ao clima mais seco e a fragilização das estruturas de fiscalização e de combate a incêndios florestais. Dados recentes mostram que no ano de 2020 houve o maior número de focos de queimadas em uma década, de acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), além de apontar nos últimos 2 anos, o aumento dos índices de desmatamento na Amazônia e queimadas registradas na região, aumento que não havia sido detectado desde 2015.
Com isso, 11 pesquisadores realizaram uma pesquisa voltada para auxiliar na identificação do comportamento do fogo nos biomas brasileiros, pois, segundo os autores, os biomas e ecossistemas brasileiros variam em resposta e vulnerabilidade ao fogo.
Em ecossistemas como campos graminosos e savanas, como Cerrado e Campos Sulinos, caracterizados pela dominância de gramíneas. As plantas e animais apresentam diversas adaptações e sinergias com o fogo. Com o manejo controlado do fogo, previne a acumulação de biomassa, evitando incêndios acidentais. Enquanto queimadas acidentais ou criminosas causam o descontrole do fogo, provocando a degradação do ambiente.
Já nas florestas tropicais, como Amazônia e a Mata Atlântica, o ecossistema não é adaptado ao fogo e não queimam com facilidade, exceto quando sofrem de extrema seca ou degradação, quando ficam mais vulneráveis aos incêndios. Quando essas florestas se incendeiam, de forma natural ou provocada, o fogo pode causar sérios efeitos negativos à biodiversidade, classificando-as como “sensíveis ao fogo”.
“De um modo geral, ecossistemas dependentes de fogo se beneficiam de queimadas para a manutenção de sua biodiversidade e de seus processos ecológicos, enquanto que o contrário ocorre no caso de ecossistemas sensíveis ao fogo. O impacto causado por um incêndio num dado ecossistema, seja ele dependente ou sensível em relação ao fogo é determinado pelo regime de fogo, ou seja, o padrão apresentado pelo tipo de queimada, sua frequência, sazonalidade, intensidade e extensão”, explicam os autores do estudo.
Entretanto, com o aumento das atividades agropecuárias e as mudanças climáticas, os regimes considerados “naturais” de fogo têm sido modificados, levando a uma maior frequência e crescimento das áreas queimadas, além da alteração de época de queima.
A pesquisadora Ima Vieira, ressalta que como na Amazônia, cujas florestas são vulneráveis, às queimadas costumam ser criminosas, consequência do desmatamento.
“O desmatamento está muito elevado na Amazônia desde março e ninguém desmata sem tocar fogo depois para limpar a área para cultivo ou para especulação de terra, então a situação já preocupa antes mesmo do início da temporada do fogo, que começa em agosto”, comenta.
Diante desse cenário, ela classifica como alarmante o desmonte das políticas ambientais e a banalização do impacto dos incêndios ao meio ambiente, economia e saúde.
Segundo os autores, as políticas de combate aos incêndios devem ser melhoradas por meio da colaboração entre diferentes setores da sociedade, com 5 pontos essenciais para o gerenciamento eficaz: base de informação adequada, integração de políticas de manejo de fogo e das terras, agências governamentais equipadas e bem treinadas, definição de uma agenda de pesquisa nacional, educação e divulgação.
*Com informações do Museu Paraense Emílio Goeldi