ONU: relatório sobre clima é “alerta vermelho”

Documento de 3.500 páginas sobe o tom com relação à gravidade da questão climática e aponta principais problemas.

O relatório sobre o clima, publicado nesta segunda-feira (9) pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), é um “alerta vermelho” que deve fazer soar os alarmes sobre as energias fósseis que “destroem o planeta”. A afirmação foi feita pelo secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres.

O relatório mostra uma avaliação científica dos últimos sete anos e “deve significar o fim do uso do carvão e dos combustíveis fósseis, antes que destruam o planeta”, segundo avaliação de Guterres, em comunicado.

Reprodução: WWF

O secretário pede que nenhuma central de carvão seja construída depois de 2021. “Os países também devem acabar com novas explorações e produção de combustíveis fósseis, transferindo os recursos desses combustíveis para a energia renovável”, acrescentou Guterres.

O relatório estima que o limiar do aquecimento global (de + 1,5° centígrado), em comparação com o da era pré-industrial, vai ser atingido em 2030, dez anos antes do que tinha sido projetado anteriormente, “ameaçando a humanidade com novos desastres sem precedentes”.

“Trata-se de um alerta vermelho para a humanidade”, disse António Guterres. “Os alarmes são ensurdecedores: as emissões de gases de efeito estufa provocadas por combustíveis fósseis e o desmatamento estão sufocando o nosso planeta”, disse o secretário.

No mesmo documento, ele pede igualmente aos dirigentes mundiais, que se vão reunir na Conferência do Clima (COP26) em Glasgow, na Escócia, no próximo mês de novembro, que alcancem “sucessos” na redução das emissões de gases de efeito estufa.

“Se unirmos forças agora, podemos evitar a catástrofe climática. Mas, como o relatório de hoje indica claramente, não há tempo e não há lugar para desculpas”, apelou Guterres.

Relatório

De acordo com o documento do IPCC, a temperatura global subirá 2,7 graus em 2100, se se mantiver o atual ritmo de emissões de gases de efeito estufa. No novo relatório, que saiu com atraso de meses devido à pandemia de covid-19, o painel considera vários cenários, dependendo do nível de emissões que se alcance.

Manter a atual situação, em que a temperatura global é, em média, 1,1 grau mais alta que no período pré-industrial (1850-1900), não seria suficiente: os cientistas preveem que, dessa forma, se alcançaria um aumento de 1,5 grau em 2040, de 2 graus em 2060 e de 2,7 em 2100.

Esse aumento, que acarretaria mais acontecimentos climáticos extremos, como secas, inundações e ondas de calor, está longe do objetivo de reduzir para menos de 2 graus, fixado no Acordo de Paris, tratado no âmbito das nações, que fixa a redução de emissão de gases de efeito estufa a partir de 2020, impondo como limite de subida 1,5 grau centígrado.

O estudo da principal organização que estuda as alterações climáticas, elaborado por 234 autores de 66 países, foi o primeiro a ser revisto e aprovado por videoconferência.

Os peritos reconhecem que a redução de emissões não terá efeitos visíveis na temperatura global até que se passem duas décadas, ainda que os benefícios para a contaminação atmosférica possam ser notados em poucos anos.

Veja as principais conclusões do relatório do IPCC sobre a crise climática

Única maneira de parar o aquecimento é acabar com as emissões de gases de efeito estufa: quanto mais demora, mais quente fica

Assim como o relatório claramente culpa a poluição do carbono pelo aumento das temperaturas, também está claro que a única maneira de desacelerar e, eventualmente, reverter o aquecimento é reduzir as emissões de gases de efeito estufa a zero.

Evitar 1,5 grau de aquecimento é quase impossível, mas ainda podemos continuar aquecendo em torno desse limite crítico e evitar o agravamento dos impactos decorrentes da aproximação e dos 2 graus de aquecimento.

Evitar esses impactos acarretará cortes significativos nas emissões de gases de efeito estufa – se adotados imediatamente. Se as emissões continuarem a aumentar, o mundo atingirá 2 graus de aquecimento – possivelmente antes de 2050 – e atingirá 3 graus antes do final do século.

Os impactos climáticos são graves em todas as regiões do planeta e irão piorar Aqui estão alguns impactos específicos e o que o relatório tem a dizer sobre eles:

    • Ondas de calor: ondas de calor extremas, como a mortal que ocorreu no noroeste do Pacífico e no Canadá no início deste verão, já são cerca de cinco vezes mais prováveis ??de ocorrer com nosso aquecimento atual de pouco mais de 1 grau Celsius. Com aquecimento de 2 graus, essa frequência aumenta para 14 vezes mais probabilidade de ocorrer. As ondas de calor estão ficando mais quentes e, com 2 graus de aquecimento, as temperaturas mais altas chegariam a quase 3 graus Celsius (5 graus Fahrenheit) mais altas do que as ondas de calor anteriores.
    • Secas: A mudança climática está aumentando a frequência e a gravidade das secas – como a atual seca que assola o oeste dos Estados Unidos. Secas severas que costumavam ocorrer em média uma vez por década agora estão ocorrendo cerca de 70% mais freqüentemente. Se o aquecimento continuar a 2 graus, essas secas ocorrerão até três vezes mais do que ocorrem atualmente.
    • Inundações: As mudanças climáticas estão intensificando o ciclo da água em ambos os lados. Embora uma evaporação mais intensa leve a mais secas, o ar mais quente pode reter mais vapor de água para produzir chuvas extremas (como vimos acontecer de forma dramática na Europa Ocidental e na China neste verão). Em média, a frequência de inundações já aumentou cerca de 30% e contêm cerca de 7% a mais de água.
    • Furacões: Os furacões estão ficando mais fortes e produzindo mais chuva à medida que as temperaturas globais aumentam. Já foi observado que, globalmente, um percentual maior de tempestades está atingindo as categorias mais altas (categorias 3, 4 e 5) nas últimas décadas. Espera-se que isso continue à medida que as temperaturas sobem.
    • Aumento do nível do mar: O nível do mar está aumentando em todo o mundo. Isso está piorando as enchentes da maré alta e as tempestades. Em 2100, segundo o relatório, as inundações costeiras que ocorrem uma vez a cada século ocorrerão, pelo menos, uma vez por ano em mais da metade das costas de todo o mundo.
    • “Whiplash” do clima: A mudança climática não está apenas aumentando a severidade do clima extremo, está interrompendo os padrões naturais, levando ao “whiplash do clima”, que são oscilações violentas entre extremos secos e úmidos. Isso foi experimentado recentemente na Califórnia, com “rios atmosféricos” causando inundações destrutivas em um ano e secas extremas causando escassez de água logo no ano seguinte.

    Algumas mudanças são irreversíveis – mesmo nos cenários de emissões mais baixas

    O aquecimento que já ocorreu gerou mudanças que persistirão mesmo que as emissões parem e as temperaturas se estabilizem, relata o estudo.

    Os mantos de gelo continuarão derretendo por centenas a milhares de anos, de acordo com o relatório, o que fará com que o nível do mar suba bem e permaneça mais alto por milênios.

    Prevê-se que o nível do mar suba de 2 a 3 metros em 2300, mesmo se o aquecimento for mantido abaixo de 2 graus, mas pode chegar a 5 a 7 metros ou mais se o aquecimento continuar inabalável.

    Emissão de gás metano

    Este relatório aponta para outro vilão na crise climática – o metano – um gás que contém mais de 80 vezes o poder de aquecimento do planeta no curto prazo.

    Dados mais recentes mostram que os índices de metano na atmosfera está disparando e atualmente é o maior em 800 mil anos, em grande parte por causa de uma combinação de vazamentos de gás natural e agricultura e pecuária insustentáveis.

    Considerando seu enorme potencial de aquecimento e sua vida útil mais curta na atmosfera em comparação com o dióxido de carbono, o controle do metano poderia reduzir significativamente o aquecimento global nas próximas décadas.

    O relatório do IPCC, embora extensos em ciência e exaustivos em escopo e detalhes, contêm muito pouco na sugestão de políticas para remediar a crise climática. Este relatório, por exemplo, é puramente os fatos científicos e as previsões para o futuro.

    Os principais relatórios do IPCC que virão no próximo ano entrarão em mais detalhes sobre impactos específicos e formas de mitigá-los, mas antes disso, os líderes globais se reunirão em uma conferência climática liderada pela ONU em novembro, no que está sendo anunciado como a reunião de política climática mais importante desde o Acordo de Paris, que foi assinado em 2015.

    “Como o relatório de hoje deixa claro, não há tempo para atrasos e nem espaço para desculpas”, declarou o secretário-geral da ONU esta manhã, enquanto implorava aos líderes do governo que garantissem que a COP26 fosse um sucesso para “evitar a catástrofe climática”.

    (*)Com informações da Agência Brasil

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