Foto: SplitShire via Pixabay
Poucas sensações são tão universais quanto o cheiro de terra molhada. Para algumas pessoas, esse cheiro pode representar a lembrança de momentos de infância. Para outras, a chegada do período das chuvas.
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O fato é que existe uma explicação científica para esse odor tão específico que consiste na combinação química de dois elementos: petricor e geosmina.
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O que é o petricor?
De origem grega, petros significa ‘pedra’ e ‘chor” quer dizer “o fluido que passa pelas veias dos deuses”. O termo foi cunhado em 1965, pelos geólogos australianos Isabel Joy Bear e R.G Thomas em uma publicação da revista científica internacional Nature.
Contudo, o processo pelo qual o petricor é liberado no ar foi descoberto no ano de 2015 quanto pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachussetts (MIT), nos Estados Unidos (EUA), conseguiram utilizar câmeras de alta velocidade para identificar que mecanismo liberava esse odor.
Assim, o petricor é uma mistura de compostos orgânicos, um acúmulo que ocorre durante os períodos de seca e estiagem, quando algumas plantas liberam óleos que se acumulam no solo e nas rochas.
O processo para a “terra molhada”
Quando ocorrem as chuvas, as moléculas de petricor são liberadas na superfície em pequenas gotículas de aerossol. Porém, o que forma o cheiro característico de “terra molhada”, não é apenas o petricor, e sim pela combinação deste com outro composto químico: a geosmina.
A geosmina (Streptomyces coelicolor) é um composto orgânico produzido por bactérias, cianobactérias e fungos e pode ser encontrado em água, solo e até mesmo em alguns alimentos.
O resultado da combinação dessas duas substâncias é o aroma fresco e característico que conhecemos da terra molhada. Vale ressaltar que esse fenômeno não é específico de uma região, como a amazônica, mas de qualquer ecossistema onde há solo seco e bactérias no ambiente.
Outra curiosidade é que a geosmina pode se misturar também com outras substâncias. Por exemplo, se houver uma trovoada e tiverem partículas do composto, a geosmina pode alterar o ozônio atmosférico, dando origem a um cheiro de queimado.
Uma questão evolutiva?
É comum, quando se tem contato com ambientes de maior densidade de plantas, como na Amazônia, se dizer que sente um “cheiro de terra molhada”.
Mas ainda não existe um consenso científico sobre a razão do cheiro de terra molhada ser considerado um odor agradável para grande parte das pessoas. Contudo, uma teoria aponta para o fato dessa “agradabilidade” ser uma questão evolutiva.
Na teoria, os ancestrais, vivendo em ambientes secos, talvez tivessem desenvolvido uma sensibilidade especial a esse aroma, que indicava que a estação seca estava prestes a terminar e as chuvas se aproximavam e, portanto, o amadurecimento de colheitas, simbolizando um período de fartura.
A antropóloga Diana Young, da Universidade de Queensland, na Austrália, que estudou a cultura do povo Pitjantjatjara, na Austrália Ocidental, observou que eles associam o cheiro da chuva à cor verde, sugerindo a ligação profunda entre a chuva e a expectativa de crescimento das colheitas, além da presença de animais de caça, cruciais para a dieta desse povo. Ela chamou isso de “sinestesia cultural” (a sinestesia é uma figura de linguagem que associa sensações de sentidos diferentes, como a visão com a audição).
Por fim, o cheiro pode ter um efeito emocional: ativa regiões do cérebro relacionadas à memória e à emoção, trazendo sensações de conforto, nostalgia e segurança.
E aí? Você já sabia disso?