Na Amazônia existem mais de 2 milhões de espécies de animais. Segundos dados do União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, em inglês) deste número aproximadamente 348 espécies que vivem na Amazônia estão vulneráveis ou ameaçados de extinção. De acordo com a pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Camila Ribas, o número de animais exclusivamente amazônicos, as chamadas espécies endêmicas, em processo de extinção pode ser muito maior do que o analisado pelo IUCN.
Pesquisadora e Curadora da Coleção de Recursos Genéticos Animais do Inpa, Camila Ribas acredita que inúmeras espécies de aves, primatas e outros animais ainda são desconhecidos pela ciência. Um dos casos famosos é o boto do Araguaia, uma espécie que vive no rio Araguaia, no Estado de Tocantins, e que tem muitas semelhanças com o boto cor-cor-de-rosa. Por causa da aparência similar pesquisadores acreditavam se tratar de uma mesma espécie.
Através de amostras do sangue dos animais foi possível em 2014 identificar a nova espécie. Fazendo um levantamento posterior foi possível notar a quantidade limitada de indivíduos da espécie. “Sem que soubéssemos, essa espécie poderia ter sido extinta. Muitos outros animais da fauna amazônica podem estar sendo extintos sem que saibamos”, afirma a pesquisadora.
Segundo ornitologo e pesquisador do do Museu Paraense Emílio Goeldi, Alexandre Aleixo, a Amazônia tem atualmente 1000 espécies de aves dos quais 300 espécies são endêmicas. Do total de espécies endêmicas aproximadamente 30 espécies já são consideradas ameaçadas de extinção, segundo o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA).
Segundo ele espécies endêmicas podem ocorrer devido ao processo de separamento de uma espécie. “Imagine que a população de um animal foi dividida ao meio devido ao surgimento de um braço do rio. Ao longo das gerações essas duas espécies vão naturalmente se diferenciar uma da outra e apresentar características distintas. Por isso muitos animais na Amazônia que se parecem muito são na verdade de espécies diferentes”, afirma o pesquisador.
Para a pesquisadora Camila Ribas, uma das maiores barreiras geográficas de divisão de animais de terra firme na Amazônia são os rios. De acordo com ela, pesquisadores dividem a Amazônia em 8 grandes áreas de endemismo. Entre eles estão as áreas de terras divididas pelos rios Negro, Solimões, Madeira, Tapajós e Xingu.
Um outro caso recente envolvendo o descobrimento de espécies na região aconteceu na Usina Hidrelétrica de São Luiz do Tapajós. Uma espécie de ave especificamente de áreas de várzea foi descoberta por pesquisadores no Pará. A espécie estava distribuída pelas ilhas fluviais da região. “A construção iria suprimir todo o hábitat dos indivíduos dessa espécie. Felizmente o Ibama cancelou o processo de licenciamento da hidrelétrica de São Luiz do Tapajós reconhecendo a inviabilidade ambiental do empreendimento”, afirma.
Segundo ela é muito importante o papel de catalogação de espécies na Amazônia. “Há as vezes algumas restrições com relação as pesquisas de base na Amazônia. Entretanto só realizando esses levantamento e estudando essas espécies é possível entender a ação do homem e do meio ambiente sobre esses animais”, finaliza a pesquisadora.