Monitoramento por satélite é utilizado para conservação de botos no Peru

O monitoramento foi utilizado para rastrear os movimentos do boto-cor-de-rosa e identificar as medidas necessárias para sua conservação.

O boto-cor-de-rosa (Inia geoffrensis) é uma espécie classificada como ‘Em Perigo’ na Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza. Apenas em setembro de 2023, mais de 150 desses animais morreram na Amazônia brasileira, possivelmente devido ao aumento da temperatura da água e à seca. Por esse motivo, os cientistas estão explorando novas formas de preservar essa espécie, e os países estão se esforçando para protegê-la.

Um novo estudo científico utilizou o monitoramento via satélite para rastrear os movimentos da espécie e identificar as medidas necessárias para sua conservação. A pesquisa foi realizada em duas áreas: Reserva Pacaya Samiria e Nucuray, Loreto, perto de Yurimaguas, no Peru. Oito botos foram monitorados.

“Optamos por usar transmissores satelitais porque não sabíamos até que ponto um boto poderia se deslocar, qual era sua extensão de movimento. Este estudo ajudou a responder essas perguntas”, 

explica Elizabeth Campbell, autora principal do estudo e pesquisadora associada da Universidade Científica do Sul.

Foto: Divulgação/Agência Andina

A pesquisa descobriu que os oito botos em ambas as áreas tinham uma extensão de movimento de aproximadamente 54 quilômetros quadrados. Além disso, eles tinham uma área central onde passavam 95% do tempo, que era de 17 quilômetros quadrados. Os botos da Reserva tinham uma área central menor em comparação com os próximos a Yurimaguas. Entre as principais ameaças à espécie, foram identificadas a degradação do habitat, o risco da pesca e as ameaças à infraestrutura aquática.

Foto: Divulgação/Agência Andina

“Fomos financiados pela WWF Peru para realizar a parte do estudo de habitats no Peru. Eles tinham grupos de pesquisadores na Bolívia, Brasil, Colômbia, como parte da Iniciativa de Botos da América do Sul (SARDI), conduzindo estudos com transmissores satelitais. No Peru, esses foram os primeiros botos a passarem por esse procedimento”, detalha Campbell, que conduziu essa pesquisa como parte de sua tese de doutorado na Universidade de Exeter (Reino Unido). 

O estudo foi realizado em duas áreas visando contrastar o movimento dos botos em diferentes regiões.

“Por um lado, a Pacaya Samiria é um local sobre o qual já se sabe bastante em relação aos botos, com publicações desde aproximadamente 1995, mas em Yurimaguas não há pesquisas. Além disso, Yurimaguas é uma área mais ameaçada, pois não é uma área de reserva. Achamos interessante ver se um boto em uma reserva se move de maneira semelhante a um boto em uma área totalmente exposta”, explica a pesquisadora.

Foto: Divulgação/Agência Andina

Para preparar o estudo, pesquisar as áreas e obter as permissões necessárias, os pesquisadores precisaram de cerca de seis meses. Para a colocação dos transmissores nos botos, foram necessários cinco dias em Pacaya Samiria e um dia em Yurimaguas, com a ajuda de pescadores. “É uma diferença interessante, pois envolve um pescador mais comercial e outro de subsistência, com tipos de experiência diferentes”, comenta.

Jeffrey C. Mangel (Universidade de Exeter), Jose Luis Mena (Universidade Ricardo Palma), Ruth H. Thurstan (Universidade de Exeter), Brendan J. Godley (Universidade de Exeter) e David March (Universidade de Exeter) também participaram do estudo. 

Como foi o processo de monitoramento dos botos? 

Os transmissores foram colocados em oito botos. Para monitorá-los, cada um tinha um código atribuído ao transmissor colocado. “Por meio de cada código, podíamos acompanhar para onde o boto estava indo através de um site e identificar quais transmissores ainda estavam ativos. Quando os oito terminaram de transmitir, coletamos os dados e realizamos a análise”, detalha Campbell. 

Foto: Divulgação/Agência Andina

Quais foram os resultados da pesquisa? 

“Descobrimos que os botos na Reserva tinham uma área de habitat e uma área central menor do que os que estavam próximos a Yurimaguas. Este é um resultado interessante, mas não conclusivo devido à amostra que tivemos. Seria importante investigar em uma escala maior”, 

destaca a pesquisadora.

Quanto ao tipo de movimento, a pesquisadora observa que as variações em Pacaya Samiria e Yurimaguas podem estar relacionadas ao acesso aos recursos pelos botos. “A Reserva Pacaya Samiria é mais limitada em comparação com Yurimaguas. Além disso, a Reserva possui mais recursos, então os botos não precisam se deslocar tão longe para se alimentar e se abrigar”, explica. 

Quais ameaças estão presentes para os botos? 

A degradação do habitat, o risco da pesca e as ameaças à infraestrutura aquática são as principais ameaças aos botos e outras espécies marinhas, destaca Campbell.

“Descobrimos que praticamente 90% da área dos botos estava em competição com pescadores ou era utilizada para algum tipo de pesca. Quanto às ameaças à infraestrutura aquática, a hidrovia e a hidrelétrica amazônica representam uma ameaça, pois muitas áreas dos rios serão dragadas, modificando as características físicas da água, o que também implicará em muito ruído para os botos”, 

adverte a especialista.

“Além disso, após a instalação, haverá um aumento no tráfego de barcos, o que trará mais ruído e a possibilidade de colisões com os botos, que estarão em média a 125 quilômetros do local de dragagem mais próximo e a 252 quilômetros da represa proposta mais próxima. Embora não pareça muito próximo, para os botos, o efeito é sentido. Todos os peixes podem mudar sua distribuição. Isso criará uma modificação significativa em seu habitat”, alerta.
Foto: Divulgação/Agência Andina

Recomendações para preservar o habitat dos botos: 

 – Considerar os botos na legislação da Amazônia. “É importante não apenas avaliar os benefícios econômicos que esses contratos podem trazer, mas também considerar os efeitos negativos na fauna amazônica e nas comunidades locais”, destaca a pesquisadora.

– Considerar medidas para prevenir desastres e tragédias relacionadas às mudanças climáticas e à ciência de maneira oportuna. “Os tomadores de decisão costumam esperar até o ponto de ruptura para agir. Isso não deveria ser assim”, reflete.

– Utilizar a tecnologia para realizar pesquisas e conservar espécies. “O uso de monitoramento via satélite, transmissores de DNA ambiental e drones são exemplos de ferramentas que podem ajudar no Peru a obter mais informações e implementar uma rede de vigilância nacional. Talvez, com guardas florestais, os drones possam ser usados para monitorar áreas remotas do rio sem ter que percorrer todo o rio de barco, facilitando o monitoramento”, conclui.

Foto: Divulgação/Agência Andina

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