Mineradora recorrerá da decisão de suspenção da licença do Projeto Volta Grande

A Justiça do Pará determinou a suspensão da licença de instalação do Projeto Volta Grande, localizado no município de Senador José Porfírio, sudoeste do Estado, nesta terça-feira (21). A empresa responsável pelo projeto, Belo Sun Mineração, emitiu uma nota afirmando que recorrerá da decisão do juiz Álvaro José da Silva Sousa, da Vara Agrária de Altamira.

O juiz suspendeu a Licença de Instalação (LI) do Projeto Volta Grande por 180 dias e determina que a empresa Belo Sun não pratique qualquer atividade enquanto não realocar as famílias da área que o projeto será executado. 

Na nota, a empresa se diz “desapontada com a decisão judicial, mas entende que questionamentos são esperados e fazem parte do curso normal da instalação de empreendimentos importantes”. Além disso, informa que, no curso do licenciamento ambiental, já preparou um ‘Programa de Realocação, Negociação e Inclusão Social’, “que beneficiará as Vilas Ressaca e Galo, tendo em vista que ambas fazem parte da Área Diretamente Afetada (ADA) do seu empreendimento”.

“Seguindo as melhores práticas relacionadas às realocações (Padrão nº 5 do Banco Mundial), as famílias dessas áreas foram cadastradas em duas campanhas censitárias, em 2012, durante a fase de Licença Prévia (LP), com o acompanhamento de representante da Prefeitura de Senador José Porfírio e comissão de moradores. O processo de realocação se dará com a participação e consulta dos beneficiados. Ainda em 2017, a empresa atualizará o cadastro socioeconômico e discutirá o planejamento da realocação com os moradores. A empresa tomará as medidas legais cabíveis para reverter a decisão e se mantém aberta ao diálogo com todas as autoridades competentes”, completa a empresa canadense.

Caso mantenha as atividades, a Belo Sun poderá pagar R$ 10 mil por dia como multa. O juiz também pdeiu a retirada de placas que restrinjam a livre circulação das populações rurais da Vila Ressaca, Galo, Ouro Verde. Na área, vivem 977 famílias em cinco comunidades diferentes.

“A decisão não é sobre o mérito da condição das terras sobre as quais o empreendimento minerário obteve licença de instalação e muito menos sobre a delimitação e demarcação da área, mas sim sobre a duração (demora) do procedimento administrativo com relação as famílias que lá se encontra. O órgão governamental, o Incra ou Iterpa, ou outro que venha a ser indicado, está inteiramente livre para encaminhar o tema. O que não se pode é que as famílias moradoras das áreas em questão fiquem sem saber que destino terão, por tempo indefinido e desarrazoado, ainda mais neste momento em que a licença de instalação foi concedida”, diz o despacho. A informação é do G1 Pará.

Justificativa

Em coletiva nesta quarta-feira, o diretor da empresa, Mauro Barros, afirmou que estão abertos ao diálogo. Segundo a empresa, em outra nota, Barros ressaltou que a realocação de famílias de área de influência do empreendimento “não poderia ter sido feita antes da emissão da LI. A construção do Projeto Volta Grande foi autorizada pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas), recentemente, no dia 2 de fevereiro”.

“A realocação de comunidades é um tema bastante sério, que é tratado dessa forma pela nossa empresa. Não podemos movimentar as pessoas apressadamente. Precisamos respeitar o tempo das famílias e possibilitar a melhoria das suas condições de vida, assim como a manutenção dos seus usos e costumes”, avaliou.

Licença de Instalação

De acordo com a Belo Sun, a Licença de Instalação (LI) do Projeto Volta Grande possui 79 condicionantes, com prazos que variam de 30 dias a três anos. A condicionante nº 06, por exemplo, determina que a empresa apresente a análise do cronograma do Programa de Realocação, Negociação e Inclusão Social, em 30 dias. Durante 90 dias, de acordo com a condicionante nº 17, a Belo Sun Mineração também realizará o acompanhamento social da população que deverá ser realocada independente da alternativa de atendimento escolhida – indenização monetária ou reposição do imóvel.

Durante todo o curso da instalação do empreendimento e da realocação das famílias, a empresa informará suas ações às autoridades competentes, por meio de reuniões e relatórios de acompanhamento e visitas em campo. “Estamos confiantes na reconsideração ou reversão dessa liminar, para que possamos dar continuidade a instalação desse empreendimento tão importante para o desenvolvimento da região de Senador José Porfírio e Altamira”, afirmou o representante da Belo Sun Mineração.

Entenda

Desde 2012 o projeto da mineradora Belo Sun é polêmico, porque especialistas acreditam que danos irreparáveis ao meio ambiente podem ser causados em função da exploração da área. Em janeiro de 2013, houve uma audiência pública para discutir o projeto em que pelo menos 450 pessoas compareceram, entre garimpeiros, ribeirinhos e índios.

Em dezembro de 2013, o Conselho Estadual de Meio Ambiente (Coema) aprovou a concessão da licença prévia para o projeto Volta Grande. Já em janeiro deste ano, a Semas promoveu, oficinas participativas para tratar do empreendimento de mineração. Foi a primeira vez que o órgão se juntou à empresa para realizar as oficinas participativas, onde cerca de 1,2 mil pessoas compareceram. 

Exploração de ouro deve render mais de R$ 60 milhões em royalties para o Estado. Foto: Reprodução/Shutterstock

No último dia 2, o Governo do Estado, através da Semas, expediu a Licença de Instalação (LI) em favor da empresa canadense para extração de ouro, com 12 anos de vida útil – em que a empresa deve pagar mais de R$ 60 milhões em royalties de mineração para o estado – e monitoramento de oito anos após o fechamento da mina. Esta é a licença suspensa pelo juiz Álvaro Sousa.

O projeto apresenta a previsão de 2.100 empregos diretos em fase de implantação e 526 na fase de operação, contando com programas de comunicação social, educação ambiental, programa de realocação, negociação e inclusão social, além da capacitação de mão de obra, com qualificação profissional de integração e inclusão de jovens e adultos, saúde e segurança, apoio à gestão pública local, monitoramento de indicadores socioeconômicos, fomento ao desenvolvimento, estudos arqueológicos e educação patrimonial.

A área do Projeto Volta Grande está localizada no município de Senador José Porfírio, a cerca de 50 km a sudeste de Altamira, a 60 km da hidrelétrica de Belo Monte e a 10 km das terras indígenas Arara de Volta Grande e Paquiçamba. O garimpo e a atividade agropecuária são as principais atividades econômicas desempenhadas nas comunidades de Vila da Ressaca, Garimpo do Galo e Garimpo do Ouro Verde, que estão localizadas no empreendimento.

Publicidade
Publicidade

Relacionadas:

Mais acessadas:

Ranking mostra que Tocantins tem melhor índice de sustentabilidade social da Região Norte

Dados são do Ranking de Competitividade dos Estados, divulgado pelo Centro de Liderança Pública (CLP).

Leia também

Publicidade