Foto: Reprodução/ICMBio
A Amazônia é conhecida por sua vasta biodiversidade e, entre os milhares de visitantes que chegam à região todos os anos, muitos vem do céu. São aves migratórias que, em busca de abrigo e condições mais favoráveis de sobrevivência, percorrem milhares de quilômetros para passar uma temporada nos céus amazônicos.
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Em entrevista ao Portal Amazônia, o ornitólogo do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Mario Cohn-Haft, explicou como funciona o processo migratório das aves que visitam a região anualmente.
“Quando falamos de migração no caso dos animais, estamos nos referindo a um movimento regular, cíclico e previsível, indo e voltando entre dois lugares. Por exemplo, aves que se reproduzem na América do Norte e migram para a Amazônia no período não reprodutivo. Depois, retornam no ano seguinte para procriar novamente”, explicou o especialista.
Segundo ele, a Amazônia funciona como área de invernagem para muitas dessas espécies. Ou seja, enquanto não estão reproduzindo, as aves vão até a região amazônica para aproveitar o clima ameno e a abundância de recursos naturais.
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Além das espécies norte-americanas, aves que vivem no sul da América do Sul, como Argentina e Uruguai, também sobem em direção à Amazônia durante o inverno de seus países de origem, fugindo do frio intenso e da escassez de alimento.
Cohn-Haft destaca que as espécies residentes na Amazônia, em sua maioria, não precisam migrar, justamente por viverem em um ambiente estável e favorável ao longo de todo o ano.
“Reproduzir é a parte mais difícil do ciclo anual. Se você consegue fazer isso aqui, não há motivo para sair. A Amazônia oferece clima e alimento o ano inteiro. Por isso, as aves que vivem e se reproduzem aqui normalmente não migram”, afirmou.

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Fenômeno ancestral
Mas como as aves sabem quando migrar ou para onde ir? Segundo o ornitólogo, a migração não é uma escolha individual, mas uma característica evolutiva da espécie.
“É um comportamento que foi se moldando ao longo de milhares, ou até milhões, de anos. Não sabemos ao certo como isso surgiu, mas é algo que permanece muito estável dentro de uma espécie”, explicou.
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Apesar disso, algumas exceções intrigam os pesquisadores. Um exemplo citado por Cohn-Haft é o de uma espécie de andorinha que normalmente migra da América do Norte para invernar na Amazônia entre setembro e abril.
Porém, há cerca de 40 anos, uma população dessas andorinhas deixou de retornar ao norte e começou a se reproduzir na Argentina. Desde então, essa nova população se estabeleceu no sul da América do Sul, mudando completamente seu padrão migratório.
Quando a exceção confirma a regra
Embora a maioria das aves amazônicas não migre, há exceções dentro da própria fauna local. Espécies que dependem das praias temporárias dos rios amazônicos para reprodução, como o talha-mar, são obrigadas a se deslocar quando o nível dos rios sobe.
“Essas praias só existem durante a estiagem. Quando a cheia cobre tudo, essas aves desaparecem. Sabemos que vão embora, mas ainda não sabemos para onde. Falta fazer mais estudos de rastreamento para identificar seus destinos”, afirmou o pesquisador.
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A migração das aves é um dos fenômenos mais impressionantes da natureza. Para os cientistas, continua sendo uma fonte de descobertas e, para muitos, até de inspiração, como nas músicas que celebram o retorno das andorinhas e marcam o tempo com a regularidade de seus voos.
