Marapuama: o potencial medicinal e econômico de uma planta amazônica

A Marapuama ocorre naturalmente na floresta de terra firme da Amazônia brasileira é encontrada também na Guiana Francesa, Guiana e Suriname.

Foto: Maša Sinreih/ Wikimedia Commons

A marapuama (Ptychopetalum olacoides Bentham) é uma das espécies mais conhecidas da flora amazônica por suas propriedades medicinais e valor econômico. Popularmente chamada também de “muirapuama” ou “miranãa”, a planta é nativa da região Norte do Brasil e pertence à família Olacaceae. A árvore, de pequeno porte, tem sido amplamente utilizada por comunidades tradicionais e por indústrias farmacêuticas, alimentícias e cosméticas.

O nome marapuama tem origem nas palavras indígenas muira (lenho ou árvore) e puama (forte ou potente), o que reflete o significado de “árvore da força”.

A espécie ganhou notoriedade por suas propriedades e uso tradicional, que é registrado há séculos entre os povos indígenas amazônicos. Segundo os autores da obra ‘Plantas Medicinais da Amazônia – Bioeconomia e Desenvolvimento Sustentável de Cadeias Produtivas‘, “a espécie Ptychopetalum olacoides Bentham é amplamente utilizada por suas propriedades estimulantes e afrodisíacas, sendo exportada para diversos países”.

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Durante o início do século XX, o interesse comercial pela marapuama levou à exportação de grandes quantidades da planta, o que resultou em falsificações e substituições de espécies. A exploração intensa e sem manejo adequado colocou a planta em situação de risco.

Características botânicas e químicas da marapuama

A marapuama ocorre naturalmente na floresta de terra firme da Amazônia brasileira e é encontrada também na Guiana Francesa, Guiana e Suriname. No Brasil, sua presença é mais marcante nos estados do Amazonas, Pará e Amapá.

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As pesquisas relatadas no livro apontam que, embora a planta apresente elevado potencial medicinal, é surpreendente a escassez de dados fitoquímicos disponíveis sobre a espécie.

Os estudos científicos publicados nessa obra identificaram nas raízes e cascas da planta substâncias como óleos essenciais, esteroides, taninos e alcaloides.

Dentre seus compostos mais estudados estão o β-sitosterol, lupeol, α-pineno, canfeno e cânfora. Tais componentes têm sido associados a propriedades antioxidantes e neuroprotetoras.

Além disso, foram observados efeitos antidepressivos e antiestresse. “O efeito neuroprotetor identificado na marapuama pode ser explicado pela sua capacidade em melhorar a eficácia da rede celular antioxidante no cérebro, diminuindo o estresse oxidativo”, aponta a publicação.

Outras pesquisas recentes, realizadas com camundongos, apontam ainda que a marapuama pode atuar na melhoria da memória e na recuperação pós-isquemia cerebral.

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Cadeia produtiva e usos industriais

A exploração da marapuama ainda é predominantemente extrativista. Segundo dados da obra, ‘Plantas Medicinais da Amazônia – Bioeconomia e Desenvolvimento Sustentável de Cadeias Produtivas‘, a produtividade pode atingir de 3 a 4 toneladas por hectare ao ano, com retorno de até cinco anos.

No entanto, a falta de incentivos para o cultivo sustentável e o corte indiscriminado das raízes contribuíram para a redução das populações naturais.

O derivado vegetal da espécie é usado em indústrias farmacêuticas, de cosméticos e bebidas. A marapuama é utilizada como flavorizante natural (substâncias, naturais ou sintéticas, usadas para adicionar ou intensificar o aroma e o sabor de alimentos, medicamentos e outros produtos) em bebidas energéticas e alcoólicas.

Na indústria farmacêutica, é encontrada em extratos, tinturas e cápsulas manipuladas. Um dos exemplos citados é o fitoterápico Catuama, que combina a marapuama com outras plantas de uso medicinal, como guaraná e gengibre.

Além do uso industrial, o extrato da planta é encontrado em feiras e mercados regionais da Amazônia, onde é comercializado como pó ou em chás medicinais. Entre suas aplicações populares estão o combate ao reumatismo, à fraqueza sexual, às dores musculares e à fadiga.

marapuama

Aspectos socioculturais e regulatórios

O uso tradicional da marapuama está enraizado na cultura amazônica. Povos indígenas e comunidades ribeirinhas utilizam a planta em infusões e banhos medicinais para tratar males neuromusculares, gastrointestinais e reumáticos.

Um estudo etnobotânico citado na obra, realizado na Floresta Nacional do Amapá, registrou que “o uso de plantas medicinais no tratamento de problemas de saúde faz parte da cultura local”, e que a marapuama é considerada eficaz no tratamento de impotência sexual e dores musculares.

No mercado internacional, a espécie é comercializada em diferentes formas, incluindo cápsulas, extratos secos e suplementos multivitamínicos. Ela compõe dezenas de produtos fitoterápicos voltados à melhoria do desempenho físico e cognitivo.

Do ponto de vista legal, a marapuama é reconhecida em farmacopeias brasileiras e estrangeiras desde o início do século XX. Atualmente, o uso e o acesso ao patrimônio genético da planta são regulados pela Lei da Biodiversidade (Lei nº 13.123/2015), que busca garantir a repartição justa dos benefícios e coibir a biopirataria.

Os autores enfatizam que “a Lei da Biodiversidade representa um instrumento de proteção aos recursos genéticos a fim de evitar que conglomerados internacionais se apropriem de forma ilegal destes recursos”.

Importância econômica e ambiental

A marapuama representa, assim, uma cadeia produtiva promissora para a bioeconomia amazônica. Seu aproveitamento sustentável pode gerar renda para comunidades locais e contribuir para a conservação da floresta. No entanto, a ausência de manejo florestal e de regulamentação do cultivo coloca a espécie sob risco de extinção.

De acordo com os autores da obra, é necessário o desenvolvimento de técnicas de domesticação e cultivo sustentável para garantir a preservação da espécie e o fortalecimento de sua cadeia de valor.

Assim, a marapuama continua sendo um símbolo da relação entre biodiversidade, saber tradicional e desenvolvimento econômico na Amazônia, reunindo potencial científico, medicinal e sociocultural.

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