Uma vez aprovado pelo governo federal, o PronaSolos passará à fase de execução, que pode levar entre dez e 30 anos, estimou o chefe-geral da Embrapa Solos, unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) sediada no Rio de Janeiro, Daniel Vidal Perez. O programa vai mapear o território brasileiro e gerar dados com diferentes graus de detalhamento para subsidiar políticas públicas, entre outras aplicações.
Perez explicou que a maioria dos trabalhos de reconhecimento dos solos brasileiros foi feita nas décadas de 70 e 80, mas a representatividade do conhecimento do solo por área é muito baixa. “Nos números atuais, aproximadamente, é como se eu tivesse conhecimento do solo a cada 150 mil hectares, o que, para uma necessidade estadual ou mesmo municipal, é inviável”. As escalas de mapeamento existentes no país são em torno de 1 por milhão, “na melhor das hipóteses”.
Ele informou que o número de informações disponíveis é muito pequena para o Brasil. Nos Estados Unidos, a escala de conhecimento dos solos é de 1 centímetro para cada 25 mil centímetros. “O nível de detalhe, de conhecimento, é muito melhor”, comentou Perez.
Estudo completo
O PronaSolos será um estudo completo do tipo de solo em profundidade, informação necessária para, por exemplo, incentivar projetos de irrigação ou calcular o estoque de carbono para mitigar as emissões de gases de efeito estufa, por meio da manutenção ou do sequestro desse carbono em solo. “Mas, para isso, é preciso conhecer o solo em profundidade e em detalhe. E essa informação, infelizmente, nós não temos”.
Alguns estados das regiões Sul e Sudeste têm informação melhor, mas no resto do país os dados são reduzidos, disse o chefe-geral da Embrapa Solos. São áreas desconhecidas em que não há informações sobre o tipo de solo. “Às vezes, a gente encontra solos que não são esperados”. Na Amazônia, por exemplo, há forte influência dos Andes. “Essa influência nunca foi analisada, é forte e muito presente”. Ele disse ainda que mesmo na região de crescimento da agricultura brasileira, que abrange partes do Maranhão, Tocantins, Piauí e da Bahia, o conhecimento desses solos é muito baixo. O PronaSolos permitirá que os dados sejam mais precisos, inclusive em relação aos insumos e nutrientes de que necessitam para que não haja, entre outros problemas, a contaminação de águas subterrâneas.
Daniel Perez advertiu que se não forem tomados agora os cuidados necessários com o solo do país, “daqui a 50 ou 100 anos a gente vai estar pagando o preço da ignorância”. O representante da Embrapa lembrou que o solo é um dos componentes da produção e, em termos ambientais, é talvez o mais importante. “Tudo passa por ele. Se você não tratar bem o solo, vai ter sérios problemas”.
Resposta
Diante das projeções de crescimento populacional nos próximos anos, Perez destacou que a agricultura do Brasil é uma das que apresentam melhores possibilidades de resposta. O PronaSolos vai fornecer dados para que o país obtenha ganhos de produtividade. “Vai dar informação necessária para que se estabeleçam políticas de uso eficiente e mais adequado dos diversos insumos agrícolas, entre eles o fertilizante”. Ele chamou a atenção para o fato de que a informação detalhada será útil até na definição do local onde deverão ser colocadas linhas de transmissão de energia elétrica.
A execução do PronaSolos demandará investimentos públicos e privados que poderão alcançar R$ 1 bilhão, para um trabalho básico a ser feito no prazo de 30 anos, ou R$ 3 bilhões para um trabalho que poderá ser feito em dez anos. O PronaSolos deverá gerar ganhos para o Brasil de R$ 40 bilhões, em uma década. Uma vez aprovada sua estrutura, a execução do programa será imediata. “Nós estamos correndo contra o tempo”. Os Estados Unidos, que são um dos principais competidores do Brasil, já têm esse conhecimento e não precisam mais investir nessa área. “Mas nós precisamos”, disse Daniel Perez.
O chefe-geral da Embrapa Solos destacou que o desconhecimento dos tipos de solo provoca ineficiência da produção e da produtividade, problemas ambientais, como assoreamento de rios. Já o conhecimento do solo vai aumentar a competitividade do agronegócio nacional, criando até modelos de produção. Para isso, é preciso ter dados que ainda não existem, acrescentou.