O jucá é uma árvore amazônica muito utilizada como remédio caseiro para diversas enfermidades.
O jucá (Libidibia ferrea) é uma árvore amazônica muito utilizada por amazônidas como remédio caseiro para diversas enfermidades. E pode ser transformado em um novo medicamento alternativo associado à medicação preconizada pelo Ministério da Saúde (MS), o Glucantime, para agir como coadjuvante no tratamento da Leishmaniose tegumentar, doença infecciosa que compromete pele e mucosas. A planta também conhecida como pau-ferro está em estudo no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTIC).
De acordo com o farmacêutico e doutorando em inovação farmacêutica Bruno Jensen, a pesquisa está em fase de experimentação pré-clínica e restrita a roedores. Os resultados mostraram que o grupo controle que não recebeu tratamento teve uma evolução clínica das lesões cutâneas de 300% maior que o período do inóculo inicial (aquele que dá origem às primeiras infecções) do parasita. Já as lesões tratadas com a microemulsão desenvolvida (formulação translúcida) incorporada com a fração substância encontrada no jucá (diclorometano) tiveram um crescimento de apenas 25%.
Já na comparação entre os grupos tratados – um com a microemulsão e o outro com o Glucantime – medicação preconizada pelo Ministério da Saúde (MS) como primeira escolha para o tratamento da leishmaniose -, foi possível observar que não houve diferença estatística quanto à evolução das lesões.
Na opinião de Jensen, isto significa um aspecto bastante positivo, pois o tratamento desse tipo de leishmaniose poderia ser complementado com o produto microemulsionado, à base de jucá, aumentando a eficácia do tratamento das feridas e reduzindo os efeitos colaterais apresentados a partir da administração da medicação única indicada pelo MS. “A partir daí surge à necessidade de novas alternativas para buscar um medicamento mais eficaz e com menos efeitos colaterais”, alerta Jensen.
Atualmente os pesquisadores conseguiram desenvolver um fitoterápico tópico, composto menos refinado por se tratar do uso de parte da planta, como alternativa da terapia para a Leishmaniose. Os próximos passos da pesquisa é desenvolver um fitofármaco com a molécula isolada mais ativa e incorporada na formulação farmacêutica. “Com isso, será possível viabilizar um medicamento com maior eficácia e com mínimas reações adversas. No momento, estamos abertos a colaboradores para proporcionar o avanço da pesquisa que já vem demonstrando resultados positivos”.
Fitofármaco
Durante um ano de experimentação (2017), a pesquisa foi objeto de mestrado do farmacêutico Bruno Bezerra Jensen. O grupo de pesquisa do Laboratório de Leishmaniose e Doenças de Chagas do Inpa vem investigando os estudos de frações da árvore do jucá que já tinham apresentado resultados satisfatórios. Agora, a pesquisa prossegue no doutorado em Inovação Farmacêutica da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) com orientação da pesquisadora do Inpa, a doutora Antonia Maria Ramos Franco, líder do grupo de pesquisa.
Na opinião de Franco, o desenvolvimento de novos fármacos é importante e de extrema necessidade para um País que necessita reduzir os custos com relação ao tratamento de uma doença considerada negligenciada – aquelas causadas por agentes infecciosos ou parasitas e que afetam, principalmente, as pessoas de menor poder aquisitivo.
De acordo com Franco, apesar de tratar-se da vagem do jucá e de suas propriedades farmacológicas, o creme tópico utiliza outras substâncias que juntos auxiliam no tratamento. “Nosso creme é uma formulação própria feito em laboratório, então, não basta pensar que usando o chá ou ralando a vagem e aplicando na ferida que se terá o mesmo resultado ou a cura. Isso não vai acontecer”, alertou.
Busca de parceiros
“Somos especialistas na realização de pesquisas científicas envolvendo este tipo de enfermidade, que é considerada um grande problema mundial, não só no Brasil”, diz a pesquisadora. “Agora, estamos iniciando uma nova etapa que vem a ser a busca por parceiros que tenham interesse em produzir esse fitoterápico à base de jucá em escala industrial, como método alternativo auxiliar no tratamento da leishmaniose e estamos abertos para novas parcerias”, ressalta Franco.
Jucá
Distribuído amplamente nas regiões Norte e Nordeste, o jucá possui entre outras comprovadas propriedades terapêuticas ações antissépticas, antienvelhecimento, antioxidante e antipigmentação. Também atua como adstringente, antidiarreica, cicatrizante, sedativa, tônica, anti-inflamatória, expectorante e afrodisíaca.
Leishmaniose
Causada por protozoários do gênero Leishmania, a leishmaniose é dividida em tegumentar (LT), que ataca pele e mucosas, e visceral (LV), conhecida como calazar, que atinge órgãos internos como fígado e baço. A LT possui alta capacidade de produzir deformidades.
A doença é transmitida ao homem e outras espécies de mamíferos por insetos vetores ou transmissores chamados de flebotomíneos, também conhecidos como birigui, cangalhinha e mosquito-palha. A LT, único tipo registrado no Amazonas, é tratada principalmente com Glucantime e Pentamidina, injeções dolorosas que contribuem para que muitos pacientes desistam do tratamento.
Por ano, as leishmanioses afetam cerca de 2 milhões de pessoas no mundo, com registro anual de 0,7 a 1,3 milhão de novos casos da tegumentar, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, em 2015 foram registrados 19.395 casos de LT, 72% deles no Norte (8.939) e Nordeste (5.152) do Brasil, conforme dados do Ministério da Saúde (MS). O Amazonas ocupa a terceira posição com maior número de casos do Brasil (1.645), ficando atrás apenas do Pará (3.610) e Maranhão (1.684). Os casos identificados no Estado são encaminhados para tratamento nas Fundações de Medicina Tropical e Alfredo da Mata.