Quem tem 50 anos ou mais, com certeza lembra de uma Manaus antiga bem mais limpa do que a atual. As ruas não tinham lixo esparramado pelas calçadas e os igarapés não eram cheios de garrafas PET, e outros dejetos, além de não serem poluídos. Hoje o lixo toma conta do planeta e para combatê-lo surgiu o movimento Lixo Zero.
Em Manaus, ainda timidamente, alguns jovens começaram a prática do Lixo Zero num empreendimento, o Vila Vaga Lume que, além de promover essa prática radical de nunca produzir lixo, adota outras iniciativas inusitadas como reunir numa residência o sistema da economia criativa. No restaurante, por exemplo, onde o cardápio é vegano, cada um paga o quanto acha que valeu a comida, a bebida e o serviço.
“Nosso objetivo é melhorar o mundo. Queremos ser agentes transformadores, por isso o lixo zero está inserido nessa melhora de mundo. Tentamos, diariamente, não produzir lixo algum. Levamos sacolas de pano para o supermercado ou feira, aqui no restaurante não usamos guardanapos de papel, nem copos descartáveis. Descartáveis aqui não são bem-vindos”, falou Flávia Loureiro, 20 anos, a responsável pelo restaurante junto com o marido João Jarmi. Flávia contou que começou a pensar assim quando parou para refletir sobre a quantidade de lixo que produzia em casa e isso multiplicado pelo lixo produzido no mundo. Logo convenceu o marido e os amigos mais próximos a segui-la.
Em 2015, de acordo com o site do Juventude Lixo Zero, produzia-se no mundo em torno de 1,4 bilhão de toneladas de lixo no planeta. E eles perguntam: pra onde vai todo esse lixo? Temos o costume de jogar ‘fora’, porém, do ponto de vista do planeta, não há “fora”.
Flávia e João Jarmi dividem a casa com os casais Maurício e Vivi, que produzem artesanato e pequenos quadros com imagens de figuras principalmente do cinema e da música; Igor e Kelly, músicos; e Breno, publicitário e apaixonado por agricultura. Breno cultiva o jardim do local e uma horta onde constam desde temperos, plantas medicinais e plantas alimentícias não convencionais (pancs). E ainda faz ornamentos e decoração com plantas.
A vida comunitária que levam os jovens da Vila Vagalume lembra bem as comunidades hippies surgidas no planeta, principalmente nos Estados Unidos, no final da década de 1960. A diferença é que os hippies queriam mudar o mundo de forma radical, mais parecida a uma rebeldia típica de jovens contra os pais antiquados, tanto que mudaram seu pensamento quando ficaram adultos. Na Vila Vagalume não existe isso. “Aqui temos um espaço cultural. Começamos em novembro do ano passado com eventos musicais, depois passamos a servir comida vegana e agora estamos organizando oficinas de artesanato todo final de semana. Já teve oficina de pintura de vasos e de cosméticos naturais”, falou Breno.
“Pregamos o cooperativismo e somos contra o consumismo e os produtos industrializados porque entendemos que são ruins para o planeta e para as pessoas. Muitos dos produtos do dia a dia, nós mesmos fazemos, como o sabão em pó e a pasta de dente. Nossas roupas e sapatos são comprados em brechós e evitamos ao máximo gastar dinheiro”, contou Flávia, que tem como inspiração a americana Lauren Singer. Graduada em Estudos Ambientais, a nova-iorquina Lauren Singer sempre se incomodava quando seus colegas traziam embalagens de alimentos para a sala de aula e as jogavam no lixo, ao fim do dia. Foi então que viu a quantidade de embalagens que ela mesma utilizava em sua casa.
Percebendo-se uma grande hipócrita, por falar sobre sustentabilidade e meio ambiente e não aplicar esses conceitos em seu dia a dia, a garota, então com 23 anos decidiu mudar. Em 2012 Lauren adotou o estilo de vida lixo zero.
Dia após dia ela se acostumou a negar recibos de papel, sacolas plásticas e folhetos. Além disso, Lauren descobriu as vantagens dos alimentos produzidos localmente, e adotar um estilo de vida muito mais simples. Segundo ela, os resultados dessa mudança de hábitos foram: economia de dinheiro; alimentação melhor; e se sentir mais feliz por agir de acordo com os conceitos sustentáveis em que acredita.
Enquanto isso, em Manaus, o pessoal da Vila Vagalume quer ir mais longe. “Nosso próximo passo é criar uma ecovila, em algum sítio nas proximidades da cidade, onde não exista dinheiro”, adiantou Flávia. O Vila Vagalume funciona às terças-feiras, servindo comida vegana, e às quintas, no happy hour, apresenta cantores e músicos dos mais variados estilos musicais, das 18h às 23h. Quem desejar se integrar ao movimento Lixo Zero será bem-vindo. Av. Fernão Dias Paes, 80, Dom Pedro I.
O que fazer?
De acordo com a definição proposta pela Zero Waste International Alliance (ZWIA), o conceito Lixo Zero representa um objetivo ético, econômico, pedagógico, eficiente e visionário focado na orientação da sociedade para a mudança do estilo de vida e para práticas que incentivem a sustentabilidade, em que todos os materiais são encaminhados e reinseridos na cadeia produtiva.
Encaminhe corretamente: Busque informações a respeito da coleta seletiva da sua cidade, onde estão localizadas as cooperativas de catadores, comporte seu resíduo orgânico, procure pontos de destinação de resíduos especiais. Organize e higienize seus resíduos para evitar a proliferação de mau cheiro e outros vetores.
Composte: conjunto de técnicas aplicadas para estimular a decomposição de materiais orgânicos, com a finalidade de obter adubo. É uma forma de reciclar o resíduo orgânico contribuindo para evitar o esgotamento do solo e propiciando adubo de excelente qualidade. Algumas das técnicas são a compostagem seca e a vermicompostagem.
Determinação e Pró-atividade: Busque entender a realidade da sua cidade: há coleta seletiva? Existem catadores? Cooperativas de reciclagem? Existem pontos de entrega para resíduos que precisam de tratamento diferenciado?