O veleiro Witness, do Greenpeace, fez parte da Expedição Costa Amazônica Viva, em março deste ano. Foto: Enrico Marone/Greenpeace
Em agosto de 2019, o litoral do Nordeste brasileiro foi palco de um dos maiores desastres ambientais já registrados na costa do país. Um derramamento de petróleo que, além de destruir ecossistemas e impactar a vida de milhares de pessoas, demonstrou o despreparo e a inação das autoridades diante de uma crise ambiental de tamanha magnitude.
Cinco anos depois, o impacto desse crime ambiental ainda é sentido nas praias, nos recifes de corais, nos manguezais e, sobretudo, nas comunidades que dependem desses ambientes para sobreviver.
Uma Linha do Tempo de descaso
2019
- Agosto: As primeiras manchas de óleo aparecem nas praias do Nordeste. Comunidades locais e turistas são surpreendidos pela ausência de respostas efetivas por parte do governo local e federal.
- Setembro a Outubro: O óleo atinge diversos ecossistemas marinhos, como manguezais e recifes de corais. As ações de limpeza e contenção são lideradas por pescadores, voluntários, ONGs e outras iniciativas populares.
- Novembro: Relatórios revelam a extensão do desastre e a falta de ação coordenada do governo brasileiro.
2020 e além
- As consequências do derramamento de óleo continuam a afetar o meio ambiente e a saúde pública. As comunidades atingidas enfrentam desafios econômicos e sociais significativos.
- Vila de pescadores artesanais e de frutos do mar em Barra de Serinhaém, no sul da Bahia, sente os efeitos da queda na venda de pescados, após o vazamento de óleo cru que atingiu o local no segundo semestre de 2019.
Voluntários em ação
A operação de limpeza e contenção do óleo contou com a participação ativa de voluntários que enfrentaram inúmeras dificuldades para minimizar os danos. Entre eles, Rodolfo Rodrigo, voluntário do Greenpeace Brasil, que compartilhou alguns dos desafios vividos durante as operações em Fortaleza:
“Nós observamos três principais dificuldades: a falta de informações por parte do governo, que inclusive chegou a acusar ONGs pelo derramamento de óleo, promovendo desinformação; a ausência de assistência especializada; e a dificuldade de acesso aos inúmeros locais atingidos”, relata Rodolfo. “Muitas das ações que minimizaram os impactos partiram de empresas, ONGs, brigadistas florestais e da própria população, como os pescadores”.
Rodolfo também descreveu momentos emocionantes, como o resgate de animais marinhos afetados pelo óleo. Em um deles, a equipe foi chamada para tentar salvar uma tartaruga coberta com óleo na comunidade do Serviluz, no Ceará. No entanto, devido à falta de assistência especializada, o animal não resistiu.
“Foi um dos momentos mais difíceis para nossa equipe”, lembra Rodolfo. “Ver a vida marinha tão gravemente afetada, com tartarugas cobertas por uma substância que parecia piche ou óleo industrial, foi desolador”.
Agora, uma nova ameaça de crime ambiental surge na Foz do Amazonas, onde projetos de exploração de petróleo colocam em risco centenas de quilômetros de manguezais, regiões costeiras e a vida marinha.
“O desastre no Nordeste deixa claro a necessidade de políticas públicas mais robustas e eficientes para a proteção das zonas costeiras e das questões socioambientais de modo geral. Para que não tenhamos mais cenários apocalípticos como esse do Nordeste oriundo do óleo, vamos continuar defendendo que o desenvolvimento do Brasil deva estar baseado numa matriz energética renovável, na economia circular, no melhor aproveitamento dos recursos naturais e na potencialização das economias e atividades sustentáveis que já existem nos territórios”.
Uma expedição recente conduzida pelo Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá (IEPA) analisou a hidrodinâmica da Bacia da Foz do Amazonas. A pesquisa demonstrou que qualquer vazamento de óleo na região pode se espalhar rapidamente por Guiana Francesa, Suriname, Guiana e até águas caribenhas, com impactos irreversíveis às comunidades costeiras e à biodiversidade marinha.
Enquanto isso, comunidades da Guiana Francesa já manifestaram preocupação sobre os impactos potenciais de um derramamento na costa amazônica, destacando a importância da biodiversidade marinha para sua subsistência e renda.
*Com informações do Greenpeace Brasil