O que resta de floresta em Rondônia está nas áreas protegidas, mostra estudo

Rondônia é um exemplo claro da importância das Terras Indígenas e das Unidades de Conservação como escudos de proteção da floresta.

Foto: Marizilda Cruppe/Greenpeace

No trajeto até a Terra Indígena (TI) Karipuna, em Rondônia, antes de ultrapassar o limite demarcado do território, há pastagem e gado. Ao cruzar a linha que marca a entrada da área protegida, a floresta é retomada.

O mapa de Rondônia mostra que o estado inteiro é assim. As áreas protegidas funcionam como um escudo para a floresta, uma linha invisível que impede – não totalmente, mas de forma significativa – o desmatamento que avança no restante do estado. 

Leia também: Clareira de desmatamento é encontrada em Terra Indígena Karipuna

Os dados da plataforma MapBiomas mostram que, entre 1985 e 2024, a agropecuária avançou muito mais fora das terras indígenas (TIs) e das unidades de conservação (UCs) de Rondônia do que dentro delas. 

Nas TIs, a área ocupada pela agropecuária aumentou 499 km² — menos de 0,8% da extensão total desses territórios. Fora das terras indígenas, o aumento foi de 76.492 km², o equivalente a 41% da área não indígena. Um avanço mais de 50 vezes maior.

No caso das UCs, o crescimento foi de 5.127 km² dentro das unidades de conservação (cerca de 6% da área total) e de 71.888 km² fora delas (aproximadamente 40%). Ou seja, a expansão da agropecuária foi mais de seis vezes maior fora das UCs do que dentro.

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O custo de proteger a floresta é alto para os povos indígenas. Homologada em 1991 e com quase dois milhões de hectares, a TI Uru-Eu-Wau-Wau é sobreposta ao Parque Nacional de Pacaás Novos, a maior unidade de conservação de Rondônia. A região está entre as mais pressionadas pelo agronegócio e pela extração ilegal de madeira. As invasões são constantes, assim como o risco de conflito com grileiros e madeireiros. 

Demarcação de terras em Rondônia

No caso das unidades de conservação, mesmo aquelas de proteção integral — que não permitem o uso direto dos recursos naturais, nem por populações tradicionais ou locais —, sofrem pressões crescentes, inclusive do próprio Estado. Desde pelo menos 2020, a InfoAmazonia registra tentativas do governo de Rondônia de reduzir duas das principais áreas protegidas do estado: a Reserva Extrativista (Resex) Jaci-Paraná e o Parque Estadual Guajará-Mirim. 

Em maio deste ano, os deputados da Assembleia Legislativa de Rondônia (ALE-RO) aprovaram a Lei Complementar nº 1.274/2025, que anula automaticamente todas as multas e processos por infrações ambientais cometidas dentro da Resex Jaci-Paraná. Há, ainda, o caso do secretário-adjunto de Desenvolvimento Ambiental do Estado de Rondônia, Gilmar Oliveira de Souza, que pode estar envolvido em uma das maiores grilagens já identificadas dentro de uma unidade de conservação na Amazônia, na Resex Rio Cautário. 

De certa forma, esse cenário se repete em toda a Amazônia, em que as áreas protegidas funcionam como um escudo para a floresta — mesmo sob ataque constante. Por isso, os povos indígenas defendem que a demarcação de terras seja reconhecida como uma política climática e levam esse debate para a COP30. É também por isso que afirmam: “A resposta somos nós”

COP em mapas

Este é um dos episódios da série COP em Mapas da InfoAmazonia que traz dados sobre a COP30. Veja mais mapas que explicam o clima e a COP aqui.

*O conteúdo foi originalmente publicado pela InfoAmazonia, produzido por Carolina Dantas, Carolina Passos e Renata Hirota

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