Floresta biodiversa produz mais carbono, diz estudo

Um grupo internacional de pesquisadores acaba de dar a primeira demonstração em escala global de que quem se preocupa com o clima precisa também se preocupar com a conservação da biodiversidade. Eles estudaram florestas em 44 países e concluíram que, quanto mais elas perdem espécies, menos conseguem fixar carbono. Não apenas isso: o benefício global da biodiversidade para a manutenção da produção de madeira foi estimado em US$ 396 bilhões a US$ 579 ao ano, cinco vezes mais que o custo da conservação.

O estudo, liderado por Jingjing Liang, da Universidade da Virgínia Ocidental, nos EUA, foi publicado na edição on-line da revista científica Science. Ele envolveu um pequeno exército de pesquisadores – 85 ao todo –, que analisaram dados de 777 mil parcelas de florestas em todos os continentes, da Amazônia ao Nepal, da Califórnia ao Congo. No total, foram 30 milhões de árvores inventariadas, de 8.737 espécies diferentes.

Tanto esforço foi para buscar responder se algo que vários estudos já vinham mostrando aqui e ali – que a biodiversidade está diretamente relacionada à produtividade de uma floresta – era uma verdade generalizável para os bosques de toda a Terra.

Recentemente, por exemplo, trabalhos do grupo do biólogo paraense Carlos Peres, da Universidade de East Anglia (Reino Unido), mostraram que a riqueza da fauna amazônica está ligada à densidade de carbono das florestas, e que a caça sistemática tem tornado essas matas mais “ralas” ao alvejar animais maiores, que dispersam as sementes das árvores de grande porte.

O levantamento global olhou apenas árvores, não bichos, mas mostrou que a relação é verdadeira em todo o mundo: onde quer que haja uma floresta, sua produtividade estará fortemente relacionada com sua biodiversidade. Pela mesma moeda, a perda de espécies e populações reduz o vigor da mata. “A capacidade de sequestrar carbono vai sendo significativamente impactada com as extinções locais”, afirmou o ecólogo Daniel Piotto, da UFSB (Universidade Federal do Sul da Bahia), coautor do novo estudo.

Também ficou claro que o impacto da erosão de espécies é maior em florestas menos biodiversas, como as temperadas. “O efeito de perder 25% das espécies na Europa é muito maior do que na Bahia, porque aqui nós temos redundância funcional [várias espécies que desempenham papéis semelhantes no ecossistema]” disse Piotto.

Segundo ele, a pesquisa mostra que conservar a biodiversidade é um ótimo negócio para quem está interessado em proteger o clima, e unidades de conservação têm um papel importante na fixação de carbono.

Para o trabalho de valoração, que chegou à estimativa dos US$ 396 bilhões por ano, o grupo usou dados da FAO (órgão da ONU para Agricultura e Alimentação) segundo os quais a riqueza produzida pelas florestas do mundo é de US$ 606 bilhões por ano. O impacto médio global das extinções foi estimado em 2,1% a 3,1% de perda de produtividade para cada 10% de redução de biodiversidade, o que equivaleria a pelo menos US$ 13 bilhões por ano.

Um cenário hipotético no qual 99% da diversidade fosse perdida causaria perdas de 62% a 78% na produtividade, produzindo o valor mínimo de US$ 396 bilhões para os serviços da biodiversidade.

Os próprios autores do estudo admitem tratar-se de uma estimativa “grosseira”, mas que sublinha o argumento central: é mais barato conservar do que correr atrás do prejuízo depois.

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