Extração ilegal de madeira aumentou 19% na Amazônia

As áreas de exploração madeireira foram identificadas e mapeadas por meio de imagens de satélite e contrapostas às autorizações de exploração emitidas pelos órgãos ambientais.

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

A área com extração ilegal de madeira na Amazônia cresceu 19% em um ano, passando de 106 mil hectares entre agosto de 2021 e julho de 2022 para 126 mil hectares entre agosto de 2022 e julho de 2023. O total equivale à retirada de madeira em 350 campos de futebol por dia sem autorização dos órgãos ambientais. As informações lançadas durante o 8º Fórum de Soluções em Legalidade Florestal – O Futuro das Florestas na Amazônia, foram compiladas pelo Sistema de Monitoramento da Exploração Madeireira (Simex), a cargo de uma rede de organizações de pesquisa ambiental: ICV, Idesam, Imaflora e Imazon.

As áreas de exploração madeireira foram identificadas e mapeadas por meio de imagens de satélite e contrapostas às autorizações de exploração emitidas pelos órgãos ambientais. O Simex é o principal indicador da atividade madeireira legal e ilegal na região amazônica. Os índices reúnem informações de sete estados (Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia e Roraima).

No total, a área de florestas nativas explorada para fins madeireiros foi de 366 mil hectares, sendo 65% de forma legalizada. Mato Grosso liderou no quesito extensão de área florestal dedicada à exploração madeireira, com 60%, ou cerca de 200 mil hectares. Em seguida, ficaram Pará e Amazonas – 14%, cada um, na casa dos 50 mil hectares.

Veja o infográfico completo:

Perfil da ilegalidade

A maior parte da extração ilegal (71%) aconteceu em imóveis rurais privados. Ou seja, os principais protagonistas dessa prática criminosa estão identificados em cadastros públicos e são passíveis de responsabilização. Nessa categoria, em torno de 650 imóveis estão envolvidos na extração ilegal, sendo que apenas 20 deles responderam por quase um terço dos ilícitos.

O segundo tipo de território mais afetado pela extração criminosa foram as Terras Indígenas (com 16%), categoria mais atingida entre as áreas protegidas. As TIs Kaxarari e Tenharim Marmelos lideram o ranking e, não por acaso, ambas se situam em zona de influência da BR-319. As TIs são áreas de proteção integral, apenas para utilização indireta dos recursos naturais, com o objetivo de preservar os modos de vida dos povos tradicionais e a biodiversidade. No entanto, viram alvo fácil do crime, que invade esses territórios, promove degradação e ameaça os indígenas.

Ameaça ao mercado e às comunidades

André Vianna, diretor-técnico do Idesam, destaca que a exploração predatória afeta a oferta legal de madeira. “Há uma exposição a situações de risco para os trabalhadores que participam da atividade ilegal aliada a um impacto extremamente negativo para o mercado. O produto ilegal compete com a madeira licenciada, prejudicando todo o setor, tanto pelo achatamento do preço quanto em termos reputacionais, o que dificulta o acesso a mercados que valorizam o produto e pagam mais por ele.”

O cenário se agrava quando associado à constatação de uma queda de 17% na área de exploração autorizada, que passou de 288 mil hectares entre agosto de 2021 e julho de 2022 para 239 mil hectares entre agosto de 2022 e julho de 2023. Para Leonardo Sobral, diretor Florestal do Imaflora, aumentar o manejo florestal responsável é o caminho para combater as ilegalidades na extração madeireira e gerar benefícios para todo o planeta. “Com o acirramento das mudanças climáticas, o manejo florestal é fundamental para reduzir emissões e conservar a floresta em pé enquanto gera renda e desenvolvimento social. A extração ilegal leva à degradação, aumentando riscos de incêndios, perda de biodiversidade e conflitos fundiários.”

Dalton Cardoso, pesquisador do Imazon, destaca que a exploração madeireira realizada a partir de planos de manejo autorizados pelos órgãos ambientais precisa ocorrer de forma sustentável, gerar empregos e pagar impostos. “É muito importante que os governos criem mecanismos para incentivar a atividade legalizada e fiscalizá-la de forma efetiva. O aumento da ilegalidade gera danos ambientais, ameaça povos e comunidades tradicionais e enfraquece o setor madeireiro, além de prejudicar a imagem do país no mercado internacional”, afirma.

Forte queda na produção

A atividade madeireira foi objeto de um segundo mapeamento, também apresentado no 8º Fórum de Soluções. Produzido pela plataforma Timberflow, mantida pelo Imaflora e dirigida a operadores de mercado, esse mapeamento aponta recuo na produção madeireira da Amazônia. Segundo o levantamento, entre janeiro e dezembro de 2023, a extração de produtos madeireiros na região atingiu seu mais baixo patamar desde 2010, passando de uma média de 10 a 12 milhões de metros cúbicos de madeira em tora para 5,8 milhões de metros cúbicos.

Veja o estudo completo:

Baseada em dados oficiais, como o Documento de Origem Florestal (DOF) e a Guia Florestal (GF), que registram origem e transporte de produtos madeireiros da Amazônia, a plataforma acaba de ser redesenhada, com apoio de especialistas da Universidade de São Paulo, para utilizar modelos matemáticos que permitem aos compradores da madeira amazônica dimensionar a probabilidade do risco de ilegalidade em algum elo da sua cadeia de fornecimento.

Várias hipóteses se combinam para explicar a grande queda na produção em 2023. A primeira, apontada inclusive por produtores, é que a demanda caiu e os estoques estão altos no mercado interno, responsável por 92% do consumo. A segunda tem a ver com a imagem da madeira nativa. Poucos entendem que a produção madeireira sustentável é possível (e desejável), e o medo de envolvimento com madeira ilegal alimenta o surgimento gradativo de matérias-primas substitutas e mais baratas. “Um terceiro fator é a falta de uma estratégia para o setor, envolvendo atores públicos e privados. É preciso conectar as iniciativas públicas, como o impulso às concessões, a estratégias de valorização da atividade e de fomento do mercado, ou o futuro da atividade estará fortemente comprometido”, alerta Sobral.

A retração no consumo está presente no mercado interno e externo. E tem como agravante a concentração de 50% da demanda em apenas oito das mais de mil espécies madeireiras que a Amazônia oferece. As campeãs desse ranking são ipê, tauari e maçaranduba – o que prenuncia novos problemas para o setor. É que o ipê e o cumaru foram incluídos no Anexo 2 da Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies de Fauna e Flora Selvagens em Perigo de Extinção. Com manejo responsável, elas podem ser exploradas, mas os produtores temem uma reação do mercado semelhante à que ocorreu quando o mogno brasileiro foi incluído nessa lista e simplesmente perdeu toda demanda.

Baseada em dados oficiais, como o Documento de Origem Florestal (DOF) e a Guia Florestal (GF), que registram origem e transporte de produtos madeireiros da Amazônia, a plataforma acaba de ser redesenhada, com apoio de especialistas da Universidade de São Paulo, para utilizar modelos matemáticos que permitem aos compradores da madeira amazônica dimensionar a probabilidade do risco de ilegalidade em algum elo da sua cadeia de fornecimento.

Várias hipóteses se combinam para explicar a grande queda na produção em 2023. A primeira, apontada inclusive por produtores, é que a demanda caiu e os estoques estão altos no mercado interno, responsável por 92% do consumo. A segunda tem a ver com a imagem da madeira nativa. Poucos entendem que a produção madeireira sustentável é possível (e desejável), e o medo de envolvimento com madeira ilegal alimenta o surgimento gradativo de matérias-primas substitutas e mais baratas. “Um terceiro fator é a falta de uma estratégia para o setor, envolvendo atores públicos e privados. É preciso conectar as iniciativas públicas, como o impulso às concessões, a estratégias de valorização da atividade e de fomento do mercado, ou o futuro da atividade estará fortemente comprometido”, alerta Sobral.

A retração no consumo está presente no mercado interno e externo. E tem como agravante a concentração de 50% da demanda em apenas oito das mais de mil espécies madeireiras que a Amazônia oferece. As campeãs desse ranking são ipê, tauari e maçaranduba – o que prenuncia novos problemas para o setor. É que o ipê e o cumaru foram incluídos no Anexo 2 da Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies de Fauna e Flora Selvagens em Perigo de Extinção. Com manejo responsável, elas podem ser exploradas, mas os produtores temem uma reação do mercado semelhante à que ocorreu quando o mogno brasileiro foi incluído nessa lista e simplesmente perdeu toda demanda.

Virada estratégica

“As pesquisas divulgadas indicam que o mercado de madeiras nativas da Amazônia está diante de desafios importantes. O 8º Fórum de Soluções é um espaço voltado a pensar em como desenvolver e amadurecer estrategicamente a atividade madeireira legal”, afirma Sobral. Ele ressalta que o manejo florestal é uma solução, sobretudo para a região de maior pressão na Amazônia. “As áreas de interior, com floresta conservada e sem pressão para desmatamento, podem encontrar outros caminhos de desenvolvimento econômico e social. O desafio são as regiões florestais sob pressão de desmatamento, na fronteira da atividade ilegal e predatória”, explica.

A busca de conformidade legal, a melhoria na transparência de informações e a rastreabilidade da madeira nativa são parte fundamental de uma estratégia que visa expandir concessões florestais para realização de manejo florestal por empresas e cooperativas, impedindo que a extração ilegal e predatória se instale. “Além dos benefícios diretos que as concessões florestais trazem para as comunidades locais, elas também garantem a origem sustentável da madeira. Por isso, estabelecemos uma meta ambiciosa: expandir as concessões de 1,3 milhão para cerca de 5 milhões de hectares nos próximos anos”, diz Renato Rosenberg, diretor de Concessões Florestais e Monitoramento do Serviço Florestal Brasileiro.

*Com informações da Imazon

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