De acordo com o estudo, desde 2009, a bacia dos rios Amazonas e Solimões registrou 7 das 10 maiores cheias da região. Fenômeno é explicado pela diferença de temperatura dos oceanos.
Em 40 anos, a extensão das áreas inundadas ao longo da várzea da Amazônia Central cresceu 26%. O dado foi apontado por pesquisadores do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM), vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, no artigo publicado na IOPscience.
O hidrólogo e pesquisador Ayan Fleischmann explica que este fenômeno acontece todos os anos na região da bacia do rio Amazonas e do rio Solimões. “Desde 2009, tivemos sete das dez maiores cheias que foram registradas na região”.
Segundo ele, o processo hidroclimático utilizado para explicar o aumento das chuvas está relacionado ao aquecimento de parte do Oceano Atlântico e ao resfriamento de parte do Oceano Pacífico.
“A diferença de temperatura dos oceanos leva a este fluxo de umidade em direção ao norte da Amazônia, que causou o aumento das chuvas nos últimos anos”,
afirma.
As inundações podem durar meses dependendo da configuração geográfica, com impactos socioambientais na região. “A duração dessas inundações varia de lugar para lugar, depende da topografia do terreno e da configuração da paisagem. Há comunidades que ficam meses inteiramente inundadas”, destaca o pesquisador.
Ele acrescenta que as inundações também afetam o ecossistema local uma vez que a flora e a fauna precisam se adaptar às cheias: “Cabe ressaltar que os ecossistemas de várzea possuem uma adaptação bastante marcante a esse poço de inundação”.
Fauna e Flora
Mesmo com a fácil adaptação, algumas espécies arbóreas acostumadas com as cheias estão sofrendo com o aumento do nível da água. De acordo com o pesquisador do Instituto Mamirauá, elas podem deixar de ser adaptáveis às inundações e desaparecer.
“Pode acontecer de essas espécies migrarem ou acabar mudando o tipo de vegetação, alterando todo o ecossistema, como, por exemplo, os peixes e outros animais que se alimentam dessa flora. Por conta das inundações, pode ser que tudo seja modificado ao longo do tempo”,
disse.
População ribeirinha
A população ribeirinha também já sente as mudanças do clima e as consequências das inundações. O aumento das inundações tem provocado a elevação das casas, por exemplo. Além disso, as cheias interferem na alimentação dos ribeirinhos e provocam a migração para localidades menos vulneráveis às cheias: “Existem modificações das mais diversas formas como o padrão de alimentação, a migração para um sistema de extrativismo na terra firme, que é menos suscetível às inundações, ou até mesmo para o cultivo agrícola, mais resistente às inundações”.