Especialista faz alerta sobre mudanças climáticas no Acre

Com novembro atípico, fenômeno La Ninã promove mudanças no clima do Acre. Desmatamento e queimadas também são causas importantes para as alterações.

Com um novembro atípico, com poucas chuvas e o pior número de queimadas para o mês nos últimos 24 anos, o professor da Universidade Federal do Acre (UFAC), Foster Brown, faz um alerta para mudanças no clima e destaca a necessidade de uma adaptação. 

O especialista é uma referência na área por ter experiência em geoquímica, ecologia, com ênfase em ecologia aplicada, atuando principalmente nos seguintes temas: mudanças globais, queimadas, sensoriamento remoto, estimativas de desmatamento, uso de florestas, métodos de verificação do uso da terra.

“Estamos vivendo um período mais parecido com julho do que novembro. Nós temos mudanças de misturas naturais e mudanças provocadas pelo ser humano. É preciso reconhecer que nós estamos dependentes, então nós precisamos nos adaptar”,

diz Foster Brown.

Rio Acre apresenta um nível abaixo para o mês de novembro. Foto: Arthur Santos/Arquivo pessoal

Além das chuvas abaixo do esperado para o período, o Acre registrou mais de 700 focos de queimadas nos oito primeiros dias de novembro. Os dados são do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que monitora o avanço do fogo em todo país. Com esse número, o Acre tem pior novembro de queimadas dos últimos 24 anos.

“Por causa das variações que acontecem naturalmente é mais difícil vê a contribuição do ser humano, mas temos desde a década de 70 um aumento de temperatura aqui nessa parte da Amazônia. Estamos com um aumento de meio grau por década”, comenta.

Outro fator que contribui ainda mais para a sensação de calor no estado é o desmatamento e, consequentemente, a perda de vegetação. O desmatamento no Acre aumentou 13% em 2021, segundo o Relatório Anual de Desmatamento no Brasil (RAD), do MapBiomas. Dados do levantamento apontam que o estado perdeu 64.147 hectares da cobertura de vegetação nativa no período.

Brown exemplifica que a falta de árvores impacta diretamente a sensação térmica. Para entender melhor, ele dá o exemplo de uma área e pasto – que é desmatada – e a floresta, que é uma área arborizada.

“No meio-dia, se você anda na floresta percebe que a sensação térmica lá é diferente do que estar em um pasto no mesmo horário. É nisso que o desmatamento afeta, inclusive, o ciclo da água, especialmente na seca. Porque na floresta tem sistema radicular, porque as raízes vão bem mais fundo do que a grama, que é do pasto”, 

destaca.

Ausência de chuvas

Mudanças no clima, aumento de queimadas e poucas chuvas nos primeiros 14 dias de novembro. O Rio Acre registrou, somente este ano, quatro cotas históricas na maior seca do estado, sendo três vezes em setembro, e uma em outubro, quando chegou a 1,25 metro. “Nós temos circulação de ventos, as chuvas que caem normalmente agosto, setembro, outubro vem principalmente na direção do oceano Atlântico e passa em cima das florestas no Pará, eles ficam recarregado com umidade. Se não tem essas florestas, a recarga fica menor e nós temos menos chuvas aqui”, comenta Brown.

Para tentar diminuir esses impactos ambientais, o pesquisador diz que algumas medidas precisam ser tomadas e até comportamentos: “Precisamos reduzir o nosso impacto em duas áreas; uma é o efeito estufa, dióxido de carbono e gás carbônico que estão aumentando consideravelmente. O segundo passo é tentar controlar o desmatamento, que tem um efeito imediato”.

COP27

As soluções para problemas climáticos estão em debate durante a Conferência sobre as Mudanças Climáticas da Organização das Nações Unidas (COP27), realizada até 19 de novembro em Sharm El Sheik, no Egito, Uma delegação do Acre está no encontro e o governador do Estado, Gladson Cameli, também chegou ao país e, durante entrevista, reforçou o compromisso com o desenvolvimento sustentável aliado à geração de emprego e renda no estado.

“O governo do Estado do Acre tem um olhar voltado para as políticas ambientais e todos os compromissos firmados serão cumpridos. Para nós, da Amazônia, o financiamento das políticas de sustentabilidade deve ser fortalecido e ampliado”, destacou em site oficial do governo.

Também no mesmo encontro a Secretaria de Meio Ambiente e das Políticas Indígenas (Semapi), celebrou a assinatura do Termo de Cooperação Técnica (ACT) com o Earth Innovation Institute (EEI), que garantirá o apoio para criação da Unidade de Conservação de Uso Sustentável, da Floresta Estadual do Afluente, no Seringal Jurupari, situado entre os municípios de Manoel Urbano e Feijó.

*Por Paulo Henrique Nascimento, do g1 Acre 

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