Em Manaus, pesquisadores produzem Casa Ecológica de baixo impacto

O  Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Inpa) apresenta soluções tecnológicas para a construção de Casa Ecológica de baixo impacto na região. O protótipo da casa foi apresentado pelo idealizador do projeto, o engenheiro civil e pesquisador do Inpa, há 36 anos, Ruy Sá Ribeiro, a representantes do Exército, Aeronáutica e Marinha no último dia 1° de dezembro durante o 1° Workshop Proamazônia.

O evento, promovido pelo Comando Militar da Amazônia (CMA) no Centro de Convenções Vasco Vasques, objetivou ao Inpa apresentar produtos resistentes e de baixo impacto que podem ser utilizados na construção, nos recursos hídricos e na alimentação, a fim de reduzir a degradação do meio ambiente para a construção de imóveis.

Pesquisador Ruy Sá Ribeiro aponta muitas opções para os produtos alternativos regionais. Foto: Walter Mendes/Jornal do Commercio
Valor natural

Com durabilidade de 50 anos, a Casa Ecológica possui 42 m², pode ser montado com painéis pré-moldados em 48 horas e seu custo mínimo é de R$ 24.000,00. Sá explicou, durante o evento que uma casa do programa Minha Casa Minha Vida, tem uma área 10 m² a menos que uma ecológica. Ela não possui varanda, captação e reutilização das águas das chuvas, e não possui estação de tratamento ecológico de esgoto. Chegando a custar R$ 160.000,00 a mais. 

Estrutura verde

A casa ecológica é fabricada a partir do Bambu -considerado um aço verde, tijolo vegetal, biocompósito de madeira e purificador de água -para que ele possa substituir a madeira, visto que a utilização da mesma, principalmente na região Amazônia, e no resto do Brasil, tem um custo muito alto. “Por mais que todo mundo diga que a madeira é utilizada para construir casa de ‘pobre’, só quem compra esse material é o rico, por ser muito caro. Para se ter uma ideia, o metro cúbico da madeira custa hoje duas vezes mais que o metro cúbico do concreto”, informa o pesquisador.

Sá explicou que os painéis de paredes da casa ecológica são autoportantes -com capacidade de se suportar a sim mesmo -em uma estrutura toda de Bambu. Além dos colmos e as janelas, que possuem réguas com suporte em uma mistura de barro e bambu.

“A gente não só trabalha com uma Casa Ecológica, a gente trabalha com um sistema integrado para preservação do meio ambiente. Deixando de utilizar a água potável, para lavagem e em vasos sanitários, gerando uma economia de 30 a 40%”. Durante o evento, o pesquisador disse que descobriu a importância do Bambu na fabricação de fibras, partículas e lâminas em 1999. O mesmo salienta que, além da resistência, esses materiais oferecem maior rigidez ao material compósito desenvolvido, injetando materiais verdes de alta performance. “As fibras naturais têm como características básicas a baixa densidade, o baixo custo, o baixo consumo de energia, além de neutralizar o gás carbônico”, disse Ribeiro.

O pesquisador reforçou ainda, que o bambu é uma planta que pode ser utilizada em diversas áreas: além da construção civil, pode ser empregado como meio de transporte (fabricação de bicicleta), alimentação (palmito), saúde (instrumento de massagem) e em objetos de decoração. “É um recurso renovável, de rápido crescimento e de alto rendimento. E a maturação dessa planta é de quatro anos para utilização na construção civil, na região. No primeiro ano, pode ser usado para fazer palmito. O crescimento da planta varia de 15 cm a 18 cm por dia. Não é exigente e se adapta a qualquer solo”, acrescenta.

O Protótipo

As pesquisas da casa começaram em 2004 com a aprovação do projeto de construção sustentável. E em 2006, foi construído no bosque da Ciência do Inpa o protótipo da primeira Casa Ecológica. Com 42 metros quadrados, o imóvel possui um sistema de captação e utilização de água das chuvas; uma estação de tratamento ecológico de esgoto, através de raízes das plantas. E tudo com o efeito da gravidade, sem a necessidade de adicionar qualquer elemento químico.

E em 2007, foi construída, na reserva Florestal Adolpho Ducke (RFAD), quilômetro 26, da AM-10, que liga Manaus e Itacoatiara, a primeira Vila Ecológica. Para garantir as construções e ter matéria-prima suficiente, foram plantadas 200 mudas do bambu Guadua angustifolia. “O bambu guadua angustifolia é nativo da Amazônia, mas as mudas vieram da Amazônia colombiana por ser uma espécie de melhor qualidade. No Equador e na Colômbia é utilizado na construção”, explica Marilene Ribeiro. Os pesquisadores trabalham com três espécies de bambus: Guadua angustifolia, Dendrocalamus asper e a Bambusa vulgaris.

História e Futuro

O pesquisador explicou que a ideia da Casa Ecológica surgiu antes dele se formar no curso de engenharia, há 36 anos. Sá lembra que ao chegar no Inpa, se especializou na área de engenharia da madeira e com o tempo, migrou para os compósitos híbridos reutilizando os materiais da natureza nas suas respectivas características de resistência. “Acredito que, assim como o concreto é extremamente resistente à compressão; a madeira, a flexão; o bambu, consegue ser tão resistente e mais econômico que esses materiais utilizados convencionalmente”, afirmou ele.

E sobre os avanços da pesquisa, o pesquisador lamentou a falta da presença de representantes do Estado, prefeitura e de empresários da construção civil no evento. “Os únicos que se interessaram pelo projeto da Casa Ecológica foram os representantes do Exército, Aeronáutica a Marinha. E nós lançamos a proposta ao Exército de construirmos as casas, nos pelotões de fronteiras deles, sem licitações e utilização de empresas construtoras. Ao aproveitarmos a própria mão de obra do próprio pessoal do Exército”.

Publicidade
Publicidade

Relacionadas:

Mais acessadas:

O interior de Rondônia não valoriza seus museus

Prédios abandonados e fechados à visitação pública.

Leia também

Publicidade