Dia do Resíduo Zero: como estão as estimativas de resíduos sólidos na Amazônia?

Segundo dados da ONU, estima-se que 11,2 bilhões de toneladas de resíduos sólidos são coletadas globalmente todos os anos.

Comemorado no dia 30 de março, o Dia Internacional do Resíduo Zero, criado pela Assembleia-Geral das Nações Unidas (ONU) em 2022, com o objetivo de promover padrões de consumo e produção sustentáveis, além de incentivar a conscientização e adesão às iniciativas de resíduo zero como contribuição para avançar a Agenda 2030.

Segundo dados da ONU, estima-se que 11,2 bilhões de toneladas de resíduos sólidos são coletadas globalmente todos os anos, contribuindo significativamente para a emissão de gases de efeito estufa em ambientes urbanos e na perda da biodiversidade. Cerca de 931 milhões de toneladas de alimentos são desperdiçadas a cada ano e espera-se que até 37 milhões de toneladas de resíduos plásticos entrem anualmente no oceano até 2040.

Segundo o panorama de 2022 da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), no Brasil foram geradas 81,8 milhões de toneladas, o que corresponde a 224 mil toneladas diárias de Resíduos Sólidos Urbanos (RSU). Com relação à coleta, em 2022 o país registrou um total de 76,1 milhões de toneladas coletadas, levando a uma cobertura de coleta de 93%. 

Entretanto, as Regiões Norte e Nordeste ainda apresentam índices que se aproximam de 83%, deixando boa parte da população sem acesso aos serviços de coleta regular de RSU nessas regiões.

Foto: Reprodução / Abrelpe

Em um estudo publicado em março de 2021, um grupo de investigadores apresentou diagnóstico do atual manejo dos resíduos sólidos urbanos (RSU) nos sete Estados da Amazônia brasileira e confirmaram que a precariedade desse serviço é evidente, não só por estar distante dos ideais previstos na agenda 2030, mas também por se encontrar abaixo da média nacional.

Segundo o Diagnóstico da Gestão e Gerenciamento de Resíduos Sólidos Urbanos, a conclusão é que as primeiras impressões se referem às dificuldades municipais para uma eficiente gestão e gerenciamento dos resíduos sólidos no contexto da área de estudo, além da dificuldade de contato com os respectivos 772 municípios entrevistados. 

“É nítido que grande parte dos municípios não possuem conhecimento acerca de dados básicos como os tipos e quantidades coletadas de resíduos sólidos; a atual infraestrutura para o gerenciamento, tais como veículos, equipamentos, coletores; as modalidades de coleta; as formas de tratamento e de disposição final, e principalmente dos valores referentes aos recursos financeiros (receita orçada, receita arrecadada, despesa pública e despesa privada), entre outros. As inconsistências e/ou falta de informações propiciam tomadas de decisão incoerentes e incorretas, ocasionando diversos impasses que impactam negativamente tanto o meio ambiente, quanto a sociedade civil. Decisões técnicas e políticas públicas necessitam estar amparadas e embasadas em dados corretos e confiáveis”,

revela a conclusão do documento.

 Lixo na Floresta

Um estudo realizado pelo Instituto Mamirauá (IDSM), em 2019, apontou alta quantidade de resíduos sólidos na AmazôniaA pesquisa começou em agosto conduzida pela estudante de Ciências Biológicas da Universidade Estadual do Amazonas (UEA), Zeneide Silva.

“Os resultados propõem um questionamento. Afinal, como que uma garrafa de Coca-Cola como essa, do Peru, vem parar no meio da floresta amazônica três anos depois de fabricada? “, questiona Elias Neto, o coorientador do projeto e pesquisador do Grupo de Pesquisa em Ecologia Florestal do Instituto Mamirauá, organização social fomentada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC).

Para o estudo, Zeneide coletou resí­duos em cinco parcelas, áreas de um hectare cada definidas previamente e onde são realizadas pesquisas do GP Ecologia Florestal. As áreas de amostragem estão localizadas na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, unidade de conservação da região de várzea. 

Foto: Divulgação/ Semulsp

A coleta aconteceu entre os dias 11 e 13 de novembro em metade das parcelas que totalizou 2,5 hectares. Para o campo, os pesquisadores aproveitaram a mesma logística do grupo de pesquisa, que realiza medições anuais nas parcelas. Foi encontrada uma média de 600 gramas de resí­duos sólidos por hectare para esse tipo de floresta de várzea, o equivalente a 60% da produção diária de lixo por pessoa no Brasil.

O número, de acordo com Elias Neto, pode ser considerado alto. “Apesar de não termos outras pesquisas como parâmetro, encontramos uma média de 15 itens de resí­duos por hectare – o que eu considero muita coisa”, avalia.

Os itens encontrados foram variados, como escovas, embalagens de produtos cosméticos, bacias, pedaços de brinquedos, copos e utensílios domésticos. Na composição dos resí­duos, o material se dividiu entre 84% de plástico, 8% de borracha e 8% de isopor. Durante a expedição, também foram coletadas amostras de solo, que estão em fase de análise pela estudante. O objetivo é identificar se há a presença de microplásticos no solo da região, materiais ligados à intoxicação. 

Publicidade
Publicidade

Relacionadas:

Mais acessadas:

Paleontólogo peruano planeja nova expedição à terra do golfinho gigante na Amazônia

A nova expedição seria até a cidade de Pebas, onde foi descoberto o fóssil do maior boto da história, chamado Pebanista yacuruna. Mas desta vez o foco é uma área mais próxima da Colômbia.

Leia também

Publicidade