A demanda por produtos agrícolas e pecuários no Centro-Sul do Brasil pressiona de forma significativa o desmatamento da Amazônia, aponta estudo da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária (FEA) da USP. Os pesquisadores mapearam as relações comerciais com o restante do Brasil e do mundo, para identificar todos os elos da cadeia produtiva. Desse modo, constataram que a procura por produtos e insumos dentro do País, e não apenas as exportações, apresentam um impacto relevante sobre os recursos naturais da região amazônica.
As conclusões do estudo foram publicadas em artigo. Com base nos resultados, os autores do artigo recomendam o aumento das ações de rastreamento da produção agropecuária da Amazônia, hoje restritas a algumas grandes empresas, a fim de mapear também entre os pequenos produtores os impactos do desmatamento.
De acordo com Haddad, a literatura científica tem colocado grande ênfase na demanda externa, ou seja, das exportações que são feitas para outros países de itens produzidos na Amazônia, principalmente da agropecuária.
Pressão da demanda
Os pesquisadores, por meio de uma abordagem sistêmica, mapearam todas as relações de compra e venda nas várias regiões, dentro e fora da Amazônia, e no resto do mundo, de modo a obter uma visão de cadeia de valor.
“Diretamente, demandando por produtos finais, que exercem alguma pressão, especialmente os da agricultura e pecuária, e de forma indireta quando há uso de insumos da floresta que possam pressionar a mudanças no uso da terra, e dessa forma identificamos a relação do Centro-Sul do Brasil com o desmatamento por meio dos fluxos de comércio e das interações econômicas.”
“Essa é uma das questões que levantamos no trabalho: o processo de rastreamento teria que tomar uma escala nacional para chegar até os pequenos produtores”, recomenda o pesquisador da FEA. “A pesquisa demonstra que é possível mapear e rastrear os elos da cadeia produtiva, até chegar, no início do processo, aos pontos que estariam associados ao desmatamento”.
Outro ponto discutido no artigo, que tem a ver com políticas públicas, se refere a consequências não desejadas de algumas medidas, como, por exemplo, a Reforma Tributária, que eventualmente pode gerar pressões sobre os recursos naturais ao desonerar exportações e gerar isenções totais ou parciais sobre produtos agrícolas, caso não haja rastreabilidade ou fiscalização”, explica Haddad.
Participaram do estudo Inácio Araújo, pós-doutorando, Ademir Rocha e Karina Sass, pesquisadores associados do Núcleo de Economia Regional e Urbana (Nereus) da USP, sediado na FEA, e Fernando Perobelli, professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Também colaboraram, por meio do projeto sobre a Nova Economia da Amazônia, da organização World Resources Institute Brasil (WRI Brasil), o economista Rafael Feltran Babieri, da WRI Brasil, e Carlos Nobre, coordenador do projeto e pesquisador do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP.
*O conteúdo foi originalmente publicado pelo Jornal da USP, escrito por Júlio Bernardes