Em seu discurso, a indígena dos Povos Suruí, em Rondônia apontou a necessidade de defender a Amazônia contra o desmatamento
Walelasoetxeige Suruí, ou Txai Suruí, tem 24 anos e é nascida dos Povos Suruí, em Rondônia. Filha de Almir Suruí, uma das lideranças indígenas mais conhecidas pela luta contra o desmatamento na Amazônia.
A jovem ficou mundialmente conhecida após discursar na abertura oficial da Conferência da Cúpula do Clima (COP26) que acontece em Glasgow, na Escócia. Ela expôs o avanço da mudança climática na Amazônia.
No discurso feito na segunda-feira (1), Txai Suruí falou sobre a necessidade de medidas urgentes para frear as mudanças climáticas, além de destacar a importância dos povos indígenas na proteção da Amazônia. Ela também relembrou os ensinamentos recebidos através de seu pai, principalmente sobre a importância de viver em harmonia com a natureza.
“Meu pai, o grande cacique Almir Suruí, me ensinou que devemos ouvir as estrelas, a lua, o vento, os animais e as árvores. Hoje o clima está esquentando, os animais estão desaparecendo, os rios estão morrendo, nossas plantações não florescem como antes. A Terra está falando, ela nos diz que não temos mais tempo”, disse.
Ainda no discurso da COP26, Txai relembrou a morte do indígena Ari Uru-Eu-Wau-Wau, que trabalhava registrando e denunciando extrações ilegais de madeira dentro da aldeia onde morava. Segundo Txai, ele foi morto por defender a floresta.
Txai Suruí está no último semestre do curso de direito na Universidade Federal de Rondônia (Unir). Apesar de ainda não está formada, ela trabalha na parte jurídica da Associação de Defesa Etnoambiental (Kanindé), a entidade que defende a causa indígena em Rondônia.
Além disso, também é fundadora do Movimento da Juventude Indígena de Rondônia. Txai já liderou atos pedindo a saída do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e denunciou o avanço da agropecuária sobre a Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau, em Rondônia.
Nas redes sociais, a jovem indígena expõe várias ameaças que os Povos Suruís sofrem no estado.
“Aqui onde eu sou real ainda invadem nossas terras, atacam nossos direitos, ameaçam nossas vidas, envenenam nossa água e destroem nossa floresta”, escreveu em sua conta no Instagram em 9 de agosto.
Lembram quando falei que agro é morte e sobre as pressões que a TI Uru Eu Wau Wau tá passando? Pois é. Viemos averiguar algumas invasões aqui dentro do território e é isso aqui que encontramos: pic.twitter.com/S9LN3cpB8v
— txai suruí #MarcoTemporalNão (@walela15) September 16, 2021
Nos últimos anos, Txai participou de vários manifestos em defesa dos povos. Inclusive, nos últimos protestos realizados em agosto, quando indígenas ocuparam a Esplanada dos Ministérios, em Brasília, contra medidas que dificultam a demarcação de terras e incentivam atividades de garimpo.
Em 2019, Txai foi apresentar um trabalho acadêmico em uma das principais competições de júri simulado do mundo, o Willem C. Vis International Commercial Arbitration Moost (Vis Moot).
Confira o discurso feito pela ativista na cerimônia de abertura da COP26:
Hoje o clima está esquentando, os animais estão desaparecendo, os rios estão morrendo, nossas plantações não florescem como antes. A Terra está falando. Ela nos diz que não temos mais tempo.
— txai suruí #MarcoTemporalNão (@walela15) November 2, 2021
Uma companheira disse: vamos continuar pensando que com pomadas e analgésicos os golpes de hoje se resolvem, embora saibamos que amanhã a ferida será maior e mais profunda?
Precisamos tomar outro caminho com mudanças corajosas e globais.
Não é 2030 ou 2050, é agora!— txai suruí #MarcoTemporalNão (@walela15) November 2, 2021
Os povos indígenas estão na linha de frente da emergência climática, por isso devemos estar no centro das decisões que acontecem aqui. Nós temos ideias para adiar o fim do mundo.
— txai suruí #MarcoTemporalNão (@walela15) November 2, 2021
Vamos frear as emissões de promessas mentirosas e irresponsáveis; vamos acabar com a poluição das palavras vazias, e vamos lutar por um futuro e um presente habitáveis.
É necessário sempre acreditar que o sonho é possível.
Que a nossa utopia seja um futuro na Terra.— txai suruí #MarcoTemporalNão (@walela15) November 2, 2021