Comunidades rurais de Rio Branco passam a receber água potável após 23 dias sem chuvas significativas

Defesa Civil de Rio Branco começou no dia 17 de junho a levar água para 29 comunidades de diversas regiões da capital. Rio Acre marcou 1,90 metro no dia 18 de junho.

O abastecimento de água em comunidades rurais, que geralmente inicia em julho, começou em 17 de junho em Rio Branco (AC). Sem chuvas significativas há 23 dias, equipes da Defesa Civil Municipal levam para as comunidades carros-pipas para atender os moradores mais afetados.

Na terça dia 18, o nível do Rio Acre na capital acreana chegou a 1,90 metro. No último dia 11, governo do estado decretou emergência por conta da falta de chuvas e do baixo nível dos mananciais em toda a Bacia do Rio Acre, que se encontra em situação de alerta máximo.

Três meses após sofrer com enchentes históricas, o Acre agora está começando a sentir os efeitos de um novo evento climático extremo, a seca. Durante todo o mês de maio, o Rio Acre, principal afluente do estado, ficou abaixo de 4 metros. Agora em junho, o manancial tem atingido marcas ainda mais críticas.

Especialistas ouvidos pelo grupo Rede Amazônica, já apontavam para a possibilidade de seca antecipada antes da publicação do decreto de emergência, quando o Rio Acre marcou 2,52 metros no dia 30 de maio, a menor marca para o mês.

O plano de contingência de escassez hídrica começou atendendo 29 comunidades e a meta é distribuir 30 milhões de litros de água. As comunidades são das seguintes regiões:

  • Panorama
  • Jarbas passarinho
  • Quixadá
  • Adalto Frota
  • Liberdade
  • Vila Manoel Marques
  • Vila Verde
  • Maria Paiva de Moura
  • Ramal do Joca
  • Ramal do Curica
  • Padre Nilson Josua
  • Ramal do Romão
  • Aquiles Peret

Ainda conforme o planejamento da Defesa Civil de Rio Branco, inicialmente, 19 mil pessoas devem ser beneficiadas. Os caminhões vão estar nas comunidades diariamente sob o comando das equipes do órgão municipal.

Moradores começaram a receber água nessa segunda-feira (17) — Foto: Arquivo/Defesa Civil de Rio Branco
Foto: Arquivo/Defesa Civil de Rio Branco

A Defesa Civil Municipal informou ainda que a vistoria nessas comunidades começou no início do mês para contabilizar o número de moradores afetados.

Seca severa

Em junho, o Rio Acre subiu de nível apenas no dia 2 de junho, quando saiu de 2,59 metros para 2,60 metros. Em todos os outros registros, divulgados pela Defesa Civil da capital de forma diária, o cenário é de queda. 

O baixo índice pluviométrico na região contribui para o cenário de seca. O esperado para junho é de que chova 60 milímetros. No entanto, não chove desde o início do mês, o que pode afetar o abastecimento de água, segundo o coordenador estadual da Defesa Civil, coronel Carlos Batista.

“Nós temos redução dos mananciais e com essa redução, dificulta um pouco a captação de água. Então há todo esse problema na agricultura e na pesca”, disse Carlos.

A situação contrasta com a vivenciada no início do ano, quando o manancial transbordou, e o total de chuvas chegou a 438 milímetros.

De acordo com o Monitoramento Hidrometeorológico da Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema), emitido na sexta dia 14 de junho, apenas em Assis Brasil, no interior do estado, houve aumento de 12 centímetros nas últimas 24 horas, saindo de 2,90 metros para 3,02 metros, isto porque houve chuvas de 9,6 milímetros durante este período.

Apesar da oscilação em Assis Brasil, toda a Bacia do Rio Acre está em situação de alerta máximo, com redução no nível. Segundo a Agência Nacional das Águas (ANA), não houve chuvas significativas na região.

De cheia a seca extrema em poucos meses

Brasiléia ficou 80% inundada durante enchente — Foto: Arquivo
 Foto: Arquivo

Todos os locais por onde o rio ‘passa’ registraram enchentes entre fevereiro e março. Em Brasiléia, o município teve cerca de 80% da área inundada entre fevereiro e março e enfrentou a maior enchente de sua história, quando o manancial chegou a 15,58 metros na cidade.

Quase 4 mil pessoas ficaram desabrigadas ou desalojadas. Mais de três meses depois, o nível atual registrado é de 1,13 metro nesta sexta (14), com queda de 10 centímetros desde o início de junho.

Em Xapuri, onde o Rio Acre alcançou 17,07 metros, a última medição aponta para 1,56 metros. Em alguns pontos do manancial, é possível ver bancos de areia [veja abaixo]. A enchente deixou mais de 200 pessoas desabrigadas e outras 545 desalojadas na região. Neste mês, o nível iniciou em 1,71 metros. Ou seja, uma queda de 15 centímetros.

Já em Assis Brasil, o manancial chegou a 13,36 metros com mais de 400 pessoas desabrigadas e quatro bairros atingidos. Já nesta sexta, o nível registrado é de 3,02 metros. A marcação do último dia 2 de junho era de 2,99 metros. A cidade foi a única da Bacia do Rio Acre a registrar índice significativo de chuvas: 31,2 milímetros.

Rio Branco, por fim, foi a cidade onde o Rio Acre apresentou a maior queda em junho [60 centímetros] e a única da Bacia que não registrou chuvas. No dia 6 de março deste ano, o manancial chegava a 17,89 metros, sendo a segunda maior enchente da capital desde 1971. O nível atual desta sexta (14) é de 1,99 metros. Ou seja, quase 16 metros a menos do que foi registrado há mais de três meses.

“Essa é a segunda menor cota para junho, em toda nossa série histórica que começou em 1971, e está a 5 cm da menor cota, que foi de 1,94m, que foi em junho de 2016. A gente vem percebendo que o comportamento do Rio Acre tá em tendência de vazante. Nas demais bacias, os níveis estão em tendência de vazante também”, complementou o coordenador da Defesa Civil estadual.

Falta de chuvas

É preciso entender ainda que as chuvas na região precisam estar dentro da normalidade para o rio poder correr normalmente, o que não acontece atualmente no Rio Acre. Em maio, choveu apenas 56,4 milímetros na capital, o que corresponde a 40% do que era esperado para todo o mês, que era de 108 milímetros.

Esta irregularidade na quantidade de chuvas faz com que aumente a frequência de secas e de cheias. Os sistemas de larga escala, como o El Niño, acabam servindo como ‘catalisadores’, acelerando estes fenômenos climáticos e influenciando nas mudanças do clima.

“Isso implica situações que, além da quantidade normal que temos de água, que irá diminuir, uma parte desta diminuição será decorrente dessas secas, que é quando tem situações de precipitações muito abaixo da média. E o que a gente estima é que isto vá ficar cada vez mais frequente”, disse ao g1 o pesquisador da Agência Nacional das Águas e especialista em regulação de recursos hídricos e saneamento básico, Saulo Aires de Souza.

Em setembro de 2023, foi decretada emergência em áreas que sofriam com a falta d’água, situação esta reconhecida pelo governo federal nos 22 municípios. Este ano, o decreto saiu três meses antes do previsto.

Decreto de emergência

A situação de seca antecipada na Bacia do Rio Acre é pontuada no decreto de emergência, que tem vigência até 31 de dezembro deste ano. O governador Gladson Cameli destaca ainda que:

“A continuidade prevista do baixo volume de precipitação, aliada ao aumento de temperaturas, provoca a redução do armazenamento de água no solo no Estado e potencializa a probabilidade de ocorrência de situações emergenciais e intensificação de secas na região para o período”.

Rio Acre apresenta níveis muito abaixo do esperado para junho, diz Defesa Civil — Foto: Andryo Amaral/Rede Amazônica Acre
 Foto: Andryo Amaral/Rede Amazônica Acre

Em Rio Branco, a Defesa Civil municipal confirmou que, por conta desta possibilidade de seca ‘antecipada’, um plano de contingência de escassez hídrica está pronto para ser colocado em prática. Contudo, detalhes sobre quais medidas fazem parte do plano ainda não foram divulgados.

Em nível estadual, um plano de contingenciamento foi elaborado para este período de seca. No entanto, não especificou o que está sendo planejado.

“Todas as defesas civis municipais também já enviaram pra gente o plano de contingência e a gente está nessa preocupação dessa força-tarefa bem articulada com comando unificado, envolvendo os três níveis de governo pra que a gente venha amenizar, reduzir os impactos do efeito de uma seca, de uma estiagem prolongada, mais para aquelas populações que são mais afetadas”, comentou o coronel Carlos Batista.

O diretor-presidente do Serviço de Água e Esgoto de Rio Branco (Saerb), Enoque Pereira, disse que apesar de o Rio Acre ter previsão de registrar uma cota menor que de 2022, a autarquia trabalha para que a vazão de água seja de 1,5 mil litros por segundo, para não comprometer o abastecimento da cidade.

Histórico de secas

O ano em que o manancial apresentou a menor marca histórica foi em setembro de 2022, quando marcou 1,25 metro. Naquele ano, o rio já estava abaixo dos quatro metros no mês de maio.

O mesmo quadro foi observado em 2016, ano com a segunda pior seca. Em junho daquele ano, dado como a menor cota até então, o nível do rio estava em 1,94 metro e em 17 de setembro atingiu a menor cota histórica da época: 1,30 metro.

“Para o ano de 2024, mesmo com todas as previsões de ser uma das secas mais severas dos últimos anos, o Saerb garante que manterá o abastecimento de Rio Branco, salvo em caso de colapso total do Rio Acre”, complementou.

* Com informações g1 Acre

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