Caranguejos e manguezal em área de parque nacional no Amapá passam a ser monitorados por pesquisadores

Área do Parque Nacional do Cabo Orange tornou-se alvo de pesquisa e avaliações anuais por equipe do ICMBio. Região também recebe aves migratórias da América do Norte.

Um grupo de pesquisadores iniciou uma expedição nesta terça-feira (15) para estudar, pela primeira vez, a saúde de caranguejos e árvores de manguezal no litoral mais ao Norte do país, na Amazônia. O foco do grupo será na Ponta do Mosquito, que fica no Parque Nacional do Cabo Orange. A região fica na foz do Rio Oiapoque e do Rio Uaçá, no Amapá.

O Estado concentra um dos maiores ecossistemas de mangues da região amazônica. A ideia, segundo o analista ambiental do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Paulo Silvestro, é coletar informações na área de cerca de 400 hectares, que não sofre tantas variações naturais por influência do litoral ou humana.

“A gente vai até o mangue, identifica alguns lugares que são mais importantes para o monitoramento, que são áreas estáveis onde o mangue não está sendo impactado e não tem nenhuma variação natural do litoral. Quando a gente retornar, e o mangue estiver com a mesma ‘saúde’, significa que ele tá equilibrado e saudável”, explicou o analista.

O monitoramento será realizado anualmente nesta época do ano pelo ICMBio. A equipe é composta por 14 pessoas e, entre elas, estão pesquisadores e estudantes da Universidade do Estado do Amapá (Ueap), do Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Amapá (Iepa), e monitores da biodiversidade do ICMBio. O grupo também tem apoio de moradores de áreas próximas ao mangue, que serão os guias da viagem até o local.

Parque Nacional do Cabo Orange (PNCO), no Amapá. Foto: Marcus Cunha/ICMBio

Da sede do município de Oiapoque, distante 560 quilômetros de Macapá, a equipe segue em pequenas embarcações pelo Rio Oiapoque até a Ponta do Mosquito, que compreende uma pequena parcela do Parque que possui ao todo cerca de 65 mil hectares.

O período escolhido para a viagem foi previamente definido por considerar que em novembro ocorrem as mudanças mais bruscas no ecossistema, que é a passagem do período de estiagem para o chuvoso.

Silvestro acrescentou que o mangue é uma espécie de transição entre as atividades marítimas para as do continente e que, por isso, poucas espécies se adaptaram para viver nesse tipo de ambiente.

“Ele divide o mar com água salgada, do continente com água doce. Como é um ambiente de divisão, que dificulta a sobrevivência de muitos animais, existem animais que especificamente são preparados e evoluíram para sobreviver nesses lugares”, citou.

Como ocorre o monitoramento

O monitoramento do manguezal envolve dois grupos alvos, que são as árvores e os caranguejos-uçá, predominantes na região. “Sobre o caranguejo, a gente calcula a quantidade de tocas em alguns lugares dentro da área monitorada, além do próprio tamanho deles. Dependendo da quantidade de tocas de um ano pro outro, se diminuir essa quantidade, pode ser reflexo de algum impacto”, detalhou Silvestro.

Essas informações serão passadas para os pesquisadores e eles, a partir dos dados coletados, dirão se existem impactos negativos.

O mangue é um ambiente de transição entre o mar e o continente, entre a água salgada e a doce, nas regiões entre os trópicos de capricórnio e o de câncer em todo o planeta. No Amapá, ocorre entre o Oceano Atlântico e a costa, onde atrás desta existem as áreas de várzea, protegidas pelos mangues.

“Ele surge com o objetivo de proteger o próprio continente de impactos possíveis, como de um tsunami, por exemplo, ou de grandes ondas. Ele também é um berçário de espécies aquáticas, onde peixes, crustáceos e camarões usam para reprodução. O mesmo peixe que a gente consome no mercado, é o mesmo peixe que um dia viveu no mangue”, 

destacou o analista do ICMBio.

Quanto às espécies florestais, o ICMBio terá como alvo as árvores mangue-branco, mangue-vermelho e o negro, que são mais comuns no mangue.

Área de mangue no Parque Nacional do Cabo Orange, no Amapá. Foto: ICMBio/Divulgação

Aves migratórias da América do Norte

O biólogo explicou que o Amapá recebe anualmente algumas espécies de aves que fogem do inverno de países como o Canadá e os Estados Unidos e que passam o verão nesse ponto específico no Norte do Brasil.

“Tem animais que viajam milhares de quilômetros do Canadá e do Alasca (EUA) e vêm pra cá. O maçarico-rasteirinho, maçarico-de-perna-amarela. Do grande e do pequeno, vêm ficar aqui durante o inverno de lá, que tem muita neve e não tem comida”, comentou Silvestro.

O analista disse ainda que as aves ficam no período de fevereiro a março. Após se alimentarem, ganham energia para voar novamente por milhares de quilômetros até o Norte do continente americano.

*Por Rafael Aleixo, do g1 Amapá 

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