Bromélia Guzmania lingulata. Foto: Reprodução/ Reserva da Biosfera da Mata Atlântica
As bromélias são plantas pertencentes à família das bromeliáceas, a qual se divide em 56 gêneros subdivididos em mais de 3 mil espécies. Algumas bromélias podem ser terrestres, conseguem crescer diretamente sobre rochas, mas principalmente se desenvolvem escoradas em outras plantas, como as árvores. A Amazônia não apresenta uma variedade tão grande de bromélias, quando comparado com outros biomas tropicais, mas você sabia que elas também são essenciais para o meio ambiente amazônico?
As flores da bromélia são simétricas, com sépalas (partes externas e geralmente verdes de uma flor, que envolvem e protegem as estruturas reprodutivas enquanto a flor está em botão) que contrastam com as pétalas, numerosas e muito coloridas. Os frutos têm forma de baga, às vezes de cápsula, e raramente são múltiplos e carnosos. Algumas bromélias são comestíveis: o abacaxi, por exemplo, é uma bromélia muito comum.
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A beleza das bromélias é destacada por suas cores e formatos, tornando-as atrações em jardins e como plantas de interior (decoração). Elas podem ser plantadas em vasos ou então presas a troncos e xaxins. No Brasil, é encontrada uma grande diversidade de bromélias, mas você pode encontrá-las com mais facilidade nos biomas da Mata Atlântica e Cerrado.
Na Amazônia, elas podem ser vistas em regiões perto dos igarapés, em areais e áreas de igapó. Em Presidente Figueiredo, município do estado do Amazonas, é muito comum encontrá-las, por ser uma região rochosa e arenosa.
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Por que as bromélias são importantes para a Amazônia?
O professor de biologia da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e mestre em botânica, João Victor Rodrigues, explicou ao Portal Amazônia que as bromélias são fundamentais para o funcionamento da natureza devido à suas habilidades como planta na natureza.
As bromélias, por se utilizarem de outras plantas, como as árvores, para se fixar, são vistas de forma equivocada como parasitas. Porém, elas não retiram nenhum nutrientes da planta suporte, como as parasitas verdadeiras. Elas, pelo contrário, atuam como micro-habitat para diversas espécies, e geram diversos benefícios, segundo o pesquisador.
O biólogo informa que na estrutura em formato de roseta das bromélias, normalmente existe um acúmulo de água que é muito importante para a ecologia e que essas plantas coletam umidade pelas folhas, com suas características anatômicas específicas, e assim absorvem os nutrientes.
“A forma de roseta facilita a concentração de água, servindo de abrigo para diversos componentes da natureza, como larvas de insetos, nematóides (vermes microscópios), sapos e outros pequenos insetos aquáticos. A bromélia também serve como um bebedouro para os animais, já que absorvem muita água e, eles usufruem desse benefício para hidratação”, informou.
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De acordo com Rodrigues, as bromélias auxiliam na manutenção da cadeia alimentar, pois muitas espécies possuem relações ecológicas com aquelas que dependem diretamente das bromélias.
O biólogo exemplificou quatro espécies de bromélias encontradas na Amazônia, sendo duas conhecidas e duas raras:

Bromélias comuns:
Guzmania lingulata
A estrela-escarlate é uma planta de caule verde, de porte pequeno, vive sobre outra planta. Da família do abacaxi (Bromeliaceae), nativa de habitats de floresta tropical nas Américas tropicais e nas Índias Ocidentais. A palavra latina lingulata significa “em forma de língua” e se refere às folhas.
Ela apresenta características diferentes das demais Bromeliaceae da Floresta Nacional (FLONA) de Caxiuanã, no Pará, pois:
- Formam-se em hastes de diferentes comprimentos e são densamente agrupadas e muito próximas umas das outras;
- Folhas em formato de língua;
- Flores amarelo-pálidas;
- Estames que ficam situados sobre as pétalas, com filetes reduzidos;
- e sementes específicas que as ajudam na dispersão, na cor castanho-avermelhados.

Araeococcus micranthus
Essa bromélia pode ser encontrada nas florestas úmidas e nas bacias dos rios Orinoco e Amazonas, distribuindo-se em vários tipos de florestas, entre 80–470 metros de altitude. Na Amazônia, são comuns no Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso e Pará.
Pode ser facilmente distinguida das demais Bromeliaceae de Caxiuanã por apresentar:
- Roseta cilíndrica, delgada (fina);
- Folhas com formato linear;
- Com espinhos quase invisíveis e esparsos nas margens.
Além disso, as flores chamam bastante atenção por seu formato característico. Elas se organizam em um tipo de cacho mais solto, com hastes levemente onduladas. As flores têm pétalas separadas, de cor amarela, com três linhas bem visíveis no centro, e são sustentadas por uma haste longa, de tom castanho-avermelhado.
Bromélias raras:

Pitcairnia
Quase todas as espécies de Pitcairnia vivem no solo ou sobre rochas, geralmente em locais úmidos e com pouca luz. No Brasil, essas plantas apresentam uma distribuição bem definida, ligada às diferentes regiões de vegetação do país.
Estudos iniciais feitos a partir de herbários e da literatura científica mostram que, na Floresta Amazônica, existem 18 espécies de Pitcairnia, sendo a maioria praticamente exclusiva dessa região.
Brocchinia hechtioides
É uma das poucas espécies de bromélias carnívoras do mundo, sendo a outra espécie a Brocchinia reducta. O cheiro, a cor e o formato atraem insetos que, ao serem capturados, são absorvidos como nutriente para a planta.
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*Com informações da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica; do artigo ‘Pitcairnia L’Hér. (Bromeliaceae): uma nova espécie, P. azouryi Martinelli & Forzza, e observações sobre P. encholirioides L. B. Sm.’, de Gustavo Martinelli e Rafaela Canpostrini Forzza (Herbário Barbosa Rodrigues, Rio de Janeiro); e do biólogo mestre em botânica João Victor Rodrigues.
**Por Karla Ximenes, estagiária sob supervisão de Clarissa Bacellar
