O Amazonas registra as três maiores cheias que ocorreram nos últimos 12 anos.
Nesta data, 13 de outubro, celebra-se o Dia Internacional para a Redução de Grandes Catástrofes Naturais (IDDR, na sigla em inglês). De 1989, ano em que a Organização das Nações Unidas instituiu esta celebração, até 2009 esta data celebrava-se na segunda quarta-feira do mês de outubro. No ano de 2009, a Assembleia Geral das Nações Unidas estipulou o dia 13 de outubro como data fixa para esta comemoração. Esta problemática é de uma complexidade elevada, portanto todos os países são chamados a participar na elaboração de um conjunto de estratégias globais.
A celebração deste dia reveste-se de extrema importância, pois é essencial que todos os Estados adotem políticas que visem a prevenção e a mitigação de danos humanos e materiais, diretamente resultantes da ocorrência de desastres naturais de grande escala. A promoção de uma cultura global de consciencialização para a prevenção de risco, para a noção de vulnerabilidade e resiliência pode levar à redução do risco da ocorrência de danos materiais e da perda de vidas humanas, formando comunidades cada vez mais capazes na antecipação e na resposta.
O Brasil é um dos países mais atingidos por desastres hidrológicos, como inundações e enchentes, de acordo com o Centro de Pesquisa em Epidemiologia de Desastres (CRED).
Cheias históricas no Amazonas
A bacia Amazônica tem experimentado cheias e vazantes mais intensas nas últimas três décadas e eventos extremos ocorrem em intervalos menores. Com base nos registros feitos no Porto de Manaus, no início do século 20, os eventos de cheias severas (maiores de 29 metros, que representa a cota de emergência) aconteciam num intervalo de 20 anos. Já no início do século 21, esse intervalo diminuiu para 4 anos.
As três maiores cheias registradas no Porto de Manaus (2009: 29,77 metros; 2012: 29,97 m e 2021: 30,02 m) ocorreram nos últimos 12 anos. Sete cheias extremas (2012, 2013, 2014, 2015, 2017, 2019 e 2021) alcançaram ou ultrapassaram a cota de emergência nos últimos 10 anos. Especialistas, ao verificarem o aumento na descarga dos rios durante a estação chuvosa, chamaram esse fenômeno de ‘intensificação do ciclo hidrológico’. Por conta desse fenômeno, ao comparar com as décadas anteriores, houve um aumento significativo da amplitude anual de mais ou menos 1,5 metro.
Intensificação do ciclo hidrológico
De acordo com o Schongart, o aumento da magnitude e frequência de eventos de cheias severas na região da Amazônia Central durante as últimas três décadas, chamado de ‘intensificação do ciclo hidrológico’, é resultado de uma complexa interação dos grandes oceanos que influenciam por meio do aquecimento e esfriamento das suas águas superficiais grandes circulações atmosféricas influenciando a convecção de nuvens, chuvas e o regime hidrológico dos rios na Bacia Amazônica.
“A intensificação do ciclo hidrológico na maior hidrobacia do mundo é em boa parte influenciada pela variação natural das condições oceanográficas, mas a ciência mostrou evidências da influência antrópica por meio de mudanças climáticas globais na intensificação do ciclo hidrológico”, explicou o pesquisador.
Neste ano, o esfriamento anormal das águas superficiais do Pacífico Equatorial na região central-leste, conhecido como La Niña, contribuiu, junto com as águas superficiais do Atlântico Tropical aquecidas, numa maior convecção de nuvens e chuva em boa parte da bacia Amazônica. O resultado é o expressivo aumento da amplitude a partir no nível mínimo da água registrado no Porto de Manaus (16,60 m), no ano passado.
“O nível da água de hoje (09/04/2021) já está mais que 11 m acima do nível mínimo da água do ano passado (27,75 m) e ainda vai aumentar até meados de junho. Somente nos anos das três maiores cheias históricas registradas em Manaus em 2012 (29,97 m), seguido de 2009 (29,77 m) e 1953 (29,69 m), o nível da água foi maior nesta data em comparação com 2021”, contou Schongart.
O pesquisador lembra que a intensificação do ciclo hidrológico é um grande desafio para as políticas públicas que precisam ser ajustadas à essa nova realidade. As previsões sazonais de pico de cheias com um longo tempo de antecedência fornecem uma ferramenta confiável para as políticas públicas e os tomadores de decisão para prevenir e mitigar os impactos causados por estes eventos severos nas populações urbanas e rurais e nos setores socioeconômicos.
“Isso é de fundamental importância para o desenvolvimento sustentável da região amazônica, cada vez mais impactada por extremos eventos hidro-climáticos”.
O Amazonas tem 62 municípios. Cinquenta e oito foram invadidos pelos rios Negro e Solimões, sendo que 26 ficaram em situação de emergência. Foram 455 mil pessoas atingidas de alguma maneira.