Jacu-estalo-de-bico-vermelho. Foto: Luis Morais/Acervo pessoal do biólogo
Ao longo de seus mais de 500 milhões de hectares, a região amazônica abriga uma enorme diversidade de espécies e muitas delas ainda nem chegaram a ser descritas pela ciência. Conhecidas como “aves fantasmas”, algumas espécies de aves na Amazônia são dificilmente encontradas e estudadas por ornitólogos.
📲 Confira o canal do Portal Amazônia no WhatsApp
Por quê ‘fantasmas’?
Os motivos são diversos: as populações destas espécies podem ser endêmicas de uma determinada parte do bioma, o que diminui o número de ocorrências, também existem comportamentos furtivos (camuflagem ou disfarce) e vocalizações discretas.
Algumas dessas aves contam com pouquíssimos registros fotográficos realizados por ornitólogos, o profissional que estuda as aves, o que pode ocasionar lacunas significativas no conhecimento científico sobre seus hábitos, distribuição e status de conservação.
O Portal Amazônia selecionou oito aves ‘fantasmas’. Confira a seguir:
Leia também: Conheça 12 pássaros que vivem na zona urbana de Manaus
1. Bicudo-encarnado (Periporphyrus enrythromelas)
O bicudo-encarnado é uma espécie da família dos cardinalídeos. Ele ocorre no nordeste da Amazônia, incluindo a Venezuela. Possui um tamanho médio e habitam floresta alta.
Ambos os sexos possuem um bico grosso preto. Porém, enquanto os machos possuem plumagem vermelha, a fêmea possui plumagem amarelo e oliva. A coloração camuflada e o comportamento discreto dificultam avistamentos.

Leia também: Orelhas? Chifres? Conheça a coruja-de-crista, ave que se destaca por característica peculiar
2. Choca-de-garganta-preta (Clytoctantes atrogularis)
A choca-de-garganta-preta é outro exemplo de espécie pouco conhecida. Restrita a uma região entre o Acre e o sudoeste do Amazonas, essa ave insetívora costuma habitar vegetações densas.
Desde sua descoberta, não existem dados suficientes sobre seus hábitos reprodutivos. Sua vocalização é fraca e de baixa frequência, dificultando a localização mesmo com equipamentos de bioacústica.

Leia também: 10 curiosidades sobre o tucano-toco, o maior dos tucanos
3. Jacu-estalo-de-bico-vermelho (Neomorphus pucheranii)
Pertencente à família dos cucos terrestres, o jacu-estalo-de-bico-vermelho daemite sons que lembram estalos de madeira e habita o solo de florestas densas e úmidas. Apesar de seu porte relativamente grande, é uma das aves mais difíceis de serem encontradas em campo.
Costuma seguir trilhas de mamíferos e se alimentam de insetos, pequenos vertebrados e frutas caídas. Sua distribuição é esparsa, indo da bacia do rio Madeira, em Rondônia até o norte do Peru.

Leia também: Registro raro de ave em parque no Acre contribui para novas pesquisas sobre a espécie
4. Papagaio-de-cabeça-laranja (Pyrilia aurantiocephala)
Descrito apenas em 2002, o papagaio-de-cabeça-laranja ocorre em regiões de floresta tropical na divisa entre o Pará e o Maranhão, incluindo áreas de transição com o cerrado.
Apesar de ser uma espécie de papagaio, grupo geralmente barulhento, este é mais discreto. É detectado principalmente por vocalizações durante o voo. Sua dieta é baseada em frutos, e ainda há poucas informações sobre seu comportamento social e reprodução.

Leia também: 10 curiosidades sobre o tucano-toco, o maior dos tucanos
5. Corneteiro-da-mata (Liosceles thoracicus)
Outro membro da lista é o corneteiro-da-mata, que pertence à família dos tapaculos. Ele vive em florestas primárias e secundárias e é mais frequentemente identificado por seu canto alto, repetitivo e grave, semelhante a um toque de corneta abafado. Alimenta-se de insetos e outros invertebrados. A espécie é sensível à degradação do habitat.

Leia também: Beija-flor ou pica-flor? Conheça 3 fatos curiosos sobre a popular ave na Amazônia
6. Freirinha-de-cabeça-castanha (Nonnula amaurocephala)
A freirinha-de-cabeça-castanha é uma das menores e menos conhecidas aves amazônicas. Vive em estratos baixos da floresta e permanece imóvel por longos períodos, comportamento que contribui para sua baixa taxa de detecção. Insetívora, captura presas em voo curto. Seus registros se concentram em uma faixa restrita do sudoeste da Amazônia, e pouco se sabe sobre sua reprodução.

Leia também: Conheça o gavião-real: A maior águia das Américas e que desfila sua realeza pela floresta amazônica
7. Barbudo-de-coleira (Malacoptila semicincta)
Da família Bucconidae, o barbudo-de-coleira também é pouco registrado. Alimenta-se de insetos e pequenos artrópodes. Seu canto é suave, emitido com intervalos longos, o que o torna fácil de ser confundido com sons ambientes. Costuma permanecer em áreas com densa vegetação, o que dificulta ainda mais seu avistamento.

Leia também: Tangará-do-oeste, ave presente na Colômbia e no Peru, é registrada pela primeira vez na Amazônia brasileira
8. Mãe-de-taoca-cristada (Rhegmatorhina cristata)
Fechando a lista está a mãe-de-taoca-cristada, uma espécie especializada em seguir formigas de correição para capturar presas que fogem do enxame. Seu canto é repetitivo e metálico, mas apenas emitido durante períodos de alimentação ativa, o que reduz sua visualização em momentos de baixa atividade das formigas.

Leia também: Em rara aparição, câmeras flagram filhotes de ariranha em área de monitoramento no Pará; vídeo
Características em comum
Essas oito espécies de ave têm em comum a extrema dificuldade de serem localizadas, o que pode resultar tanto de baixa densidade populacional quanto de comportamentos naturalmente evasivos. Algumas delas constam em listas de espécies ameaçadas, mas a escassez de dados impede avaliações precisas sobre o risco real de extinção.
A documentação dessas aves depende de esforços contínuos de pesquisa de campo, monitoramento bioacústico e conservação de seus habitats.