Atraso na desova de tartarugas em Rondônia por causa das queimadas pode fazer filhotes se afogarem

Somente com a redução dos focos de calor, em outubro, as tartarugas se deslocaram até a praia para depositar os ovos.

Foto: Reprodução

As queimadas em Rondônia causaram o atraso de quase dois meses na formação dos ninhos de tartarugas às margens do rio Guaporé, entre os municípios de Costa Marques e São Francisco do Guaporé, na fronteira com a Bolívia. As equipes de monitoramento temem que os filhotes ainda não estejam prontos quando as chuvas começarem a cair e o nível do rio voltar subir.

Normalmente a desova das tartarugas-da-amazônia ocorre entre agosto e setembro. O período até a eclosão dura, em média, 60 dias. Com o atraso na desova, o risco, agora, é que o nascimento dos filhotes coincida com o período de chuvas e os ovos, enterrados na areia, fiquem soterrados e elas não consigam subir até a superfície para respirar.

Segundo o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), o tabuleiro de desova do rio Guaporé é o maior do país. As tartarugas se espalham por quatro praias: Ilha, Alta, Suja e Tartaruguinha.

Deyvid explica que a fumaça alterou a temperatura e a luminosidade do ambiente, impossibilitando a criação do “cenário ideal” para a desova das tartarugas no período regular.

Somente com a redução dos focos de calor, em outubro, as tartarugas se deslocaram até a praia para depositar os ovos. Com o período de cheias dos rios se aproximando, existe o risco de que a água alcance os ninhos antes que os filhotes estejam prontos.

“O fenômeno de mortalidade de filhotes já ocorre em períodos normais, mas costuma afetar apenas uma pequena quantidade. No entanto, neste cenário atual, o atraso na desova causado pelas mudanças climáticas pode resultar em um aumento significativo dessas mortes”, revela o biólogo.

Foto: Divulgação

O ciclo das tartarugas e seus desafios

As tartarugas que desovam às margens do rio Guaporé, entre os munícipios de São Francisco do Guaporé e Costa Marques, na fronteira com a Bolívia, e se espalham pela região em busca de alimento, mas sempre voltam ao mesmo local para reproduzir. Segundo o biólogo Deyvid Muller, esse comportamento é vital para a preservação da espécie.

“Elas retornam ao local onde nasceram, assim como as tartarugas marinhas. Se o ambiente mudar, como com o avanço da civilização, isso pode comprometer a desova”, explicou.
Segundo o especialista, o atraso deste ano pode resultar, inclusive, no desequilíbrio da proporção de machos e fêmeas.

A ONG Ecovale, com apoio de prefeituras e instituições locais, segue monitorando os ninhos até o fim de dezembro. Além do trabalho de monitoramento, a ONG promove ações de conscientização, como eventos de soltura de filhotes, que visam sensibilizar a população sobre a importância da preservação das tartarugas da Amazônia.

*Por Caio Pereira, da Rede Amazônica RO

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