Nos últimos anos, a madeira se transformou em uma espécie de commodity da região. Foto: Felipe Werneck – Ibama/Wikimedia Commons
Região que se estende por oito países além do Brasil e com características sociais, econômicas e geográficas bastante peculiares, a Amazônia tem se tornado uma nova fronteira para a atuação de grupos criminosos.
📲 Confira o canal do Portal Amazônia no WhatsApp
Para entender melhor essa região e os diferentes tipos de crimes cometidos nela, o USP Analisa conversou com o professor e pesquisador do Núcleo de Estudos Amazônicos da Universidade de Brasília, Franco Perazzoni, e com o perito criminal federal Herbert Dittmar.
Crimes florestais
Eles explicam que os principais crimes na Amazônia basicamente são:
- desmatamento ilegal,
- garimpo ilegal
- e grilagem de terras.
Porém, não é uma prática recente. Suas raízes estão na própria colonização do Brasil por Portugal e houve uma intensificação de algumas das práticas durante o governo militar, graças ao projeto de ocupação da região e à criação da Rodovia Transamazônica, na década de 1970.
“O governo militar praticamente jogou um pessoal da região Sul lá, sem apoio nenhum. Eu conheci alguns deles morando no Sul do Amazonas que disseram ter recebido um lote de cem hectares nessa época, mas não tiveram ajuda para se estabelecer. Muitas famílias precisaram se ajudar, e várias foram embora. Se hoje já é difícil, imagina naquela época, sem estrada, sem apoio, sem hospital, sem nada. E depois chega o Estado no início deste século e diz que desmatamento é crime. Aí o pessoal se revoltou: ‘Que história é essa? Nós viemos aqui, vocês disseram que era para desmatar e agora estão dizendo que é crime?’”, conta Dittmar.
Leia também: Imagens inéditas mostram áreas destruídas pelo garimpo ilegal na Terra Yanomami quase 3 anos após emergência

Lucratividade ilegal
Além disso, segundo Perazzoni, nos últimos anos, a madeira se transformou em uma espécie de commodity da Amazônia.
“Nos últimos 20 anos, há o esgotamento de reservas de madeira em outros lugares do mundo. A nossa madeira é muito boa, mas é vendida a preço de banana. A gente vende o nosso ipê mais barato do que o pinus norte-americano. Por quê? Porque ele existe em boa quantidade. A gente começa de algo que sobrava da ocupação da terra para produção, para passar a ser uma commodity”, explica.
Leia também: Extração ilegal de madeira aumentou 19% na Amazônia
A alta lucratividade e a baixa punibilidade associadas ao garimpo ilegal também ampliaram o interesse de grupos criminosos pelo ouro nessa região.
“Por exemplo, legalmente, se eu não me engano, Roraima não produz uma grama de ouro. Você não tem permissão de lavra garimpeira lá, é tudo legalizado em outros lugares. É uma região que tem um dos índices de desenvolvimento humano mais baixo do Brasil. As comunidades tradicionais, às vezes, estão em cima de uma mina de dinheiro. Então você tem esse assédio do crime organizado, você tem alta lucratividade e baixa punibilidade de vários desses crimes”, diz.
“Eu sempre brinco, se o traficante pega uma avioneta e pode trazer uma tonelada de ouro e uma tonelada de droga, o que é melhor? Ouro é mais fácil de legalizar, a pena é muito menor, dá muito mais lucro e pesa a mesma coisa”, completa Perazzoni.
Ouça a entrevista completa no Podcast Jornal da USP no Ar.
*O conteúdo foi originalmente publicado pelo Jornal da USP, escrito por
