Em seu discurso, acompanhado por povos indígenas de vários países, o líder da Igreja Católica disse que a região é uma “terra ameaçada” em diversas frentes, como a “forte pressão dos grandes interesses econômicos que dirigem sua avidez para o petróleo, o gás, o ouro e as monoculturas agroindustriais” ou “certas políticas” que promovem a conservação da natureza “sem levar em conta o ser humano”.
“Provavelmente, os povos originários da Amazônia nunca estiveram tão ameaçados em seus territórios como agora”, declarou o Papa, denunciando a falta de alternativas para os indígenas, muitas vezes forçados a migrar para áreas urbanas para garantir sua sobrevivência.
“Devemos quebrar o paradigma histórico que considera a Amazônia como uma despensa inesgotável dos Estados”, acrescentou. O encontro foi marcado pelo Vaticano já pensando no Sínodo dos Bispos convocado por Francisco para outubro de 2019, quando a Igreja discutirá “novos caminhos para a evangelização” dos povos amazônicos.
A proteção da natureza é uma das bandeiras do pontificado de Jorge Bergoglio, que dedicou sua primeira encíclica, a “Louvado seja”, ao tema da preservação ambiental. “É imprescindível realizar esforços para dar vida a espaços institucionais de respeito, reconhecimento e diálogo com os povos nativos, assumindo e resgatando cultura, língua, tradições, direitos e espiritualidade que os caracterizam”, disse o Papa nesta sexta.
O encontro em Puerto Maldonado reuniu cerca de 4 mil membros de diversos povos da Amazônia, que receberam Francisco com cantos e danças de boas-vindas. O Pontífice entregou a cada grupo uma versão da “Louvado seja” traduzida para seu próprio idioma – entre eles estavam representantes dos jaminauás e dos caxinauás, indígenas que vivem no estado do Acre, norte do Brasil.
“Desejei muito esse encontro, obrigado pela sua presença e por me ajudarem a ver mais de perto, em seus rostos, o reflexo dessa terra. Um rosto plural, de uma infinita variedade e de uma enorme riqueza biológica, cultural e espiritual”, destacou Francisco.
O Papa também usou a ocasião para denunciar a exploração contra indígenas por meio da escravidão e do abuso sexual e as “pressões” para que alguns países promovam “políticas de esterilização” de mulheres.
“Sabemos que [os povos indígenas de isolamento voluntário] são os mais vulneráveis entre os vulneráveis. A herança de épocas passadas os obrigou a se isolar até da própria etnia, iniciando uma história de reclusão nos locais mais inacessíveis da floresta para viver em liberdade”, disse.
Para completar, Francisco defendeu a criação de uma “Igreja com rosto amazônico e indígena”, que não seja estranha ao modo de vida e à cultura dos povos locais. “Com esse espírito, convoquei o Sínodo para a Amazônia de 2019”, afirmou.